Eu odeio os dormitórios

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Oi oi, demorou um pouco, né? Quem acompanha as atividades do site viu a mensagem que deixei lá e o motivo da demora, pra quem não viu vou ser breve> a família toda pegou a porcaria da covid - incluindo eu e a Sahh - e ficamos essas semanas todas nos recuperando; repousos (quem me dera), remédios, xaropes (a Rochele aprova👍) e etc. Estamos 95% melhor agora, obrigada a quem se preocupou e pelas mensagens de força <3

Em compensação temos <15K> pra vocês se afogarem, uma troca justa por conta da demora ;) pra quem não gosta de capítulo longo, sinto muito, mas daqui pra frente é essa vibe. Boa leitura!

***

— Posso ficar aqui esta noite?

Midoriya piscou. Não conseguiu entender a frase de primeira. Um tanto elusivo, usou como desculpa para sua lerdeza o sono que já começava a dar as caras. Sua mente, porém, e como sempre, não ficou estagnada por muito tempo. A boca entreabriu-se, e um quê de obtusidade permeou o gesto, mão ainda apoiada na maçaneta.

— Mas... o quê? Você deixou... seu apartamento? Kacchan, o que iss—

— Eu explico depois, porra, agora só me deixa entrar — talvez Bakugou tivesse percebido que soou grosso até demais, pois amenizou em seguida: — Eu tô cansado, Deku. Pra caralho. Me dá uma mão, pode ser?

Não entendeu o sentido literal da expressão até Kacchan jogar dois travesseiros enormes em seus braços. O volume fofo cobriu seus olhos. As fronhas cheiravam a condicionador de limão. Afastou dois passos para trás, dando-lhe passagem. Não tinha como fazer diferente; Kacchan já foi entrando e não abriu um mero ensejo para questionamentos. Sem saber bem onde colocar, jogou os travesseiros em sua própria cama. Veria depois o que fazer.

Agora, sua maior preocupação girava em torno do que aconteceu para Kacchan estar ali, em plena meia-noite de uma segunda-feira, pedindo para dormir em seu quarto em vez de estar em seu apartamento, no "bairro dos greasers", há quinze quilômetros dali.

— Kacchan... — hesitou. Não conseguia ver bem a expressão dele naquela escuridão lúgubre do quarto, então foi até o abajur e o ligou. Teria usado o de Shinsou, mas ele o levou embora quando deixou o dormitório. Ainda não tinha trocado as pilhas, mas o ínfimo fulgor foi suficiente para que reconhecesse certa tensão nos olhos vermelhos. Os ombros também compartilhavam dela; rígidos por debaixo da jaqueta de couro. Ele não parecia machucado, mas também não dava para ver por cima da roupa. No automático, os olhos verdes desceram para os punhos expostos. Limpos. Ele não havia brigado. Pelo menos, não fisicamente. — Você tá bem?

— Tô — foi só o que ele disse antes de se virar e mergulhar no corredor pardacento novamente. — Tenho que pegar mais umas coisas no carro.

Midoriya passou cerca de dez segundos parado, sem saber o que pensar ou fazer. No décimo primeiro, já havia calçado os sapatos e partido atrás dele. No caminho, pegou um casaco de linho verde-musgo, pendurado nas maçanetas do guarda-roupa. Vestia só shorts e camiseta, e a noite estava notavelmente gelada.

— Kacchan — alcançou-o nas escadas. Descia com celeridade suficiente para não ter que falar tão alto e ao mesmo tempo tomava cuidado a fim de não sofrer uma queda no processo. Ao menos, não havia ninguém fora dos quartos. — Kacchan, fala comigo. O que aconteceu? Você e o Kirishima...

— Depois, Deku — ele repetiu, sem olhá-lo.

Atravessaram as portas e saíram no estacionamento vazio. Normalmente, haveria pessoas se drogando ali àquela hora, mas a fina — porém insistente — garoa cumpria com eficácia sua missão de manter todos dentro dos prédios. As gotas minúsculas atingiram suas panturrilhas nuas como um sopro arrepiante oriundo do próprio Bóreas. Estremeceu. Ainda bem que havia pegado o casaco. Acompanhou o greaser até estarem diante do carro dele. O porta-malas jazia aberto. E, contando com o auxílio da luz lunar...

Greaser | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora