Quando voltei para a editora, deixei minhas bolsas das comprar na minha mesa e corri para o banheiro, a vontade de chorar estava gritando e eu não conseguiria suportar por mais tempo, precisava desabafar esses sentimentos que estavam me deixando maluca.
Por quanto tempo eu precisaria passar por isso até esquecer que Ellen existiu em minha vida? Como era possível eu estar tão apegada a ela, sendo que nos vimos poucas vezes? Nossos encontros sempre foram casuais, nenhuma das duas tinha intenção de sair lesionada dessa pequena aventura.
Aparentemente, ambas estavam sofrendo, ou então ela sabia fingir de mais. Mas qual razão ela teria pra fazer isso? Ellen era uma mulher deslumbrante, linda, elegante, rica e talentosa, o que ela mais deveria ter era gente caindo aos seus pés. Por que ela insistia tanto em mim? O que eu tinha de diferente?
Trancada em uma das cabines do banheiro, chorei, chorei como se não houvesse amanhã, não me preocupei com a maquiagem que borraria nem com os soluços que hora ou outra eu deixava escapar pelos lábios. Eu estava apaixonada por Ellen, não tinha um jeito fácil de admitir isso, não havia forma de eu sair dessa situação ilesa. Eu estava machucada e agora precisava tomar uma decisão.
Escolho me curar na base da dor e evitar futuros sofrimentos? Ou decido optar pela vulnerabilidade, curar essa ferida com amor, desfrutando de tudo que eu poderia viver com Ellen? Dando uma nova chance para continuarmos nos conhecendo, permitindo que essa paixão ficasse cada vez mais potente e sólida...
Era uma decisão extremamente difícil e quanto mais eu pensava, mais doía. Definitivamente, eu não queria sentir isso pelos próximos meses da minha vida. Eu estava com meu orgulho ferido, mas meu coração ansiava pelo toque de Ellen em minha pele, pelos seus lábios grudados nos meus, pelo seu cheiro invadindo minhas narinas. Eu precisava daquela mulher.
Respirei fundo e deixei a última lágrima cair, não choraria mais por isso, as coisas seriam do meu jeito. Sequei o rosto com papel higiênico e peguei meu celular no bolso, suspirei e abri o contato de Ellen no meu aparelho. Eu faria mesmo isso, mas não aceitaria que as coisas fossem do jeito dela dessa vez, eu tomaria as rédeas do que quer que fôssemos ter.
Cliquei para discar e coloquei o telefone no ouvido, só me restava torcer para que ela atendesse e aceitasse o que eu estava prestes a propor. Os segundos nunca demoraram tanto a passar quanto naquele momento.
— Alô? — A voz de Ellen surgiu do outro lado da linha. Eu fiz silêncio por alguns segundos, tentando recobrar a consciência do que eu ia dizer. A voz daquela mulher já me fazia estremecer. — Julie?
— Ellen, oi. — As palavras pareciam me faltar. Cadê a coragem que tinha tomado conta de mim minutos atrás?
— Oi... por que ligou? — Ela estava claramente curiosa e confusa.
— Eu acho que precisamos conversar, Ellen. Não dá pra ficarmos desse jeito, não quero continuar sofrendo e imagino que você também não. Podemos nos encontrar na minha casa hoje a noite? — Falei.
— Claro, claro, Julie. Eu também acho que precisamos conversar, você me passa o endereço? Posso te pegar pra irmos juntas, se quiser.
— Eu prefiro te passar o endereço e nos encontramos lá.
— Eu vou ficar esperando ansiosamente. — Ellen disse eufórica do outro lado da linha e eu senti meu coração muito mais acelerado do que o normal. Eu precisava manter meu autocontrole para sobreviver a essa noite, iríamos apenas conversar e eu não poderia permitir que fôssemos além disso, ainda que minha vontade de tê-la dentro de mim fosse gritante.
