Um Sonho Tão Real

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Minha mãe me interrogou com mil perguntas sobre meu primeiro dia de aula e tentei contornar o assunto com as respostas mais vagas que consegui elaborar.

No restante da tarde eu fiz algumas tarefas de casa, bem tentei fazer, mas acabei tropeçando na minha cama e mergulhei em um sono profundo, repleto de pesadelos.

No meu sonho estou despencando em direção ao solo, mas no lugar do chão duro eu caio dentro de uma piscina, fazendo jorrar água para cima e para todas as direções possíveis.

Em instantes a fadiga da queda é substituída pelo terror do afogamento. A água entra pelas minhas narinas e eu procuro em vão a superfície. No sonho eu não sei nadar, e quanto mais tento emergir mais para o fundo vou. Por mais que tente gritar a voz não saí, e mais água eu engulo. Aos poucos vou sentindo que perco a consciência, entretanto, pouco antes de me abandonar, sinto uma mão me agarrar e me levar para borda.

Seguro na beirada da piscina com toda a minha força e consigo colocar minha cabeça para fora da água. Sinto o ar voltando para meus pulmões, mas no segundo seguinte eu o perco de novo. Ela também está segurando na beira da piscina, bem ao meu lado, a poucos centímetros de mim.

Mesmo com seu corpo em baixo da água, eu posso ver que ela está com a mesma roupa daquela noite, mas o que me chama atenção não é o vestido e sim seu rosto. Ele está intacto, e nos meus pesadelos eu sempre o via desfigurado.

Aqueles olhos sem alma me encaram com uma fúria avassaladora. Meu coração dá um sobressalto e quando ela abri a boca eu quase solto as mãos que me seguram à beira da piscina.

_ Olá Brianna! Sentiu minha falta vadia?

_Você não é real! Você está morta! - fecho meus olhos e sussurro para mim mesma na expectativa de acordar daquele pesadelo.

_Eu sou mais real do que você imagina querida!

_Não, não, não!

_Não seja infantil, não temos tempo para isso, não mais!

_Porquê você está me assombrando? Porquê? - grito com todas as minhas forças.

_Brianna você me dá pena! Tão assustada, tão desesperada!

_Saía daqui, saía dos meus sonhos! - consigo dizer com uma calma forçada e contida.

_Só saio quando você me der o que eu quero!

_E o que quer de mim? Eu não tenho nada, não posso fazer nada por você! Você está morta!

Ela se solta da borda e se aproxima ainda mais de mim. Seus olhos focados diretamente nas minhas pupilas.

_Eu quero que você largue de ser uma inútil e faça quem fez isso comigo pagar!

E então feição dela muda, seu rosto de porcelana assumi uma forma horrível e degradada. Os cortes vão em todas as direções do seu corpo, alguns profundos, outros superficiais.

O choque de vê-la ''inteira'' num segundo, e mutilada no outro, me faz soltar da borda. Antes mesmo de eu ter a chance de afundar a assombração sussurra um ''não me faça esperar'' e coloca sua mão sobre minha cabeça, me empurrando piscina a baixo.

Acordo assustada, suada e com a respiração ofegante. Estou acostumada a ter pesadelos com a criatura odiosa, mas nada comparado a isso. Nos meus sonhos eu sempre a vejo desfigurada e toda rasgada, mas ela nunca me disse uma palavra sequer. Em geral posso ouvir a sua risada ecoando no pesadelo e as vezes sinto como se estivesse me perseguindo ou correndo atrás de mim. Entretanto, jamais houve um diálogo direto como esse, isso foi muito real, eu pude sentir a mão dela me afundando na água.

Já são quase nove horas da noite e minha mãe saiu para pegar o turno noturno na lanchonete. Resolvo descer e assistir um pouco de televisão.

A sala está totalmente escura, penso em acender a luz mas eu realmente sou uma pessoa que gosta de ficar na penumbra. Esquento o jantar no microondas e sento no sofá pronta para relaxar. Porém, quando ligo a tv, dou de cara com a reportagem ''Jovem assassina volta para aterrorizar ex-Colegas ''.

Esse título patético está no rodapé da notícia e a repórter do jornal regional, uma loirinha ossuda com o cabelo lambido, narra a notícia. Uma foto minha está no canto da tela e a mulher diz veemente:

_Acusada do brutal assassinato de Madison Mackenzie, Brianna Collins é solta e está de volta as ruas! Os alunos da escola Good Citizien ficaram chocados e muitos estão assustados com a sua presença. Vamos agora ouvir Dylan Harrys, estudante e amigo da vítima, falar sobre a ameaça que recebeu hoje!

A imagem abre e lá está uma outra repórter, segurando um microfone na direção do Dylan Babaca Harrys, e ao fundo a escola totalmente vazia. Quero até saber o que a cabelo lambido quis dizer com ''ameaça que recebeu hoje'' porque se esse idiota tiver dito qualquer coisa ele vai se ver comigo.

_Como você se sentiu quando viu a Brianna andando pelos corredores do colégio?

_Eu fiquei perplexo, nunca pensei que teria que conviver com a assassina da minha amiga, isso é um insulto à memória da Madison!

_Você parece estar indignado, e com toda razão! Além da indignação você teve outro motivo para nós chamar aqui, poderia contar para quem está assistindo em casa?

_Sim, eu os chamei aqui porque ela me ameaçou e disse que faria da minha vida um inferno, e como a polícia não teve a capacidade de manter essa psicopata presa eu duvido que eles tomem alguma providência! Por isso chamei a imprensa!

_Ela disse que faria da sua vida um inferno?

_Disse com todas as letras docinho! Não basta nos tirar uma pessoa querida, ela ainda quer destruir o que restou!

A imagem volta para a cabelo lambido que encerra a reportagem dizendo:

_E esse foi Dylan Harrys nos contando mais sobre a mente perturbada de Brianna Collins!

Desligo a televisão e jogo o controle o mais longe que consigo.

_Desgraçado, eu vou acabar com você!







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