Espírito Suicida

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Passo o restante da noite em claro, me segurando para não pular da cama e ir até o hospital. Não que eu me importe em si com a saúde do Dylan ou do Aaron, mas preciso saber ao certo o que aconteceu. Se foi mesmo um acidente, ou outra coisa da qual acho que minha consciência não vai gostar.

A imagem do Dylan me pedindo ajuda, fica se repetindo em minha cabeça como um filme. Um filme estranho e inacreditável, por que, isso não condiz com a personalidade idiota do garoto. Mas enfim, se tem uma coisa que eu aprendi é que as pessoas não são só aquilo que demonstram. Pessoas são a personificação de lagos, uns são tão claros que você pensa que está vendo todo o seu fundo. Entretanto esquecemos que o reflexo da água continua ali, distorcendo uma visão que acreditamos ser perfeita.

Minha cama parece mais dura do que de costume, me viro de minuto em minuto. O tempo passa, escuto minha mãe chegar e ir se deitar, vejo a madrugada chegar e não consigo dormir, estou impressionada demais para isso. Gravemente feridos... Será que eu poderia ter feito algo? Provavelmente não Brianna. Esqueça, não é assunto seu!

Só ali pelas quatro da manhã que eu prego os olhos. Acordo assustada com o despertador me chamando. Me sinto cansada, mas preciso levantar, não dá para saber de fofoca alguma se eu ficar hibernada na minha cama.

Tomo um banho, visto uma calça jeans preta, calço meu all star clássico e também preto. Pra fechar coloco uma t-schirt cinza escrita Tomorrow Never Die. Espero que esteja adequado para um hospital e se não estiver, também não me importo.

Minha mãe ainda está dormindo, ela não acordou para tomar café. Não é muito legal da minha parte ir acordá-la, mas preciso sair e está tudo trancado. Então entro no seu quarto, bato na porta e com seu sono leve, assim que entro, ela já está com a cabeça levantada.

_A chave da porta! - peço.

_Já está na hora?

_Tudo indica que sim!

_Eu vou lá abrir!

Saio andando e ela vem atrás. A vejo, de relance, pegar a chave dentro do próprio sutiã, cara como ela é paranoica! Francamente mãe, não tem como trancar aquela janela por fora, se eu quiser sair escondida é só pular!

_Comporte-se! - diz ela ainda sonolenta, assim que eu passo pelo arco da porta.

_Não posso prometer!

Vou subindo a rua, olho para trás na primeira esquina e ela ainda está me vigiando. Contínuo no caminho da escola e só quando me afasto o suficiente, mudo a minha rota. Uma rua antes do colégio eu viro a direita e sigo reto até seu final, onde fica a unidade de saúde.

O postinho e o hospital de pronto atendimento são acoplados. Mas ao contrário do primeiro o pronto socorro é bastante movimentado e seu acesso é restrito para doentes e familiares. Porcaria, estou tão desesperada que me esqueci desse detalhe! O que eu vou dizer, que sou uma parente ou uma curiosa de plantão? Não sei se vir aqui foi uma ideia inteligente, mas já que vim, então vou por cara para bater.

Subo as escadinhas que dão na recepção e uma moça com cara de dor me atende.

_Em que posso ajudar?

_Oi! Bom dia! - digo simpática e com um sorriso exagerado de quem quer alguma coisa.

_Pois não?

Será que você não pode me dar um minuto para eu inventar uma desculpa?! Essa é a única resposta que me vem à cabeça, mas continuo sorrindo e tento ir direto ao ponto.

_Eu estou muito preocupada com dois amigos meus que deram entrada aqui ontem e gostaria de vê-los. Os nomes são Dylan Harrys e Aaron Muller!

_O horário de visitas não é agora!

A Noite Dos PavõesOnde histórias criam vida. Descubra agora