Epílogo

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CASTELO DE NURMENGARD, 2004

A cela era estéril. Antes tivesse algum cheiro para entreter suas narinas, mas não. Olhos desatentos diriam que tudo ali era branco: as paredes, o teto, o piso, o colchão, o lençol, mas não. Havia em tudo ali um leve tom de azul muito sutil para quem não apodreceu naquele inferno por dezessete anos, mas - ho-ho, acredite! - dava para perceber esse capricho que estimulava um constante estado depressivo. Sabia que cada detalhe foi escolhido a dedo pelo desgraçado para tornar sua prisão perpétua algo pior do que a morte, o tédio era uma tortura pior do que qualquer surra.

Não conseguia usar magia ali, a comida vinha três vezes ao dia pontualmente e glorioso era o dia que o clima mudava para que pudesse quebrar a monotonia de olhar pela minúscula janela e ver mais azul. Era um maldito purgatório.

Lá fora, o sol estava terminando de ser engolido pelo horizonte, esperava o sono vir enquanto assobiava uma versão maldosa de Marinheiro Bêbado - Trouxa Bêbado, seu pai sempre cantava para si - até que milagrosamente viu a porta se abrir. Não havia cautela dos guardas, não havia alarde. Sendo franco, o corredor estava muito quieto para aquele horário.

"Ótimo, serei morto por alguém que pagou uma boa grana, assim espero.", pensou com uma infante esperança. Abriu um sorriso cortês enquanto sentava, mas desapareceu no instante em que viu quem era o visitante.

─── Não. ── murmurou sentindo a raiva crescer por seu corpo, cada fibra sua estremecera de ódio ── EU MATEI VOCÊ!

─── Você é ótimo em convencer as pessoas disso, apenas.

Ele continuava jovem, mas podia ver a maturidade nos seus olhos, a pretensão e toda a arrogância de um bruxo que se tornara poderoso e sabia bem disso. Se um dia teve a certeza de que venceria Voldemort em um duelo, agora já não tinha mais tanta certeza assim; o pirralho andou fazendo a lição de casa.

Perseus transformou sua ira em um acesso de risos que não chegava perto da histeria, manteve alguma classe. Estava fodido, mas ainda era perfeitamente lúcido e tinha que admitir: o desgraçado era bom.

Tom tirou do bolso uma belíssima navalha e puxou a cadeira para que Perseus sentasse ali. O fez em silêncio, não parecia necessitar de diálogo entre os dois, apenas olhares entregavam toda uma troca cínica de farpas misturada com respeito, contudo, ainda eram inimigos e um passo em falso transformaria aquele ambiente estéril em um banho de sangue.

Tom fez questão de usar o meio mais trouxa possível no processo, usou uma espuma barata de barbear e deslizou calmamente a navalha pela barba longa.

─── Sua família lidou com uma profecia por gerações. ── Tom começou. ── Conte-me sobre como funciona.

─── Profecias são subjetivas, elas podem mudar conforme suas ações. No começo nossa sina seria uma criança mestiça, depois mudou para uma criança mestiça criada como escravo. ── o fio da navalha passava por sua garganta como se flertasse com as chances, mas Perseus permanecia calmo.

─── Então pode ser evitada... ── não soube dizer se aquilo foi uma pergunta ou uma afirmação, mas de qualquer forma fez Rosier rir.

─── Problemas no paraíso, Tommy?

─── Não por muito tempo.

O restante da barba foi removido sem uma troca de palavras sequer, Perseus reparou apenas que Riddle mantinha um olhar distante, estava quebrando a cabeça com alguma coisa grande. Depois de ter o rosto limpo, seguiu as instruções para facilitar o corte de cabelo. De novo, Tom usou apenas a navalha, nada de feitiço.

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