Greaser | Bakudeku

Eu não sou isso!

O capítulo de hj terá conteúdos BEM sensíveis ⚠️⚠️ então peço que leiam com muito cuidado.

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Quando se fala sobre início de amizade, é sempre comum esperar um detalhe esquisito ou engraçado, daqueles que criam uma divergência em relação a qualquer outra que se faz durante a vida.

E com Kacchan não foi diferente.

Primeiro, houve a mudança. Saída de uma cidade maior para outra menor. Um Midoriya magrelo de quatro anos carregado por uma mãe de feições exaustas, mas sóbrias. Ela não poderia fazer diferente, afinal, tudo estava em suas mãos a partir de agora.

A vida foi cruel: não lhe deu tempo de nem mesmo lamentar a viuvez prematura. Precisou se mexer rápido. Tomar uma decisão. E assim, uma vida foi deixada para trás e outra abriu-se no horizonte: incerta e cheia de percalços. Estava sozinha, mas tinha uma criança para cuidar e amparar. Isso era suficiente para levantar da cama e calçar os sapatos.

Para Midoriya, toda a mudança foi recebida com empolgação e curiosidade; para sua mãe, com estresse e muita pressão. Chegar ali provou-se uma dificuldade imensa e muitas coisas tiveram de ser deixadas para trás durante a viagem. Ao menos, conseguiram manter o essencial.

A casa nova era pequena, mas tinha uma varanda muito legal recheada de vigas para subir e descer até o quintal. Claro que Izuku não foi o primeiro a testar isso; na verdade, copiou a demonstração que assistiria a outro garoto fazer semanas mais tarde — na qual acabaria caindo. O cheiro era velho e tinha muito pó. Teias de aranha para todo lado. Logo no primeiro dia, o nariz já estava vermelho e escorria em abundância. Sua mãe mandou-o ficar lá fora enquanto limpava, mas ele preferiu ficar e ajudar como podia. A verdade era que tinha medo da rua e dos rostos curiosos de pessoas que não conhecia.

E elas não tardaram a aparecer. Tinha de todos os tipos: velhos, adultos e crianças chorosas. Felizmente, foram muito bem recebidos pela vizinhança, que se dispôs a ajudar na mudança como podia. Midoriya ficava escondido embaixo da pia quando ouvia vozes estranhas e só saía quando a mãe o chamava. Sempre foi um garoto tímido.

Mas elas provaram-se muito simpáticas. Sempre tinha uma torta de frango ou um ensopado para as refeições. Mamãe não cozinhava, pois estava ocupada limpando cada centímetro do lugar. Ela já tinha o costume de ser fissurada com isso, mas Midoriya achou que nessa ocasião ficou dez vezes pior. O primeiro cômodo a ficar pronto foi o quarto dela, onde dormiram juntos por um bom tempo até o seu ser preparado.

Como já mencionado, nunca atendia às visitas, mas no terceiro dia não conseguiu escapar. A mãe estava ocupada tirando a sujeira atrás do móvel enorme da sala. A primeira coisa que fixou foi a cascata de cabelos loiros da mulher alta parada na porta. Os olhos vermelhos o assustaram. Até demais. Correu para a barra da saia da mãe.

— Oh, você também tem um moleque? — a mulher loira pareceu positivamente feliz. — Ele deve ter a idade do meu Katsuki.

Midoriya ouviu falar muito nesse tal Katsuki durante os dias em que a mulher loira voltou e ajudou a limpar e desempacotar as caixas. Só chegou a conhecê-lo uma semana depois.

Ela e sua mãe viraram super-amigas. Tia Mitsuki — tratamento obrigatório decretado por ela — era muito falante e energética. Sua voz, ao mesmo tempo que soava amável e legal, parecia sair de um verdadeiro monstro quando gritava. O famoso Katsuki foi o motivo para a exaltação dela, no dia em que finalmente se conheceram.

— Não mostra a língua para o Izuku, moleque mal-educado!

Midoriya sentiu mais medo do grito dela do que do gesto feio que recebeu, e foi isso que o levou a chorar. Katsuki, claro, levou a culpa. Ele era uma cópia da mãe dele, assim como Izuku era de sua própria. As personalidades também batiam nesse ponto, e não foi surpresa Katsuki gritar com ela de volta. Tia Mitsuki ficou brava de verdade. Ele recebeu uma bofetada na nádega esquerda. Midoriya impressionou-se ao vê-lo não permitir que uma só lágrima escapasse de seus olhos cor-de-fogo e injetados de água.