Pizza Inconveniente

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Pego a camiseta e a calça que eu tinha separado e as visto. Meu cabelo está molhado e decido que vou secar ele com secador. Não sou de fazer isso, até por que meu cabelo é minúsculo, mas hoje me parece um bom dia para secá-lo e deixá-lo mais feminino.

Olho-me no espelho e fixo o olhar no meu look: cabelo Joãozinho baixo e penteado; ok/ calça justinha e sexy; ok (mais ou menos na verdade)/ all star; ok/ olhos delineados com lápis de olho; falta isso.

Pego o meu lápis preto e passo na linha d'água destacando meus cílios grossos e longos. Sempre tive cílios volumosos e extremamente escuros, que dão um certo destaque aos meus olhos castanhos.

Eu e o Elliot combinamos que ele viria me buscar sete horas e já é quase isso então desço para esperá-lo perto da porta. Chego ao andar de baixo e minha mãe que está de uniforme me diz:

_Filha eu vou pegar o turno da noite na lanchonete... Você vai sair?

Fico boiando na batatinha até entender o que ela quis dizer. Depois de todo esse tempo longe de casa, esqueci que aos sábados minha mãe pega o turno da noite (ela trabalha em uma cafeteria 24hs). Como ontem ela tirou folga para ficar comigo, eu meio que esqueci que ela provavelmente teria que repor hora hoje. Então finalmente respondo a sua pergunta:

_Vou à loja de conveniências da rua de cima, comprar uma pasta de amendoim! - minto.

_Quer que eu te deixe lá?

_Não precisa eu quero tomar um ar e é só duas quadras mãe!

_Tem certeza?

_Tenho! E mãe será que você podia me arrumar uma graninha?

_Eu vou pegar lá em cima na minha gaveta, só um minutinho.

Torço para que a mamãe pegue logo o dinheiro e saia antes do meu garoto chegar. Para minha sorte, logo em seguida ela volta com uma nota de vinte dólares na mão, me entrega e sai porta a fora.

Fico me sentindo um pouco culpada por ter mentido descaradamente, mas eu sempre minto quando é necessário ou quando a pessoa não está preparada para verdade e minha mãe ainda não está preparada para descobrir que estou namorando um ex-traficante/usuário de drogas. E isso é apenas um retardo, pois quando a Dona Beatrice se acostumar a ter a sua filha problemática de volta em casa contarei esse pequeno detalhe a ela.

Decido tirar meu all star e coloco um chinelo para ficar mais à vontade, coloco um short também. Ligo pra pizzaria para pedir uma pizza de pepperone já que eu acabei de mudar meus planos sobre o passeio. Não vamos sair, hoje o Elliot vai conhecer minha casa.

Mal sento no sofá e já escuto a campainha tocar, meu coração dá um pulo, puxa, não pensei que isso iria acontecer, estou realmente ansiosa. Corro para abrir a porta, mas antes dou uma ajeitadinha no meu cabelo.

Abro a porta e vejo seu corpo magro e alto, com ombros largos bem a minha frente. Ele está com um aspecto bem mais saudável do que da última vez que o vi, seu cabelo liso e preto na altura dos ombros está preso em um rabo de cavalo. Olho bem nos seus olhos acinzentados, arqueio uma sobrancelha e dou um sorriso:

_Você está atrasado mocinho, já são sete e dez!

_Eu sinto muito, mas eu moro na cidade ao lado e por mais que seja perto não consigo chegar aqui em segundos - ele responde.

_Você conseguiria se tivesse um jatinho!

_Desculpa querida, mas meus pais venderam meu jatinho depois que eu fui parar naquela merda.

Eu dou uma risada gostosa, mas apesar de ter sido uma piada, os país do Elliot são podres de ricos e não me surpreenderia nada se eles tivessem um jatinho. Elliot nasceu em um berço de ouro, mas nunca teve um lar amoroso, seus pais nunca tiveram tempo para porcaria nenhuma. Eu acho que ele só se envolveu com drogas para chamar atenção, mas no fim as coisas acabaram saindo do controle.

A Noite Dos PavõesOnde histórias criam vida. Descubra agora