Obrigado, Kacchan

566 71 121
                                    

Algum desgraçado havia esquecido de apagar as luzes da oficina. Mina ou Sero, com toda certeza. Já era a terceira vez só naquele mês.

— Filhos da puta...

Bakugou suspirou enquanto acendia outro cigarro rapidamente. Aquele já era qual? O décimo ou vigésimo? Perdeu as contas desde que deixou Deku no dormitório.

Estava estressado, sabia que sim. Conhecia muito bem o próprio corpo e a própria mente. Os pensamentos céleres. A palpitação no peito. A veia pulsante do pescoço. O tique irritante de acender e desligar o isqueiro a todo maldito segundo.

Mas que merda.

De toda forma, foi bom seguir seus instintos e não ir direto para o apartamento. Algo lá no fundo lhe dizia que alguém tinha esquecido as luzes acesas. Quando não era ele o último a deixar a oficina, a cisma surgia, não tinha jeito. E sempre acertava.

Resmungando, apagou-as, uma a uma. Perto dos galões de tinta automotiva, reconheceu uma poça amarelada. Poder-se-ia confundir com mijo de gato, mas sabia muito bem de onde tinha vindo aquilo. Bêbado desgraçado... Sero iria lavar cada canto daquele maldito lugar no dia seguinte, nem que tivesse que trazer aquele porra arrastado.

Antes de apagar a última, deu uma rápida checada no carro daquele nerd. Ótimo, ninguém tinha mexido em nada. As peças que testaria na manhã seguinte estavam bem-organizadas na bancada, como havia deixado mais cedo. Uma delas teria que dar. Sua paciência começava a ser testada. Aquele conserto estava sendo um verdadeiro desafio. Complicado e complexo. Assim como seu dono...

Ah, Deku. Sempre Deku.

A quem queria enganar? Toda e qualquer mudança no seu dia a dia, seja ela amena ou conturbada, originava-se dele. Sabia que a conversa no carro o deixou dessa forma estranha. Citar o passado sempre era uma péssima pedida, mas Izuku tinha a insistente mania de rememorá-lo vez ou outra. Não tinha outra forma de reagir senão com irritação e esquivamento.

Não gostava de lembrar daquilo. Muito menos falar.

E aquela fixação que ele tinha em dizer "obrigado" toda maldita vez que se viam... É, aquilo era o pior.

Katsuki sabia. Sabia que Deku não entendia essa parte. A achava injusta e, certamente, sem sentido. Mas não tinha como ser diferente. Em sua cabeça, todas as ajudas que já havia oferecido a ele, todos os socos que distribuiu, todas as proteções... não, nenhuma delas chegava nem perto de ser suficiente para preencher sua ausência no momento em que Deku mais precisou dele.

Para Katsuki, ele não tinha que ser grato. Mesmo tendo motivo.

Maravilha. Já estava pensando de novo. A mente humana era uma merda.

Resolveu apagar e fechar tudo antes que desse mais trela a ela. O novo cadeado era difícil de fechar, bem que Eijirou havia comentado... amanhã passaria um óleo nele. Teria que servir. Desde que montaram a oficina, um ano antes, ela já havia sido invadida seis vezes. Em duas, conseguiram recuperar as ferramentas roubadas e espancaram os caras até que eles esquecessem o nome das próprias mães — de resto, perda total.

Mas acabou dando um basta naquela brincadeira. Engoliu um pouco do orgulho e molhou a mão de um velho da esquina para que ele ficasse de olho durante a madrugada. Sua relação com ele não era das melhores. Ele era um filho da puta; daqueles de pior tipo. Tinha certeza de que o velhote tinha um dedo em pelo menos uma das invasões. Ele já fazia o "favor" de vigiar para muitos outros caras e vivia pedindo para que a oficina de Katsuki fosse incluída no pacote.

Depois de muitos "nãos" e "vai se foder", aquele maldito finalmente conseguiu arrancar dinheiro de seu bolso. Ao menos, depois que fizeram o acordo, nunca mais ninguém entrou lá. Ia completar três meses.

Greaser | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora