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🖇 | Boa leitura!

A melodia nova, porém estranhamente familiar, despertou-me de um sono profundo onde eu me encontrava

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A melodia nova, porém estranhamente familiar, despertou-me de um sono profundo onde eu me encontrava. O som vinha do andar de baixo e mesmo que eu não tenha visto aquele objeto em cena, sabia que era o piano. Senti um arrepio em minha nuca ao reconhecer aquelas notas. Eram as mesmas que ouvi em meus sonhos, aquelas que eu estava aprendendo a tocar em minhas memórias.

Segui a música até estar na segunda sala, onde Christopher tocava com os olhos fechados, seus dedos se movendo naturalmente sobre as teclas como se já soubessem sozinhos onde ir, sem ter a necessidade de que seus olhos prestassem atenção. Encostei-me contra o batente da porta e fiquei observando atenciosamente, prendendo-me naquele momento e sentindo o meu peito se encher de algo que eu sabia que era amor. Achei que eu não poderia admirar ainda mais o Christopher, mas isso sempre aconteceria cada vez que ele me mostrasse os seus talentos escondidos.

Outra coisa começou a surgir em minha cabeça, uma nova lembrança, esta mais recente do que a que vivi em meu sonho.

Observo Cinquenta e Um repetir a mesma canção pela segunda vez sob o meu olhar analisador. Os métodos haviam mudado desde que me tornei adulta. Ao invés de cinco tentativas, eram somente três. Ao invés de quebrar os dedos, eles eram perfurados com agulhas minúsculas e afiadas, assim a recuperação era mais rápida e logo poderiam voltar aos treinamentos.

— Errado. — eu digo quando Cinquenta e Um erra novamente. — Última chance. Do começo.

Ele volta a tocar mais precisamente desta vez, acertando cada nota e conseguindo ir mais longe do que foi até então. Entretanto, nas últimas notas houve outra falha.

— Errado. — pego a caixinha de agulhas e a disponho ao lado dele. — Fure os dedos.

Sem hesitar, Cinquenta e Um enfiou a sua mão dentro da caixa. Observei bem as suas expressões, esperando que ele seguisse neutro apesar da dor, pois assim deveria ser. Seu rosto ficou imóvel, mas seus olhos se encheram de lágrimas.

— Está chorando? — perguntei mantendo a seriedade.

— Não, Doze. — ele disse.

— E agora está mentindo. — retirei sua mão da caixinha e a guardei onde estava antes. — Não chore. Nunca chore. — voltei para perto dele e deferi um tapa em seu rosto, fazendo-o virar a cabeça para o outro lado. — As crianças andam mais fracas hoje em dia.

Voltei ao tempo real e pisquei desacreditada. Aquela era mesmo uma lembrança minha? Eu fiz aquilo com uma criança? E como eu pude não sentir nada em qualquer segundo daquela aula de piano terrível? Me senti mal, enjoada e envergonhada por isso.

— Dulce? — Christopher me chamou.

— Ah, sim? — olhei para ele, notando que ele havia parado de tocar.

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