Capítulo 14 - Julie Rodrigues

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Quando o fim do expediente chegou, peguei minhas coisas que já estavam arrumadas e praticamente voei para a Ellen Shoes. Entrei super animada na loja e já procurando Erica pelo salão, mas não a avistei. Mais duas vendedoras já atendiam outras clientes, então fui até ao caixa e perguntei se a Erica se encontrava na loja naquele momento.

— Ela está sim, mas estava participando de uma reunião de uma hora. Só um minuto que eu vou ver se ela terminou e peço para ela subir. — Ela respondeu de forma gentil e eu agradeci.

Me sentei em uma das poltronas da loja para esperar minha amiga subir e contar a super notícia de que havia conseguido reunir todo o valor para comprar meus sapatos. Eu podia chamá-la para me acompanhar até a pizzaria, mas estranhamente, eu estava empolgada para passar um tempo sozinha e comemorar essas conquistas comigo mesma.

O tempo parecia não passar, ela parecia estar demorando uma eternidade, mas eu sabia que, na verdade, era a sensação que minha ansiedade queria me passar. Agradeci mentalmente quando a vi sair pela porta que dava para a escada do estoque. Levantei feliz, com um sorriso largo no rosto, enquanto buscava o olhar de Erica para pedir que ela pegasse o meu par de sapatos dos sonhos.

Não encontrei apoio e abertura para isso... Erica estava cabisbaixa, triste, seus olhos me fitavam como se ela estivesse criando coragem para abrir a boca e falar seja lá o que fosse.

— Oi, Erica! Está tudo bem? — Foi tudo o que consegui falar para quebrar aquele gelo congelante que havia se instalado entre a gente. Ela baixou a cabeça mais uma vez, estava com as mãos entrelaçadas em frente ao corpo, os cabelos presos em um coque impecável e a blusa social hoje fazia conjunto com uma calça de linho preta.

— Eu sinto muito, Julie. Pela sua felicidade, imagino que tenha vindo buscar nosso novo modelo, mas o último par do seu número acabou de esgotar... nem sei o que dizer.

Minhas pernas deram uma falhada naquele momento, caí de bunda na poltrona novamente. Eu fiquei arrasada, senti meus olhos arderem, as lágrimas queriam vir, mas seria vergonhoso demais chorar ali, naquele ambiente, por esse motivo. Mesmo aquelas meninas que trabalhavam ali não entendiam a paixão que eu tinha por aqueles sapatos.

Não tive resposta para ela, tentei ensaiar algumas palavras no meu pensamento, mas não consegui traduzir o que estava sentindo com o que Erica tinha acabado de me revelar... se eu tivesse chego minutos antes, será que eu teria conseguido? Se eu tivesse vindo na hora do almoço, será que estaria com meu par de sapatos garantido?

— Erica, tudo bem... eu, eu nem consigo acreditar, mas vou superar. — Eu disse, buscando estampar o rosto com um sorriso tímido e convincente de que eu realmente estava bem. — Quer dizer, não vou perder a viagem, né? Eu tenho alguns modelos na minha lista que posso levar agora, então acho que já vai ser uma ótima forma de amenizar esse impacto.

— Sinto muito mesmo, Julie. Mas realmente, levar outros modelos me parece uma ótima ideia. Qual você quer ver?

— O tamanco azul e a rasteirinha amarela da coleção de verão e a sapatilha que lançou há três meses, eu já tenho a rosa, a amarela e a bege, então vou levar a preta, se ainda tiver.

— Eu vou descer para buscar e já retorno. Como sempre, fique à vontade.

Foi o que fiz, andei pela loja olhando de perto alguns outros modelos, eu já tinha a maioria... fiquei realmente muito triste por não ter chegado a tempo de adquirir meu sapato, mas a vida era assim mesmo, alguém chegou antes, talvez alguém que tenha se esforçado ou mais ou quem sabe uma pessoa que nem precisava olhar o saldo da conta bancária antes de gastar um valor desse.

