Assistir filme com Julie foi de longe uma das sensações mais gostosas que eu já experimentei na minha vida. Fiquei super feliz quando ela aceitou o convite e mais ainda quando percebi que tinha feito a escolha certa em convidá-la para ir ao cinema.
No início do filme, senti que ela ficou um pouco tímida para encostar em mim, mas fomos comendo a pipoca e tomando o refrigerante até não aguentarmos mais. Coloquei a caixa quase vazia em um canto e o espaço entre nós ficou livre, sem obstáculos. Ela repousou o braço sobre o apoio e eu senti que aquela era minha chance.
Coloquei meu braço ao lado do dela e fiz um esforço para os nossos dedos se tocarem e ver a reação dela. Quando encostei minha mão na dela, Julie olhou para mim timidamente, a sala de cinema estava escura e eu não sei dizer o que estava acontecendo na tela porque estava muito mais preocupada em me aproximar daquela mulher linda.
Olhei para ela também e ficamos trocando olhares e sorrisos tímidos por alguns segundos, até que me ajeitei na poltrona e cheguei mais perto dela. Segurei seu rosto delicadamente com uma das mãos, fazendo um carinho em sua bochecha com meu polegar. Julie fechou os olhos com um sorriso escapando pelo canto da boca e eu não consegui resistir, puxei o rosto dela para mais perto e trocamos um beijo calmo e carinhoso.
Aos poucos, fui introduzindo minha língua em sua boca e sentindo o quanto ela estava quente. Continuei segurando o rosto de Julie e logo senti sua mão sobre meu braço em um movimento de vai e vem. Aquele toque dela era o suficiente para me deixar toda derretida. A vontade real que eu tinha era de levantar dali e irmos embora para um lugar reservado, mas não podíamos pular etapas.
Eu queria fazer as coisas do jeito certo com Julie e isso significava ter encontros como esse, conhecer ela e permitir que ela me conhecesse também. Precisávamos criar um vínculo que vá muito além da química sexual que já existia entre nós duas.
Para falar a verdade, eu estava muito envolvida com Julie e não sentia mais vontade de esconder isso. E sim, se tudo continuasse dando certo, e eu esperava que sim, eu tinha planos de apresentá-la a minha família e, quem sabe, contar a verdade sobre quem eu sou para os meus pais.
Eu merecia viver essa felicidade. Apesar de sentir muito medo, não estava disposta a perder meus pais, mas estava entendendo aos poucos que eu não podia viver presa dentro de um armário por medo de eles não me aceitarem. Eu tinha que confiar no amor que eles sentiam por mim. No início, pode ser que seja difícil, mas eu esperava que ao longo do tempo eles fossem entendendo e aceitando quem eu sou.
Não é sobre grau de importância. Acho que meu erro com Olívia foi demonstrar que meus pais eram muito mais importantes para mim do que ela e agora entendi que não é sobre isso. São sentimentos totalmente diferentes, são amores e formas de amar super distintas. A questão é que assim como meus pais formaram a família deles, agora eu sentia necessidade de formar a minha.
Eu não podia me condenar a uma vida de infelicidade, a uma sozinha ou com algum homem, contra minha vontade, só para fingir que sou alguém que não sou e garantir que meus pais não se decepcionem comigo. Qualquer que fosse a reação deles, eu tinha que entender que isso não é sobre mim, é sobre eles. E são eles que vão precisar lidar com a minha forma de amar.
O nosso beijo naquela sala de cinema durou bem menos do que eu gostaria. Ao se desvencilhar de mim com alguns selinhos, Julie sorriu e sussurrou:
— Eu adoraria continuar esse momento, Ellen, mas teremos oportunidade para isso. O ingresso foi caro demais pra gente não assistir ao filme.
— Droga, verdade. — Eu falei com tom de marra e ela riu mais uma vez.
Aquele beijo com certeza rompeu com algumas barreiras porque Julie chegou ainda mais perto de mim, entrelaçou nossos braços e recostou sua cabeça em meu ombro. Era exatamente isso o que eu estava buscando, alguém para ter em mim um porto seguro, alguém que buscasse meu toque como carinho, alguém que se sentisse feliz com minha simples presença. E eu também queria alguém assim pra mim.
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À sua disposição (Romance sáfico)
Literatura FemininaJulie Rodrigues é uma jovem de 26 anos que é apaixonada por uma marca de sapatos. É formada em Letras e trabalha como revisora de uma editora do Rio de Janeiro. Ellen Gardner é estilista e dona da marca de sapatos que Julie tanto ama. Ellen é determ...