Capítulo XXIV

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A casa era praticamente um chalé pelo tamanho, simples demais para o seu gosto, mas confortável. A identidade de Remus estava estampada em cada metro daquele lugar, o toque rústico e estampas não tão exageradas expunham o quanto Lupin foi influenciado pela mãe trouxa nos gostos decorativos. Cruzando a sala que tinha uma lareira de pedras grande o bastante – ou talvez o espaço da casa fosse pequeno o suficiente – para que o calor da chama chegasse à cozinha, observou que nas paredes haviam algumas fotos de Sirius com Remus, sozinho, com James, com Lily, todos juntos, e cada uma trazia aquela dor terrível de um nó sendo formado em sua garganta.

Enquanto Remus preparava chocolate quente, Regulus sentou à pequena mesa redonda no centro da cozinha e observou o ambiente em silêncio. As janelas traziam uma iluminação aconchegante, tinha uma mescla de verde pastel e branco na mobília, e apesar de ser um lugar pequeno, não era claustrofóbico nem dava uma sensação de aperto. O cheiro de chocolate incendiou o ar e trouxe uma nostalgia boa ao mesmo tempo que dolorosa: Remus preparando a bebida em sua casa enquanto Sirius conversava sobre qualquer baboseira que fizera com James no fim de semana ou importunava Regulus como qualquer irmão faria, e depois assistiam juntos a qualquer filme horrível no projetor que Remus trazia, faziam piadas sobre todas as coisas comicamente terríveis e assim Reggie mal via o tempo passar enquanto Tom estava fora. As vezes não viam filmes, Remus preparava o chocolate quente em silêncio e não deixava Sirius lhe importunar enquanto estava ocupado com algum estudo ou com qualquer coisa que declarasse ser importante.

Queria voltar no tempo e aproveitar mais aqueles anos que sequer eram tão distantes assim, quanto mais pensava no quanto foi bom aquele período, mais odiava seu presente. O que não daria para ter Sirius lhe importunando naquele exato segundo e dizendo algo do tipo "Foda-se essa merda, você não vai ficar com essa cara. Quer saber? Eu vou vestir você como um jovem de verdade e nós vamos tomar umas no show do Black Sabbath. É isso. Vamos, vamos!", ou então, "Está vendo, Moony? Eles têm uma filha! Por que nós não temos?" e então começaria toda a ladainha dramática entre eles enquanto Regulus fingia não se divertir com a cena, engolindo as gargalhadas para prolongar a discussão deles um pouco mais. Com toda certeza ele diria "Puta merda, Tom fodeu com a Bella?! Cacete... ele é mesmo maluco!". Pensando nisso, em todos os trejeitos de Sirius ao falar tudo isso, Regulus riu silenciosamente com uma sutil linha cintilante de lágrimas formada abaixo das íris.

─── Aqui está. ── Remus depositou na sua frente uma generosa caneca com chocolate quente, chantilly e canela polvilhada. Sentou ao seu lado carregando uma caneca semelhante. Regulus murmurou um agradecimento e bebeu o primeiro gole. ── Velhos hábitos não mudam, pelo visto.

Confuso, olhou para Remus e teve a resposta com um simples aceno com a cabeça na direção da blusa que vestia. Havia esquecido completamente que estava usando aquilo. O moletom de Thomas que geralmente usava em dias mais frios, dizia sempre que usava porque era mais quente do que seus próprios casacos, mas sempre gostava de vestir – não importava a estação – qualquer peça de roupa que permitisse sentir o cheiro dele.

─── Você não vai fazer a pergunta óbvia?

Pequenas linhas de expressão ficaram mais evidentes na testa, nos olhos e nas bochechas quando Remus riu, trouxeram um ar ainda mais maduro ao rosto dele. Percebeu pelo brilho nos olhos dele – não aquele brilho típico de quem acabara de chorar na porta da própria casa – que não era o único sendo atingido pelo sentimento de nostalgia. Ao menos Remus parecia lidar melhor com isso.

─── Você sempre detestou esse tipo de previsibilidade e seria anticlimático lidar com seu mau-humor agora.

Regulus inevitavelmente riu. Ao levar a manga do moletom aos olhos para enxugar o resquício das lágrimas do seu acesso de choro minutos atrás, sentiu o cheiro do perfume de Tom e seu peito apertou, veio um misto de saudade e rancor do qual não gostou nada de experimentar, soava mais como um drama que seu irmão viveria.

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