Graças aos céus, o horário passou voando. Logo eu já estava a caminho de casa com minhas bolsas da Ellen Shoes. Estava ansiosa e com frio na barriga. Eu saí da editora às 17h e ao enviar o endereço da minha casa pra Ellen, pedi a ela que chegasse às 19h30. Queria ter tempo de chegar em casa e me arrumar para recebê-la.
Agradeci mentalmente a mim mesma por estar com a casa organizada, assim eu não precisaria fazer nada quando chegasse. No caminho, fui pensando no que eu queria comer, mas não conseguia tomar uma decisão porque minha concentração nunca durava muito tempo. Acabava sendo conduzida a planejar o que eu falaria pra Ellen e como levaria essa conversa que estávamos prestes a ter.
Confesso que eu não queria encontrar com Ellen em um lugar público, achava que a gente merecia certa privacidade para conversar sobre o que aconteceu, sobre o que estamos sentindo, e termos mais liberdade para nos tocarmos, caso isso realmente ocorra. Só que eu não suportava ainda me imaginar em seu apartamento, era muito difícil pra mim me imaginar lá novamente.
Um dia, esse sentimento com certeza cessaria, mas ainda não era o caso e eu precisava que Ellen respeitasse isso. Por isso, propus o encontro no meu apartamento, claro que não era nem um terço de onde ela morava, mas eu não me importava com isso, era meu lugar, o canto que conquistei com meu próprio trabalho.
Deixei meus sapatos na porta quando entrei em casa e calcei minha pantufa, havia aprendido recentemente sobre a importância de não entrarmos em casa com os sapatos que acabamos de usar na rua. Descobri que, dessa forma, levamos até 85% menos de poeira, toxinas e sujeiras para dentro de casa.
Eu sempre acreditei que nosso lar é sagrado, então fazia sentido para mim adotar essa prática. Futuramente, eu tinha vontade de colocar um pequeno sapateiro de madeira na entrada, daqueles que a gente pode se sentar para retirar os calçados e colocar as pantufas.
Tomei um bom banho e aproveitei para lavar o meu cabelo bem rapidamente. Passei o secador nele ainda enrolada na toalha, não ia me produzir toda nem nada, mas queria me sentir bem com minha aparência para reforçar ainda mais a minha autoconfiança na hora de expor meus sentimentos para Ellen. Eu precisava ter essa coragem, não podia ceder aos meus desejos de beijá-la e esquecer, simplesmente, tudo o que aconteceu.
Quando meu cabelo estava quase totalmente seco, desliguei o aparelho e o coloquei em cima da minha cama, indo direto para o meu closet para decidir o que eu vestiria naquele momento.
Optei pelo que sempre dava certo: um short de linho off white e uma camiseta de alcinha de camurça de cor beige. Pintei os lábios com um tom de rosa envelhecido e passei o rímel para que meus cílios ficassem mais volumosos.
Eu me sentia linda, preparada para o que estava prestes a vir. Peguei meu celular e me sentei no sofá da sala, me restava agora esperar a hora chegar e pensar no que eu gostaria de comer. Bom, pra ser sincera, você deve saber bem o que eu gostaria de comer, mas não tinha pretensão de recomeçarmos assim, não... eu precisava ser mais difícil de agora em diante.
Poucos minutos depois, Ellen me mandou uma mensagem dizendo que estava perto, ela chegaria antes do combinado, mas eu não me importava com isso, era até bom porque aliviava os meus sintomas de ansiedade.
Respirei fundo algumas vezes depois de atender o interfone e liberar a sua entrada, eu estava prestes a reencontrar a mulher por quem eu, certamente, estava apaixonada.
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Foi daqui que pediram mais um capítulo? Tem muita gente nova chegando, sejam bem vindas! Fiquem à vontade para compartilhar a opinião de vcs e não esqueçam de me ajudar com os votos. Até o próximo capítulo, bjssss
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À sua disposição (Romance sáfico)
ChickLitJulie Rodrigues é uma jovem de 26 anos que é apaixonada por uma marca de sapatos. É formada em Letras e trabalha como revisora de uma editora do Rio de Janeiro. Ellen Gardner é estilista e dona da marca de sapatos que Julie tanto ama. Ellen é determ...