The Heirs

Capítulo XI

Quando se cresce em um meio como o seu, é necessário aprender a engolir as emoções que ofusquem a lógica. O autocontrole era necessário para não ser devorado vivo pela aristocracia bruxa e podia estufar o peito com muito orgulho e assumir ser impecável nesse quesito publicamente, pois não era algo fácil considerando que séculos de consanguinidade traziam instabilidades na mente que tornavam os membros da família Black voláteis e se permitisse uma explosão de humor, não conseguiria parar até extravasar. A loucura era como um demônio alojado em sua mente que exigia um esforço constante para ficar enjaulado, mas nunca foi um grande obstáculo em sua rotina até o momento em que Pandora foi parar na enfermaria.

Não. Regulus reconhecia que tudo andava mais difícil desde a partida de Sirius e parecia que o infortúnio de sua amiga era apenas mais um peso para tornar ainda mais difícil manter seu equilíbrio interno. Tinha muito o que lidar, fingir que pessoas das quais não se importava eram suas melhores amizades, aceitar bajulações como se não odiasse esse tipo de coisa, respirar fundo e ignorar quando ouvia Sirius chamar seu nome nos corredores – algo que acabou surgindo, para sua infelicidade, exatamente nesses últimos cinco dias –, ou então virar o rosto e fingir que não estava incomodado por ver James abraçar Sirius e chamá-lo de irmão.

Precisava fingir que não sentia um leve amargor quando via Narcissa perder o brilho no olhar um pouco mais durante as manhãs ao sair do dormitório de Lucius. Chegou a dizer que uma única vez bastava, Lucius não era tão inteligente para questionar a baixíssima probabilidade de engravidar com uma única tentativa, mas Cissa era tão perfeccionista quanto ele ao executar tarefas e disse que dormiria com Lucius quantas vezes julgasse ser necessário, não cabia a Regulus decidir como e quantas vezes ela usaria o próprio corpo.

Naqueles cinco dias de espera nenhuma carta veio de sua casa. Nunca desejou tanto receber uma carta de Tom como naquela semana, mas sabia que não ocorreria, ele estava se preparando para vir. Sabia também ser uma grande ingenuidade esperar que ele enviasse uma carta meramente para manter contato, principalmente se fosse um conteúdo que beirava a breguice romântica, mas Regulus queria desesperadamente algo assim porque precisava de algum alívio em sua rotina que exigia o dia todo, até mesmo em seus sonhos, uma frieza e um calculismo que estava ficando exaustivo.

Quando vinha o desejo de chorar por saber que seu único refúgio daquele inferno iria embora, engolia o choro, não deixava nenhuma lágrima escorrer, porque sabia que não iria parar quando começasse e ainda não podia se dar a esse luxo.

⋅•⋅⊰∙∘☽♛☾∘∙⊱⋅•⋅

Quadribol era uma das pouquíssimas atividades daquela escola que lhe proporcionava um verdadeiro prazer em executar. Havia uma promessa de que seria capitão do time no próximo ano graças ao seu talento e suas sugestões de estratégia, além de ninguém conseguir provar que suas jogadas, apesar de sujas, eram contra as regras.

Aquele era o último treino antes da final, sua dedicação naquela manhã foi para levar o próprio corpo à exaustão, para assim, talvez, dissipar o tormento em sua mente. Quando Rodolphus apitou para encerrar o treino, parecia ter funcionado a tática, ou então estava cansado demais para perceber que nada mudou e tudo bem se fosse o caso, não achava que poderia ocorrer mais alguma coisa que fodesse com seu dia e estava particularmente bem humorado por saber que naquela noite veria Tom finalmente. O armário sumidouro estava consertado – custou muitas horas de sono, mas valeu a pena – e testes feitos com o auxílio do velho Borgin mostraram estar funcionando perfeitamente, então poderia finalmente respirar com mais calma. Tudo daria certo, bastava que aquele dia fosse calmo e pacato.

Quando desceu da vassoura e avistou James Potter e o restante do time grifinório aproximar, teve a certeza de que não teria o maldito dia calmo e pacato.