Pesadelo Triplo

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Acordo na manhã seguinte, com o despertador, da pior maneira possível, minha cabeça está explodindo, meus olhos estão mais fundos que o oceano, minha energia parece ter se esgotado há dias.

Passo pelo quarto da minha mãe que está com a porta apenas escorada e a vejo dormir, provavelmente esgotada também. Entro pé por pé para que não acorde, pego uma coberta no guarda roupa e jogo cuidadosamente em suas costas.

Desço as escadas e vou direto para o armário na cozinha onde ficam alguns medicamentos. Pego a caixinha com os comprimidos e procuro por um analgésico.

_Dor de cabeça? - pergunta minha mãe do topo da escada.

_Um pouco! Eu te acordei? Desculpa - digo.

_ Não tem problema, é que eu tenho o sono leve mesmo! O que você está sentindo? - ela diz descendo as escadas e se aproximando de mim.

_É só dor de cabeça mesmo!

_Aqui, toma esse! - ela pega um comprimido preto e redondo e me entrega.

_Volte a dormir você deve estar esgotada mãe!

_Mais ou menos, mas você parece mais cansada do que eu, está cheia de olheiras!

_Está tão ruim assim? - pergunto, mas já sei a resposta.

_Pior que está! Acho melhor você não ir hoje, se quiser faltar tem a minha permissão.

Isso era tudo que eu queria ouvir, era tudo que eu precisava. Ficar em casa é a solução imediata dos meus problemas, pode até parecer que estou fugindo, mas não faz mal algum esperar a poeira abaixar. Quem sabe eu faltando hoje, amanhã os imbecis já tenham encontrado algo novo para comentar e distorcer.

_Estava esperando você disser isso! Vou voltar a dormir antes que você mude de ideia! - digo já bebendo o comprimido e correndo de volta para os meus aposentos.

Entro no meu quarto e me aproximo da janela. Olho para fora e vejo uma manhã cinzenta e úmida, foco além da vista da minha rua e ao fundo vejo um pedaço do prédio da escola. A uma hora dessas aquilo ainda está vazio, mas em pouquíssimo tempo todos aqueles alunos e alunas que eu tanto detesto estarão chegando.

Fico por uns minutos olhando para o colégio e decido que vou voltar para a cama. Não quero pensar em ninguém daquele lugar, amanhã já vou voltar a ter que aturá-los, por hoje quero paz.

Repouso minha cabeça sobre o travesseiro e logo adormeço, mas a ideia de paz que eu tanto almejo logo se desfez em pesadelos.

Apesar de meus sonhos serem de maneira geral sobre a morte e vida da Mackenzie este é diferente. Estou do lado de fora de um prédio em chamas e ao meu lado acaba de chegar o caminhão dos bombeiros. Vejo vários homens descendo dele e entre eles um de aparência térrea, com cabelos e barba grisalha. O homem, mesmo tendo os fios brancos não aparentava ser velho, sua postura forte e séria, somada aos seus olhos castanhos que passavam segurança. Papai.

Não precisa ser um gênio para saber do que se trata, esse é o incêndio onde ele morreu. Vejo meu pai e outros dois rapazes entrando no local e corro atrás deles. Chegando bem perto, atravesso uma porta de vidro aberta e vejo meu reflexo, sou eu mais nova com os cabelos castanhos soltos na altura dos ombros. Paro por um segundo e encaro meu eu de onze anos por um segundo, mas logo volto a correr.

Chamo por meu pai e pelos outros homens, grito para que eles parem, mas ninguém parece me ouvir. Eles andam depressa contornando focos de fogo, eu, entretanto passo no meio das chamas e não me queimo. Depois começam a subir em uma escada e sei o que vai acontecer em seguida. Corro com todas as minhas forças e os alcanço.

A Noite Dos PavõesOnde histórias criam vida. Descubra agora