Capítulo VII

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Três coisas difíceis que encarou ao longo da vida estavam datadas em sua memória:

1 – 15 de outubro de 1966, o dia em que matou sua mãe por acidente. Aquele dia inteiro em si foi difícil.

2 – 15 de agosto de 1971, o dia em que sua única amiga se jogou do telhado do orfanato para não ser entregue a um prostíbulo.

3 – 14 de abril de 1976, o dia em que precisou arrumar a bagunça de um jantar e agir como se não tivesse acabado de transar com o filho dos seus senhores, que por acaso também se revelou extremamente apaixonado por si, e esse sentimento era recíproco.

Digerir tudo isso enquanto tentava não quebrar uma delicada porcelana dentro da pia às duas da manhã era mais difícil do que imaginava. Mais difícil ainda era lutar contra o instinto de subir de volta ao quarto de Regulus apenas para saber como ele estava digerindo tudo aquilo, porque "conversaremos quando ficarmos a sós na casa" não era muito esclarecedor.

Haveria um grande evento de cinco dias após o domingo de páscoa, tratava-se de uma espécie de encontro entre bruxos da alta sociedade de toda a Europa na mansão onde Grindelwald e Dumbledore passaram os últimos anos de suas vidas, também era onde seus corpos foram sepultados, ficava em algum lugar remoto da Noruega. Ali, leilões beneficentes, apresentações de projetos sociais, reuniões cobertas pela mídia – e outras feitas em absoluto sigilo – ocorriam para mostrar como a elite se importava com os menos afortunados. No caso, bruxos menos afortunados, trouxas apenas entravam na folha de pagamento pública, mas na prática já era de se esperar que não recebessem um tostão de caridade.

Orion era o chefe da família e precisava estar lá, Walburga era a esposa e também deveria marcar presença, afinal seu marido não fazia nada politicamente relevante, mas Regulus não precisava ir se não quisesse, herdeiros iam a esse tipo de evento apenas para beber, comer e talvez criar amizades lucrativas de alguma forma. Tudo o que precisava fazer então era esperar até o domingo de páscoa, que seria quando Orion e Walburga partiriam em viagem, e teria cinco dias para planejar os próximos passos do seu plano, além de experimentar algo inédito que era ter apenas ele e Regulus na casa, além de Kreacher, mas esperava que aquele elfo não fosse um estorvo.

Até lá, tudo seguiu exatamente como sempre foi: Reggie mal saía do quarto e quando o fazia, ignorava a presença de Tom com maestria. Agora que sabia a verdade, tinha que aplaudir o quão bem o garoto escondia os sinais na frente dos familiares.

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Era sábado, pouco mais de meia noite, quando Kreacher entrou no sótão e interrompeu os estudos de Thomas. Não tinha como evitar o sentimento de expectativa com aquela visita, sabia que se o elfo estava ali era para passar algum recado de seu mestre.

─── Sua presença foi solicitada por mestre Regulus. Pegue sua varinha e acompanhe Kreacher.

O elfo sussurrou durante aquele pequeno trajeto um feitiço que impedia o piso e os degraus de rangerem quando pisavam, nem mesmo a porta do quarto fazia barulho ao ser aberta.

Sentado no sofá posto de frente para o pé da cama, Regulus carregava um semblante pensativo e descontente. Ao seu lado estava a mesma garrafa de whisky trouxa e barato com muitas doses a menos do que da última vez que viu, ele deslizava a borda do copo sobre o lábio inferior enquanto se perdia em sua própria mente, o tornando praticamente inacessível de conversar.

─── Temos um problema. ── finalmente disse, em seguida virou todo o conteúdo do copo de uma só vez na boca.

─── Um? ── Tom indagou arqueando as sobrancelhas ── Minha última visita a esse quarto nos garantiu pelo menos três problemas.

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