Capítulo XXVII

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A cadeira soldada ao piso começou a virar um elemento irritante depois do quinto soco em seu rosto, teria sido muito menos doloroso se simplesmente caísse no chão quando fosse golpeado e levasse chutes em seu abdômen, uma sequência de espancamento clássica e muito eficaz, além de render sua dose de diversão para quem aplica e ao mesmo tempo poupar um pouco para quem recebe, afinal não necessita de mais do que uma boa força nos músculos para diminuir a dor e o estrago nos órgãos vitais.

Como se esse tipo de preocupação se encaixasse no seu caso. Francamente.

Esse pensamento completamente irrelevante apenas servia de distração para Thomas, cada golpe quebrava sua dissociação e bastava mais uma avalanche de analogias fúteis para "se desligar" antes que a dor viesse com força total.

A dor era irritante, no começo ria para provocá-lo, vez ou outra vinha uma maldição cruciatus que começou a ficar previsível demais; enfim veio o sentimento de tédio.

Já devia ser o quinquagésimo soco ou algo assim – parou de contar quando a graça foi embora e já estava começando a ficar irritado com o fato de que sua noite estava sendo desperdiçada ali – quando cuspiu um de seus molares no chão junto com um belo acúmulo de sangue e saliva, outro dente já estava novo em folha no lugar do que foi arrancado. Tom estalou a língua da forma mais irritante que podia expressar seu tédio, bufou como se tudo aquilo fosse enfadonho - a verdade é que fez exatamente o que odiava ver Regulus fazer quando discutiam.

─── Estou entediando você, Tommy?

─── Um pouco, sim. ── moveu sua mandíbula semiaberta para lá e para cá na tentativa de aliviar a tensão ── Mas acho que parte disso é culpa minha, eu esperava mais desse nosso encontro, minhas expectativas foram altas demais. Ou talvez você só esteja mesmo ficando velho demais para isso.

Foi impagável a indignação escrita no rosto de Rosier quando ouviu algo tão pretensioso.

Tom relaxou da melhor forma que pôde naquela porcaria de metal tendo suas mãos atadas nas costas e os tornozelos na base do assento. Sua cabeça pendeu para o lado preguiçosamente e suas pálpebras pesavam de forma desdenhosa.

─── Que tal acabar com esse show medíocre de tortura e só pular para a parte onde você faz as perguntas que quer e eu as respondo?

─── Acha que isso vai fazer com que eu solte você?

─── Eu não sou amador nisso, Perseus, provavelmente vou acabar enfiado dentro de uma parede já que sou imortal, mas qualquer coisa é menos tortuosa do que suportar isso. ── ele ainda parecia relutante à sua oferta. Compreensível, afinal, não devia ser fácil. ── Aceite a proposta, vamos acabar logo com isso. Você, mais do que qualquer pessoa, devia valorizar mais o tempo precioso que poderia estar passando ao lado do Evan. Ou será que você só não tem culhões para ver seu filho morrer e está ganhando tempo aqui?

O enésimo soco veio imediatamente. Dessa vez Thomas riu descaradamente, sua boca novamente preenchida de sangue até ser demais para aguentar dentro e acabar escorrendo queixo a baixo. Esse doeu mais do que os outros, mas pelo menos foi o último já que Rosier finalmente sentou, disposto a conversar.

─── Como posso reverter o que fez com meu filho?

─── Eu podia jurar que você iria adorar ver seu filho com uma data de validade pairando sobre ele, quem diria. ── não foi uma resposta sensata, mas não tinha nada a perder. Ao menos não dentro do conhecimento de Perseus. ── Afinal você ama fazer isso com os filhos dos outros.

O riso que exalou de Perseus foi amargo, também tinha uma ponta de tédio como um "lá vamos nós". Ele relaxou as costas na cadeira, os joelhos pressionaram os seus conforme o corpo cedia no assento, mas Thomas não se esforçou para se livrar do incômodo.

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