Capítulo XXI

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1985

"Minha mãe, sua mãe, no tronco a voar. Minha mãe, sua mãe, bruxas sem chorar! Minha mãe... sua... sua mãe, bruxas vão pagar!"

Rodolphus já sentia a nuca dolorida, não batia com tanta força na parede onde estava encostado, mas a constância do movimento já causava uma irritação na região. Os dementadores, a comida com gosto de merda, as surras que as vezes levava de alguns guardas, o cheiro pútrido de Azkaban, podia aguentar tudo aquilo, mas estava a um passo de rachar a própria cabeça para morrer de uma vez e não precisar ouvir por mais uma hora sequer aquela maldita música.

"Céus, cale essa boca!", Rabastan gritou da cela ao lado, a parede de tijolos não barrava os detentos vizinhos de suportarem aquela cantoria repetitiva desde o momento em que Bellatrix acordara.

─── Não adianta, ela não vai calar a boca. ── Rodolphus murmurou, exausto, mas depois de quatro anos dividindo a cela com ela, já tinha aceitado a derrota para a loucura que tomou a mente da parceira.

Bella estava com as unhas compridas, as usava para cortar a própria pele e ter sangue para rabiscar a parede com desenhos desconexos, tributos simbólicos ao seu Lorde das Trevas. Os cachos estavam desgrenhados, ela fedia exatamente como alguém que tomava um banho a cada três meses à força cm jatos potentes de água atirados pelos guardas do lado de fora da cela, tinha hematomas disputando espaço com as manchas de sujeira, todos causados por ela mesma quando repentinamente entrava em um episódio de histeria do qual ninguém além de Lestrange tinha culhões para conter, as marcas no pescoço e peito dele mostravam ainda estar se recuperando do último surto.

─── Bruxa número um, no rio afogada... bruxa número dois, será enforcada... bruxa número três, vamos ver queimar... bruxa...

A música parou gradativamente. Rodolphus abriu os olhos para averiguar se aquilo era um milagre ou um prelúdio para outro ataque e a resposta estava bem ali do outro lado das grades, um guarda observando Bella com uma cobiça nojenta. "Outro coitado", ele pensou rindo internamente. Black levantou do chão e cruzou a cela com a velocidade de uma flecha, grudou nas barras com força e o choque do seu corpo magro gerou um estrondo assustador.

─── Você quer? Entre aqui então! Venha! Venha, seu cretino! Entre aqui e me coma! ── ela gargalhava histericamente, chacoalhava as barras com tanta violência que gerava um som tremeluzente que bastou para o rapaz recuar empalidecido, mesmo ciente de que não tinha chance alguma dela conseguir cruzar aquela barreira. ── Eu posso gritar se quiser, posso implorar que pare! Hm? Vocês gostam quando as detentas fazem assim, não é?! ENTRE AQUI, QUERIDO!

E Bella gargalhava, batia a testa nas grades até o sangue escorrer pelo rosto, esticava os braços para fora para tentar agarrar o rapaz e permaneceu sustentando aquela cena aterrorizante até ele desaparecer do corredor, então, assim subitamente, se calou e ficou estática agarrada às barras por pouco mais de um minuto.

─── Minha mãe, sua mãe, bruxas vão pegar. Minha mãe, sua mãe...

─── Puta merda... ── Lestrange murmurou fechando os olhos novamente e recobrando o ato vicioso de bater a nuca na parede.

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As bandejas ficavam dentro da cela, a única refeição diária que tinham vinha sempre ao anoitecer e não podia ser economizada para comer durante o dia seguinte, ela sempre ficava azeda antes, isso quando não chegava já com o terrível gosto de comida podre. Pontualmente, a gororoba cinza com pedaços de sabe-se-lá-o-que surgiu para cada prisioneiro, Lestrange encerrou as flexões para iniciar seu pequeno exercício de criatividade para se forçar a acreditar que estava comendo um suculento bife retirado da perna de seu pai ou da última piranha com metade da idade dele com quem devia ter se casado para substituir a última.

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