Se Culpa Fosse Fogo Eu Seria Cinzas

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Exatamente às sete e meia, minha mãe sai para o trabalho. Eu corro para tomar um banho e aproveito para lavar meu cabelo. Está calor, então eu visto um short de poliéster curto azul escuro, junto com uma camiseta de algodão branca com as mangas e gola cor de chumbo.

Dou uma arrumadinha no meu cabelo com o pente e desço para esperar o Elliot chegar. Não demora muito e a campainha toca, me levanto do sofá e vou até a porta.

_Dá a volta por trás, a janela da varanda está aberta! - digo antes mesmo de perguntar quem é.

_Tá bom! Só um minuto! - diz a voz do Elliot por trás da porta.

Escuto seus passos e vou até a janela que dá para varanda. Em seguida ele aparece no espaço aberto.

_Você tava falando sério mesmo, quando disse que eu ia ter que pular a janela!

_Pelo menos não é a janela do segundo andar!

_Mas que sorte a minha! Bem, vamos lá!

Ele passa uma perna para dentro e depois a outra e sem muita dificuldade entra na minha casa. O abraço como se não o visse há séculos, como se ele fosse um ursinho do qual eu não quero largar.

_Ei, parece que alguém sentiu minha falta! - diz ele retribuindo o abraço e bagunçando meu cabelo molhado.

_Você não imagina o quanto! - o solto um pouco e olho para seu rosto sorrindo.

Elliot me dá um leve beijo nos lábios e eu o abraço novamente.

_Eu ando me sentindo tão sozinha ultimamente!

_Me desculpa, sei que devia ter vindo antes, eu sou um idiota...

_A culpa é minha, ando tão louca com essa história, que sem querer estou afastando as pessoas que mais amo!

_Fico feliz de estar na lista das pessoas que você mais ama!

_Eu também! Vem vamos lá para sala!

Caminhamos lado a lado, ele com o braço direito em volta da minha cintura, e eu com minha mão esquerda em suas costas. Já na sala, o Elliot me solta e se senta no sofá.

_Como vão as coisas? - pergunto.

_Monótonas! - responde, levantando levemente os ombros e suspirando.

_Ah, como eu queria dizer o mesmo!

_Não se preocupe! Uma hora as coisas se acalmam!

_Eu espero que sim!

_E o tal diário? Está mesmo aqui? - sinto uma ponta de curiosidade em sua voz.

_Está! Quer ver?

_Quero! Gosto de histórias mórbidas! Estranho não?

_Nem tanto! - dou um meio sorriso e levanto a sobrancelha.

Ultimamente a minha vida se resume, a isso; uma história mórbida. Assombrada por um fantasma, que acredito seriamente não passar de uma alucinação da minha mente cansada. Não que eu goste, mas já faz um bom tempo que não tenho uma existência comum, nem mesmo me lembro como era. Acho que aquela Brianna exagerada, que passava os dias alimentando uma rixa idiota, provocando a Mackenzie, com ideias estúpidas, também morreu. Morreu junto com ela.

_Vem! - digo e começo a subir as escadas para o quarto.

Subo em passadas largas e o Elliot vem logo em seguida. Abro a porta do quarto e pulo em cima da cama, que range. Acho que estou satisfeita com a ideia de mostrar isso para alguém, ouvir uma outra interpretação do diário. Pego o travesseiro e tiro sua fronha, já que o escondi dentro dele, enfiando minha mão bem no fundo para o puxar para fora.

A Noite Dos PavõesOnde histórias criam vida. Descubra agora