Maldita Data

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Chego em casa a uma da manhã, minha mãe provavelmente vai me matar e me enterrar no quintal. Ela já ligou quatro vezes nos últimos quinze minutos, mandei uma mensagem falando que estava bem e desliguei o celular. Mas também já tinha mandado uma falando que ia chegar tarde assim que começou a escurecer.

O Elliot me larga na porta de casa e quando me vê entrar vai embora. Entro devagar na esperança da mamãe estar dormindo, mas é em vão, eu acendo a luz e a vejo sentada perto do balcão da cozinha.

_Onde você estava? Eu quase enlouqueci aqui!

_Eu te disse que ia ao lago!

_Mas é uma da manhã! UMA!

_Eu também mandei uma mensagem avisando sobre isso!

_Não quero ouvir desculpas! Você sai do nada, dizendo que vai ao lago com um marginal e depois chega de madrugada! Você quer que eu pense o que?

_Quero que você pense que estou bem, e vou voltar tarde, do jeito que disse na mensagem!

_Não se manda uma mensagem para uma mãe preocupada! Ano passado assassinaram uma garota e você estava envolvida! Como você acha que eu me sinto?! Eu não consigo dormir, porque não sei se minha filha vai voltar bem!

_Mas eu voltei! Não é o suficiente?

_Não é! Eu quero segurança, quero sentir que você está segura! A partir de hoje você está de castigo e não sai mais a noite!

_Eu não tenho dez anos, você não pode me prender!

_Posso sim!

Não quero discutir com ela, eu até entendo a sua preocupação, mas me proibir de sair é simplesmente patético! Ela trabalha a noite e não tem ninguém para me vigiar.

Subo para o meu quarto decidida a ir dormir, estou cansada até meu último fio de cabelo. Deito na minha cama e fico olhando para o teto por um tempo, mas tenho que tomar banho, não posso descansar assim. Levanto e vou rumo ao banheiro. O que é aquilo?! Passo em frente ao meu guarda roupa e vejo um papel post-it colado. O arranco e leio.

13/05/2013 Você se lembra?

_Que palhaçada é essa? - penso comigo mesma, será que foi a minha mãe que colocou isso aqui?

Essa data não significa nada para mim. Bem, foi algo que aconteceu antes da Noite Dos Pavões, uma semana antes para ser mais exata. O que eu fiz na semana anterior ao assassinato? Se lembre Brianna! Não...

Não é possível, Dylan, foi isso que aconteceu, maldito eu disse para ele esquecer! Eu quase esqueci. Ele vai me ouvir, não estou com paciência para brincadeiras bobas a essa altura do campeonato.

Tento não pensar no bilhete, mas não consigo evitar, como será que o imbecil entrou no meu quarto? Ódio, ele que me aguarde!

Confiro a janela do meu quarto e está aberta. Não é tão difícil entrar por ela, mesmo sendo no segundo andar, há um toldo bem abaixo. Eu mesma já sai escondida da minha mãe por aqui, lógico que era mais fácil sair pela porta da frente sem fazer barulho, mas eu nunca tive juízo mesmo.

Acordo no domingo e passo o dia em casa sem fazer nada. Afinal estou de castigo, como uma criancinha desobediente. Penso em ligar para a Charlotte e contar do bilhete, mas seria estranho falar dele sem contar o que significa. Esse segredo, por mais insignificante, eu jurei guardar, e não estou decidida a mudar de ideia.

A Noite Dos PavõesOnde histórias criam vida. Descubra agora