Estava distraída com um dos meus saltos preferidos na mão, percebendo cada detalhe como se eu não soubesse de todos eles de cor, quando ouvi uma voz conhecida, uma voz que eu amava ouvir sussurrar meu nome entre gemidos quando estava prestes a gozar. Ela falava com a gerente da loja sobre algumas orientações que eu não fazia ideia de quais eram.

Virei-me quando percebi que elas estavam chegando perto, não tinha para onde fugir, ela me veria, restava saber se ela tentaria contato comigo ou não. Talvez estivesse com o orgulho ferido, talvez tivesse medo de falar comigo na frente de outras pessoas e acabarem desconfiando do segredo que ela guardava a sete chaves.

Ellen continuou a falar até que me viu e congelou como uma estátua. Se estivéssemos no mundo mágico de Harry Potter, eu diria que alguém lançou um "petrificus totales" nela. Os olhos da mulher loura estavam vidrados em mim, ela não parecia saber o que fazer.

A gerente falou alguma coisa com ela e a retirou do transe em que se encontrava, mas ela não pareceu ouvir, pediu licença a mulher e veio andando até mim. Eu também não sabia o que ia dizer ou fazer, é claro que eu tinha muita vontade de falar com ela, de esquecer tudo o que aconteceu e seguir minha vida, como se ela nunca tivesse aparecido nela.

Mas verdade seja dita, era impossível. Eu tinha vontade de agarrar ela ali mesmo e matar a sede que acumulei nos últimos dias longe dela. Eu estava lutando contra o sentimento que me arrebatava e, claramente, eu estava levando a pior.

— Julie, nem acredito que estou te vendo aqui. — Ellen falou ao chegar na minha frente, tinha um tom de voz realmente surpreso e incrédulo.

— Pois é, não sei se você lembra das nossas conversas, mas essa é minha loja preferida... — Eu estava reativa, não conseguia desarmar minhas defesas, então cruzei os braços em clara impaciência por estar falando com ela.

— Você recebeu meu pacote? Gostou? Fiquei esperando retornar minhas mensagens. — Ellen parecia uma metralhadora ao me fazer várias perguntas sem dar tempo de eu responder todas.

— Ellen, sinceramente, me arrependi no minuto em que enviei. Não acho apropriado você estar falando comigo aqui, alguém pode ver e imaginar coisas, não quero prejudicar sua reputação, então se me der licença, vou esperar Erica voltar com os pares que pedi a ela e fingir que somos meras conhecidas.

— Julie... — Ela parecia decepcionada e eu não me sentia nem um pouco feliz com isso, pelo contrário, tinha vontade de abraçar Ellen e dizer que estava tudo bem, que eu havia superado e a perdoava, mas isso também não era verdade.

Antes que eu ou ela pudesse falar alguma coisa, Erica apareceu com as caixas de sapato para eu experimentar. Pedi licença a Ellen como se ela não passasse mesmo de uma mera conhecida, ela ficou lá parada por alguns segundos, olhando para o nada, até que levou as mãos ao rosto, alisando os cabelos para trás, virou as costas e voltou sua atenção à gerente.

Finalmente, coloquei os sapatos em meus pés e, obviamente, amei todos. Decidi que levaria todos eles e finalizei minha compra na Ellen Shoes. Erica parecia estar com mais dificuldade do que eu para superar minha decepção do dia, mas não adiantaria nada... algo me dizia que um dia eu ainda conseguiria ter meu próprio par, vai que alguém coloca a venda ou algo do tipo? O universo pode nos surpreender, sempre!

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Meninas, boa noite! Mais um pouquinho de Ellen e Julie pra vocês. Estou buscando postar pra vcs com mais frequência porque também estou ansiosa pra saber o fim dessa história <3 espero que gostem e lembrem de deixar aqui o que estão achando e seus votos pra me ajudar com o alcance da história. Bjsss

À sua disposição (Romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora