Não Durmo

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Elliot me deixa em casa e eu entro. Procuro minha mãe, a única pessoa que eu quero comigo agora é ela, ela me passa segurança. Mas a dona Beatrice não está, já que, nos últimos dias, ela está bem dizer pegando apenas os turnos da noite e como escureceu, estou sozinha.

Não me sinto bem comigo mesma, ficam martelando em minha cabeça pensamentos sobre o que o Scott teria feito comigo se estivéssemos só. Não quero pensar, não quero fazer nada, mas tenho que tomar um banho, dois banhos, para tirar qualquer resquício dele de mim.

Termino meu banho e escovo meus dentes três vezes. Vou direto para cama, nem visto uma roupa, desabo com a toalha enrolada em mim.

Acordo de madrugada com uma dor de cabeça insuportável e espirrando. Olho para toalha molhada que está espalhada na cama e já sei o que causou os espirros, com certeza vou gripar! Ótimo, algo mais para hoje destino?! - digo em voz alta e visto um pijama. A janela também está aberta, resolvo fechá-la. Me aproximo e vejo uma imagem assustadora para quem está sem companhia em um casa a noite; um vulto parado em frente a minha janela bem no meio da rua olhando para mim. Está escuro, mas dá para ver um capuz e ombros largos provavelmente é um garoto. Ele se vira e saí andando até sair do meu campo de visão, não consigo ver se foi embora ou se deu a volta na casa.

Meu coração dispara e parece querer sair do meu peito, fecho a janela e passo a tranca, corro no andar de baixo e verifico se tudo está fechado e bem trancado, depois corro novamente e me enfio em baixo de uma coberta. Fico ali com o cobertor até a cabeça, como uma criança assustada e só saio quando ouso a minha mãe chegar.

Não conto nada do que ouve apenas me deito junto com ela na sua cama, dizendo que tive um pesadelo.

O dia de domingo é nauseante, estou gripando e não me sinto nada bem. Fico praticamente alienada, dispersa do mundo real, escondida no meu próprio universo. Minha mãe está de folga e ficamos basicamente assistindo programas culinários o dia inteiro.

Consigo tirar alguns cochilos durante a noite e acordo com o despertador me assustando.

Nem me arrisco a olhar no espelho quando entro no banheiro, sei que ainda estou péssima. Só visto uma calça de ginástica, que é muito masculina e ponho uma blusinha rosa bebê, só para não parecer que sou um garoto e desço.

Não tomo café, e também não almoço quando chega a hora, estou em choque, quando a adrenalina saiu ontem do meu corpo me senti vazia. A Charlotte me pergunta o que houve no refeitório, me tirando desse paralelo.

_Não quero falar sobre isso!

_Mas eu sou sua amiga! - ela insiste.

_Eu só não quero falar agora,me dê um tempo! - digo espirrando porque sim, a gripe me pegou de jeito.

_Mas só um tempinho!

Não dou mais atenção para ela e volto a me fechar nos meus pensamentos.

Tenho aula da senhora Guine a rabugenta. Deito na mesa e fico escutando ela falar. O bom disso é que ela é uma das poucas professoras que quando fala os alunos ouvem/dormem, então não tenho que ouvir as vozes dos babacas que estão no fundo.

Estou quase pegando no sono quando batem na porta. Meu coração dá um salto, estou paranoica, penso que o diretor descobriu que invadimos o sistema e veio me buscar. Mas não, é apenas o entregador da floricultura! Espera cérebro, o que um entregador da floricultura corações apaixonados está fazendo aqui?! Fico curiosa e por um instante saio do meu mundinho.

A Noite Dos PavõesOnde histórias criam vida. Descubra agora