Capítulo V

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Mais um ano se passou. Começando por coisas mais visíveis, Tom estava mais alto e seus trabalhos informais no dia de folga ajudaram a desenvolver sua musculatura, logo, Orion não perdeu tempo e usufruiu desse desenvolvimento para jogar nas costas do garoto trabalhos braçais na casa. Durante o inverno, antes de nevar, Tom foi obrigado a trocar todas as janelas da casa sozinho e estava oficialmente incumbido de erguer a mobília sozinho quando fosse limpar os cômodos, Kreacher não deveria mais usar sua magia para ajudar. O motivo? Provavelmente fazer o possível para tornar sua vida um inferno até que decidisse se matar ou explodir para dar um pretexto para ser executado, algo não tão incomum assim com trouxas escravizados quando estava chegando perto de atingir a maioridade.

Ter trouxas adultos em casa gerava mais gastos, também tinham menos gás para executar tantas tarefas em um dia só, os velhos praticamente se tornavam inúteis, então poucas famílias mantinham um escravo com mais de dezoito anos em casa. Tom suspeitava também que estar na mesma altura de Orion e ter um porte físico decente para reagir a qualquer agressão intimidasse tanto ele quanto Walburga, apesar de nunca mais ter dado motivos para ser penalizado com açoites ou privações de coisas básicas para viver. De qualquer forma, agora sabia que tendo quinze anos, uma corda estava posta em seu pescoço e um passo em falso poderia fazer seus senhores chutarem o balde sob seus pés a qualquer instante.

Quanto aos irmãos Black, bem, o desfecho foi interessante, principalmente agora que Tom tinha certeza de que Regulus era mais astuto do que demonstrava quando se tratava de estratégia política.

Primeiramente, Sirius parecia nunca ter nascido para as pessoas daquela casa, com exceção de Regulus que vez ou outra tentava mencionar seu nome durante alguma refeição ou falava em particular sobre ele com Kreacher, Tom flagrou uma ou duas vezes. Aquela explosão de humor do garoto simplesmente parecia nunca ter acontecido e ele voltou para visitar seus pais em todos os recessos daquele ano letivo. Se antes ele parecia não estar se desenvolvendo fisicamente, agora a cada visita Tom reparava que os traços em seu rosto ficavam mais acentuados e a altura de ambos pouco a pouco se equiparava, Black já poderia olhar em seus olhos sem erguer a cabeça se não fosse tão esnobe e se negasse a encará-lo por mais de um segundo. Também reparou em cada visita do novo herdeiro que os sinais de aristocracia ficavam mais fortes, sua postura, seu jeito de falar, seu tom de voz ao tratar de assuntos familiares, os maneirismos, combinado com a vestimenta que ele realmente parecia gostar de usar e até mesmo seu cabelo que já apresentava um comprimento maior que ondulava e dava um ar refinado e rebelde ao mesmo tempo, faziam com que parecesse algum príncipe vilanesco de livros de fantasia por trás de uma beleza que chegava a ser irritante.

Bem, em segundo lugar, e isso foi importante de verdade para o desfecho de seu plano, Regulus abraçou bem sua posição como herdeiro. Diferente de Sirius que ignorava os assuntos familiares durante as refeições ou apenas se manifestava quando ficava revoltado, Regulus opinava com coerência e surpreendia seus pais a cada vez que o fazia, o que chegava a dar pena de reparar, pois apenas confirmava que se não fosse pela deserção de seu irmão, provavelmente viveria na sombra e nunca teria reconhecimento algum dos pais. Orion geralmente apenas bebia e soltava opiniões para mostrar que tinha algum neurônio funcionando, mas eram sempre opiniões muito óbvias para a linha de raciocínio de pessoas como Walburga, Regulus e Thomas. Ver mãe e filho debatendo formas de contornar os boicotes de Perseus era um deleite para o intelecto de Tom, era bom finalmente poder ouvir algo minimamente complexo para exercitar sua mente, pela primeira vez desde a morte de Myrtle, alguém além dele mesmo estava fazendo sua mente trabalhar a todo vapor para compreender o que estava acontecendo ao seu redor.

Apesar de ser incrível ver a mente de Regulus trabalhando explicitamente em cada jantar, também reconhecia que aquele garoto era uma ameaça, ele era observador e lia pessoas tão bem quanto Tom, o que indicava que poderia perceber a ameaça sob seu teto muito em breve. Era frustrante tentar entender se Regulus já sabia de algo e mantinha oculto por sabe-se lá qual razão ou se não tinha notado porque realmente não dava a mínima para a existência de Tom naquela casa, toda vez que Riddle sentava para refletir sobre isso acabava caindo em um limbo de "se", "sabe-se lá", "talvez", "ou" atrás de "ou", e nunca conseguia chegar nem perto de uma teoria concreta sobre aquele garoto.

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