7 DIAS ANTES
Hammersmith e Fulham era o tipo de bairro que fedia a subúrbio, apesar de ser um dos mais caros de Londres. Ali moravam as famílias que com muito esforço, mérito e atividades ilícitas que entravam na declaração dos impostos como "investimentos independentes", saíam da posição de classe-média e subiam para média-alta ou alta. A família Crouch entrava no segundo caso, claro.
A única sujeira presente nas ruas era de folhas que caíam das árvores tediosamente perfeitas. As casas eram tediosamente simétricas e limpas, algumas pintadas completamente de branco e esta cor era mantida imaculada. Os vizinhos bisbilhotavam qualquer movimento estranho após os horários de pico por trás de cortinas caríssimas que sempre rendiam vanglória para qualquer visita e era necessário ter um bom conhecimento do bairro para saber como agir. Havia apenas uma única casa habitada naquela rua durante o horário comercial além da mansão dos Crouch, onde vivia um viúvo enxerido.
Parado na frente da porta, aguardando ser atendido, Tom se pegou pensando com um humor ácido que aquela família achava estar no mesmo patamar das outras famílias do Conselho Bruxo, mas na verdade estava mais perto de entrar na lista de recebedores das doações mensais à caridade delas. Acontece que aquela era a mansão mais cara do bairro, mas devia custar pouco menos da metade do valor de uma mansão nos bairros onde as outras famílias residiam. A casa dos Black em Grimmauld Place podia não ser esteticamente majestosa como aquela casa, mas tinha um dos m² mais caros de Londres e era, provavelmente, a propriedade mais barata da família.
─── Pois não?
Uma mulher de trinta e poucos anos surgiu quando a porta se abriu. Possuía pele pálida com bochechas rosadas e um toque aveludado proporcionado por uma maquiagem sutil. Ela usava um vestido de renda com toque vitoriano num tom de azul tão claro que podia ser facilmente confundido com branco e seu cabelo, um tom de loiro escuro idêntico ao do filho, estava preso em um coque cheio de cachos frouxos que traziam mais beleza e jovialidade ao seu rosto. Os olhos eram de um intenso tom azul que, por algum motivo, acentuava o tom róseo de seus lábios. Agatha Crouch era dona de uma beleza etérea.
─── Perdão, entende o que digo?
Tom perguntou em um italiano carregado de um forte sotaque periférico que aprendera com colegas de trabalho do porto onde fazia bicos semanais. Não teve dúvidas de que sua imitação estava impecável, Agatha sorriu com familiaridade à língua materna da qual apenas ela compreendia naquela casa e claramente sentia falta de ouvir.
─── Sim! Italiano é minha primeira língua, querido.
─── Graças aos céus! ── fez o sinal da cruz finalizado com um beijo no próprio dedo indicador, tal como sabia que bruxos italianos faziam, já que o catolicismo romano ainda tinha alguma influência nas famílias mais tradicionais por lá.
Apesar de Tom ser mais alto, Agatha o encarava como se visse um garotinho, e isso era graças ao visual propositadamente ingênuo e interiorano de uma calça marrom com as barras dobradas até pouco abaixo dos joelhos, botinas marrons com cadarços de cano alto, uma camisa velha amarelada de manga comprida e um colete marrom xadrez também com um ar envelhecido interiorano. Para esconder melhor seu rosto, usava um quepe cinza também envelhecido que ganhara de um velho colega de trabalho antes deste voltar à Sicília um mês atrás.
Tom parecia ter vindo diretamente de uma periferia da Itália para tentar a sorte em Londres.
─── Angelo, meu amigo, pediu que eu pegasse um ônibus e o encontrasse, mas acho que confundi o endereço e desci longe demais. As ruas têm nomes muito confusos por aqui, parecem tão idênticas, céus! Estou andando a horas e não faço ideia de qual caminho tomar, não entendo as orientações.
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The Heirs
FanfictionEm um mundo falsamente utópico onde a ascensão bruxa ocorreu em cima de um tirânico sistema de escravização de trouxas, Tom Riddle - erroneamente julgado como trouxa e condenado à escravidão aos cinco anos - tem como ambição chegar ao topo da aristo...