Sou um homem doente

633 64 386
                                    

O título desse cap é o meu preferido da fanfic inteira, ao mesmo tempo que me faz chorar. Boa leitura <3 

***

— Izuku, qual acha que devo usar? A vermelha ou a rosa?

Distraído com uma abelha que rodeava o suco de melancia acima do banco, Midoriya demorou cerca de cinco segundos para olhá-la. Os olhos depositaram a atenção sobre a namorada ao lado, declinando alguns centímetros ante o gesticular de cabeça que ela concedeu, indicativa. Nas mãos delicadas, duas fitas jaziam estendidas. A vermelha possuía um pequeno coração bordado na ponta. A rosa era simples, sem grandes adornos ou floreios. Perscrutou o vestido que Ochaco trajava. Verde-claro.

— A vermelha — disse sem pensar muito.

— Ah, é? — ela olhou com curiosidade. — Por quê?

— Combina com seus sapatos — sorveu um gole do suco. — E com a sua boca.

Uraraka só fez rir baixinho, constrangida, mas satisfeita. Guardou a fita rosa e subiu a vermelha pelos fios castanhos e macios. Com apenas três movimentos, amarrou-a e moldou as mechas num adorável penteado cujos delineies exprimiam comportado recato. Perguntou se estava bonita. Midoriya confirmou. Ela o presenteou com um selinho carinhoso.

Depois disso, passou um tempo observando os arredores. Estavam numa praça a duas quadras da universidade. Alguns rostos conhecidos os cumprimentavam ao passar, evitando se demorar a fim de não atrapalhar o momento particular do casal. Almoçaram há meia hora. Ochaco expressou de cara seu desejo em sentar-se num dos bancos para conversar ou, como ela costumava dizer, "aproveitar a companhia um do outro". A busca por um banquinho que não possuísse pegadas enlameadas de crianças e cocôs de passarinho foi difícil, mas exitosa. Era o mesmo banco em que deram o primeiro beijo, diga-se de passagem. Só lembrou do detalhe porque Ochaco comentou quando se sentaram.

É. Estava meio aéreo.

— ... e isso vem me incomodando um pouco, sabe? — a voz de Ochaco o chacoalhou de volta à realidade. Olhou-a sem jeito. Não havia escutado nada. O que vinha incomodando-a?

Visando não passar uma imagem de ourado, resolveu agir naturalmente.

— É mesmo? — fingiu interesse.

— É — ela suspirou, apoiando-se em seu ombro. A textura suave da fita vermelha esfregou em seu maxilar duas vezes, sentido diagonal. — Meus pais são tão tontos. Acham que não estou de olho nas intenções deles com esses "jantares de negócios" lá em casa — fez aspas.

— Hum... — o cérebro, falhamente enfático, buscava uma lógica. Nada. Ainda não havia entendido o cerne da conversa. — As intenções deles estão bem claras pra você, então? — arriscou.

Agora os olhos dela evitavam os seus. Ochaco baixou-os às mãos pequenas, cujo agarre à saia rendada avigorou-se um tanto. Parecia... culpada?

— Sinto muito por essa situação, Izuku. Sei que não deve ser confortável para você, mas meus pais vão ter que aceitar.

Ok. Do que ela estava falando? Antes que jogasse a toalha e perguntasse, felizmente, ela continuou:

— Não importa quantos jantares eles arrumem para "estreitar os laços" com aquela família engomada, eu não vou aceitar. E aquele filho deles é tãããão sem graça — confidenciou num longo suspiro de lassidão, cujo silvo mudo de ar transmutou-se num baixíssimo assobio ao passar pela fenda dulcificada de seus lábios. — Só tenho olhos para você, Izuku. Então não ligue para o que meus pais pensam.

Ah. Agora as coisas faziam mais sentido. Possuía uma leve lembrança de Ochaco comentando há algumas semanas sobre os tais jantares que estava sendo obrigada a participar com frequência. O rapaz que ela mencionou era filho de um diplomata renomado; dinheiro demais e conteúdo de menos, segundo ela. Não o conhecia, mas confiava no senso julgador de Ochaco. Devia ser o maior mala.

Greaser | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora