Decepção

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Esta foi a primeira noite que dormi nos braços de Pansy. Como a cama era pequena, ela me manteve por cima, com seus braços me envolvendo e minha cabeça em seu seio.

Podíamos ter dormido em qualquer lugar e eu não teria me importado. Seus braços eram o paraíso e eu jamais queria deixá-los.

Acordei sozinha no dia seguinte, mas não fiquei muito surpresa. Pansy nunca dormia muito, pelo que eu havia percebido. Ainda assim, foi meio decepcionante. O desfecho perfeito da noite teria sido acordar em seus braços pela manhã.

Pulei da cama e vesti uma roupa. Hoje discutiríamos como mudaríamos nossa relação. Como misturaríamos a Pansy Dom com a Pansy dos Dias Úteis. Eu tinha certeza de que podíamos fazer isto dar certo.

Espiei pelo seu quarto, mas estava vazio. Ninguém na biblioteca, nem mesmo a lareira acesa. Nenhum som vindo da academia. Entrei na cozinha. O café estava servido, mas nada de Pansy. Pelo menos ela estivera ali recentemente.

De quem era vez de fazer o café da manhã? Eu teria feito o jantar ontem à noite, mas não descemos para comer. Minha mente vagou para Pansy... Sua boca encaixada na minha...

Foco, gritou para mim a Mi Racional.

Muito bem. Café da manhã. Decidi que seria justo se eu preparasse o café da manhã. Afinal, tinha pulado o jantar. Talvez, depois do café, pudéssemos sair. Ter uma guerra de bola de neve. Citar mais Shakespeare. Nos beijar.

Onde ela estava? Meti a cabeça pela porta da sala de jantar e meu queixo caiu. Lá estava ela: lendo o jornal, para minha frustração. Como eu deveria chamá-la? “Pansy” parecia informal demais para a sala de jantar.

— Olá — falei, em vez disso.

Assim era melhor. Não a chame de nada.

— Aí está você — disse ela, erguendo os olhos. Não sorria. Por que não estava sorrindo? — Eu estava pensando que talvez você devesse ir para casa hoje.

— O quê?

Ela baixou o jornal.

— As estradas estão limpas. Você não deve ter problemas para chegar ao seu apartamento.

Fiquei confusa. Não sabia como me dirigir corretamente a ela. Como falar com ela. Tudo estava de pernas para o ar. E por que queria me mandar para casa? Como Pansy podia pensar numa coisa dessas depois da noite de ontem?

— Mas por que eu iria para casa? Eu teria que voltar à noite.

— Quanto a isso — disse, olhando-me com olhos dissimulados. — Ficarei trabalhando a maior parte do fim de semana, compensando esta tempestade. Talvez seja melhor se você não vier neste fim de semana.

Não vier? O quê?

— Em algum momento, vai precisar vir para casa — repliquei.

— Não por um bom tempo... Hermione.

Hermione.

Meu coração afundou. Tinha alguma coisa errada. Alguma coisa estava muito, muito errada.

— Por que me chamou assim? — gemi.

— Eu sempre a chamo de Hermione. — Ela estava completamente imóvel. Nem sabia se tinha se mexido. Talvez ela não respirasse.

— Ontem à noite você me chamou de Mi.

Ela piscou. Foi o único movimento que fez.

— Era a encenação.

Mas de que diabos ela estava falando? Encenação?

— O que quer dizer?

— Nós trocamos. Você queria que eu a chamasse de Mi.

— Nós não trocamos — respondi ao perceber a realidade.

Ela fingia que não havia significado nada. Que a noite passada fora uma espécie de encenação em que ela era a submissa.

— Nós trocamos. Era o que você queria quando entrou na biblioteca com o chocolate.

Porcaria, eu não conseguia raciocinar direito. Não conseguia entender o que ela estava fazendo.

— No início, esta era minha intenção — eu disse. — Mas depois você me beijou. Me chamou de Mi. — Olhei bem em seus olhos, procurando desesperadamente pela mulher que eu amava.  — Você dormiu na minha cama. A noite toda.

Suas mãos saíram da mesa e ela respirou fundo.

— E eu nunca a convidei para dormir na minha.

Ah, não. Ah, por favor, Deus, não. As lágrimas arderam em meus olhos. Isto não podia estar acontecendo. Balancei a cabeça.

— Porra. Não faça isso.

— Cuidado com o linguajar.

— Não me diga o que fazer com meu linguajar, porra, quando você fica sentada aí tentando fingir que a noite passada não significou nada.— Cerrei os punhos. — Só porque a dinâmica mudou, não quer dizer que o que aconteceu seja ruim. Nós admitimos algumas coisas. E daí? Seguimos em frente. Vamos nos tornar melhores uma para a outra.

— Alguma vez eu menti para você, Hermione?

Lá vinha ela com a Hermione de novo. Mas que droga. Limpei o nariz.

— Não.

— Então, o que a faz pensar que estou mentindo agora?

— Porque você está com medo. Você me ama e isto a assusta. Mas, sabe de uma coisa? Está tudo bem. Eu também estou um pouco assustada.

— Não estou assustada. Sou uma babaca de coração frio. — Sua cabeça tombou de lado. — Pensei que soubesse disso.

Pansy não iria voltar atrás. O muro estava erguido. Com reforços. Estávamos de volta ao ponto de partida. Ela se sentou, rígida como uma tábua, com as mãos no colo e um jornal descartado de lado. Olhando-me de um jeito que não me dava esperança nenhuma.

Fechei os olhos e respirei fundo. Eu precisava de limites. Uma vez havia falado isso a mim mesma. É preciso saber quais são os seus limites. Quando se deve dizer já chega ou para mim acabou.

Pesei minhas opções. Se ela estava mentindo, fazia um excelente trabalho. Se estava dizendo a verdade, eu não podia suportar. Então pesei minhas opções novamente e, pela primeira vez, todas concordaram: a Mi Má e a Mi Boa, a Mi Racional e a Mi Louca.

É preciso ter limites.

Eu tinha chegado ao meu. Abri os olhos. Pansy esperava. Estendi a mão até a nuca, abri a coleira e a coloquei na mesa.

— Terebintina.

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A Submissa - Pansmione | Parte 1/3Onde histórias criam vida. Descubra agora