Greaser | Bakudeku

Você é muito "homem", né?

O campo de beisebol parecia maior que de costume naquele fim de tarde de segunda-feira, ou talvez fosse apenas Midoriya sentindo preguiça nas pernas. É, ficava na segunda opção mesmo.

Mas não podia ser diferente: seu corpo sofria até agora as consequências da limpeza aterradora que fez na biblioteca na semana anterior. No fim, acabou não resistindo e descartou a ideia de deixar os livros para o dia seguinte. Aquela madrugada foi realmente longa, e perguntava-se quando aquele cheiro forte de desengordurante sairia de suas mãos.

Sim, foi uma ideia burra. Como sempre, era perito em armar auto ciladas. Decidia uma coisa e fazia exatamente o contrário. No entanto, sabia muito bem que não conseguiria dormir sabendo que os livros passariam a noite toda naquela podridão de brilhantina, graxa e caramelo. No íntimo, esperava que o próximo joguinho eletrônico demorasse um pouco para chegar. Cinco meses, no mínimo.

De toda forma, atravessar o campo de beisebol foi mais desafiador do que o habitual. A noite ia caindo com rapidez. Os últimos raios laranjas, amarelos e vermelhos do sol davam às árvores uma luz meio dourada, meio queimada. Os jogadores estavam em campo, o treino quase no fim.

Aliviou-se. Pelo menos havia chegado há tempo e não precisaria esperar muito. Queria terminar a tarefa o quanto antes. Quase tinha esquecido daquela pendência até Tsuyu brotar na biblioteca e perguntar se já tinha feito a coluna sobre os atletas do beisebol.

— Precisa estar no jornal da universidade amanhã cedo, esqueceu? — ela avisou antes de sair.

Midoriya nunca dizia palavrões, tudo por princípios pessoais, é claro. Mas daquela vez não pôde evitar.

Impressionante como sempre tinha algo para estragar seus planos. Achava que finalmente teria um tempinho de paz no dormitório para ler as últimas edições de Flash Gordon e The Phantom, poxa! Havia terminado tudo cedo especialmente para isso. Agora teria que fugir dos idiotas que não perdiam tempo em disseminar tudo que acontecia nos quadrinhos. Não queria de jeito nenhum saber se Flash havia perdido a batalha histórica que estava ocorrendo no último arco. Já havia parado de falar com Kacchan uma vez por causa disso.

No fim, sabia que não conseguiria ler nada naquela noite. Mesmo que a "entrevista" com os atletas fosse curta, ainda precisava redigir a coluna para o jornal da UA. Devia ter feito isso há uma semana já, mas a correria dos estudos, o carro pifado e a biblioteca o fizeram esquecer completamente...

Bem, tentaria ver o lado positivo da coisa. Fazia um tempinho que não batia um papo com Iida, seu amigo e capitão do time de beisebol. Sabia que os treinos haviam duplicado de frequência, mas já era esperado considerando que a final contra a Shiketsu finalmente foi decidida. Estava ali por causa disso, aliás.

Observou-os. Havia sentado num dos bancos compridos na extremidade oeste do campo. Sua escolha foi estratégica: os vestiários estavam logo atrás, assim poderia detê-los quando passassem a caminho dos chuveiros. O treino já estava quase no fim agora. O céu foi tomado por um azul-escuro profundo, salpicado de estrelas e nuvens espaçadas. As luzes que rodeavam todo o campo acenderam-se, mas eles não conseguiriam continuar no escuro, de toda forma. Pudera; acertar uma bola à luz do dia já era difícil pra caramba.

Fazia mais uma noite quente. Midoriya começava a se irritar com isso. Odiava a estação. Tudo ficava pegajoso e os mosquitos não paravam de picar-lhe a pele exposta. Esmagou um no pescoço. O espertinho estava abastecido de sangue. Que nojo.

O ruim era não poder se desfazer das blusas de mangas longas mesmo em dias quentes como aquele. Quer dizer... poder até podia. Mas não queria.

Num gesto automático, os olhos desceram para a mão direita, circundando as rachaduras feias espalhadas por toda sua extensão. Embora cobertas pelo tecido cinza, podia visualizar mentalmente as que subiam por boa parte de seu antebraço. Chegava a ser assustador para quem visse, então optava por esconder. Só a mão ficava visível, mas todos já haviam se acostumado. Ochaco, uma vez, afirmou achar sexy antes de explodir de vergonha.