Capítulo XXII

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31 DE DEZEMBRO DE 1977

A cultura melancólica de não comemorar o próprio nascimento não era algo apenas de Thomas, muitos escravos chegavam a ser agressivamente aversos, mas o garoto se limitava a apenas tratar o dia como qualquer outro e queimar os cartões que Sirius tendia a mandar porque ele acreditava piamente que afeto insistente venceria as sequelas de um trauma. Sendo aquele dia como qualquer outro, estava sentado na cama, rodeado de papéis que iam desde esboços de técnicas avançadas de legilimência até alguns venenos que poderiam vir a calhar.

Passos abafados da meia contra o piso chamaram sua atenção, os olhos permaneceram na papelada, mas já não estava mais focando na leitura porque tudo estava calmo demais naquela manhã, uma tranquilidade que já sabia bem ser o prelúdio para um Regulus entediado buscar formas de se entreter e geralmente encontrava entretenimento importunando Tom.

─── Está ocupado?

─── E isso te impediria de alguma forma? ── Riddle rebateu, deixando no canto dos lábios a sombra de um sorriso evidente.

Regulus emitiu o seu clássico estalo na língua, agarrou um amontoado singelo de papéis de cima da cama, os enrolou e bateu na nuca de Thomas, tudo feito em uma velocidade surpreendente. A carranca de Black nada mais lhe rendia do que risos e estes apenas faziam o garoto ficar ainda mais ranzinza e tendencioso a bater mais uma vez em sua nuca, mas o segundo golpe foi completamente frustrado por um puxão de Tom que o fez cair em cima de seu colo.

─── Eu acho fascinante como você torna o fato de estar apaixonado por você ser meu pior castigo. ── ele insistia em resmungar, contradizendo todo aquele repúdio ao se ajeitar sobre seu colo com os joelhos apoiados no colchão.

─── Eu garanto a você que se fosse possível escolher por quem me apaixonar, a minha última escolha seria um fedelho arrogante com Complexo de Deus. ── Tom retrucou, usando um timbre ácido, enquanto seus olhos pairavam sobre os próprios dedos que abriam os botões da camisa de Regulus calmamente.

Apenas quatro botões foram abertos, o suficiente para dar espaço para sua boca trilhar desde a clavícula até o pescoço. Sentia os anéis de Regulus rasparem em sua nuca ao passo que os dedos buscavam os fios mais longos para segurar, isso sempre lhe provocava uma onda particular de arrepios que gostava mais do que deveria. Suas mãos deslizaram pela cintura esguia do garoto, por baixo da camisa, até os braços rodearem o corpo completamente e puxarem para mais perto do seu torso, a essa altura sua boca já explorava o ombro dele.

Sentiu o suspiro quente dele colidir com sua pele, os dedos soltaram seu cabelo e começaram a acariciar com uma delicadeza que não deveria pertencer a alguém que fazia tantas atrocidades com aquelas mãos quando estava vestindo o manto de Comensal. Riddle parou os beijos no seu ponto favorito, a curvatura que ligava o pescoço ao ombro, ali podia sentir tudo o que mais amava nele, o perfume caro e perfeitamente harmonizado como se tivesse sido feito especialmente para Regulus, o pulso forte que para si era sempre uma melodia anunciando que Regulus estava perfeitamente vivo, o toque aveludado da pele, o calor confortável que tornava perigosamente difícil querer se desvencilhar dali. Thomas se deixou ser emaranhado naquela teia traiçoeira que era Regulus Black, seus braços permaneciam ao redor do corpo dele da forma mais carente possível e quase implorou em voz alta que a carícia em seu cabelo não acabasse nunca mais, que ficassem assim eternamente porque era bom, era seu refúgio.

─── Eu tenho algo pra você. ── Black anunciou depois de quase cinco minutos de puro – e doce - silêncio.

O garoto recuou para que houvesse um espaço mínimo entre eles para que suas mãos se movimentassem, nada muito espalhafatoso foi feito, apenas um gestou com as mãos unidas e depois se afastando ao passo que uma caixa fina de presente vermelha surgisse. O rosto de Thomas começou a enrijecer, aquilo era uma decepção e tanto, porque sabia que de todos, Regulus era quem sabia melhor sobre o quanto era infeliz aquela data.

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