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🖇 | Boa leitura!

Era difícil para mim saber como agir diante da presença dela

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Era difícil para mim saber como agir diante da presença dela. É claro que passávamos o dia inteiro juntos e isso já deveria ser comum, mas dormir com ela ao meu lado despertava o meu subconsciente e cada partícula do meu corpo se agitava como se eu tivesse tomado uma garrafa inteira de café puro. O estranho era que quando dormi com ela em outros momentos, o meu sono veio rápido e fácil, sendo tranquilo e durando uma noite inteira. Naquela noite em específico nada estava tranquilo para mim. Eu chutaria que seria porque dessa vez ela não estava dormindo comigo por alguma força maior, mas apenas porque queria. E ela me disse isso sem nem piscar.

A forma como Dulce era inocentemente direta no que queria era muito interessante. Ela não conhecia os filtros emocionais que as pessoas criavam ao longo da vida. Não existiam motivos que a fizessem tentar bancar a difícil, orgulhosa ou durona. Se ela queria algo, fazia no mesmo instante. Mesmo que não fosse de propósito, essa era uma característica admirável.

Eu estava deitado de barriga para cima encarando o teto. Tentei me concentrar no barulho das ondas que vinham do mar, o som do ranger daquela casa que revelava a sua idade, o barulho das folhas das árvores lá fora que balançavam conforme o vento passava, qualquer coisa que pudesse soar mais alto que a respiração profunda dela. Como ela conseguia dormir tão serenamente? Provavelmente porque não se sentia abalada com a minha presença da maneira como eu me sentia com a dela.

Olhei para ela que estava deitada de frente para mim e fiquei a observando sem pensar em nada, a mente vazia se deixando apenas sentir essa coisa que eu não conseguia nomear. Eu queria protegê-la, inclusive de mim mesmo. E era por isso que eu não tinha decidido agir conforme as minhas emoções, porque elas ainda eram uma bagunça e eu tinha medo de enganar a mim mesmo e acabar a enganando de forma não-proposital no processo.

No meio de seu sono, Dulce começou a respirar mais rápido, entreabrindo os lábios e puxando o ar com mais força. Franzi a testa e continuei a observando para entender o que acontecia. Suas pálpebras tremeram um pouco, como se ela rolasse os olhos por baixo delas. Era um pesadelo, mas sobre o que? E o quão ruim poderia ser?

— Sim... — ela resmungou. — Entendi... Mi, re, mi, re... — começou a repetir enquanto movia os dedos de uma das mãos. — Mi, si, re, do, la... Repete... De novo... De novo... Mi, re, mi...

Sentei sobre a cama e a olhei com estranheza. O que diabos estava acontecendo? Foi então que eu percebi. Eram notas musicais. Notas em um piano, por isso os movimentos dos dedos. Ela sabia tocar piano? Essa era uma descoberta e tanto. Agora eu tinha motivos para usar o piano da casa que deixei de lado desde que cheguei.

Continuei a ouvir as notas que ela proferia e então reconheci que se tratava de Beethoven. Für Elise, mais especificamente. Era uma canção melancólica, bela e muito lembrada, provavelmente a base para a maioria dos iniciantes.

— De novo... — Dulce repetiu e voltou a proferir as notas do início. — Mi, re, mi, re... Mi, si, re, do... re? Não? Errado. — contraiu a sua mão, entortando os dedos ao mesmo tempo em que franzia a testa em uma expressão de dor. — Doze... Quebre os dedos... — tensionou mais a própria mão, contorcendo o pulso.

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