Isso é comodidade

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Bakugou quase bateu o carro. Faltou pouco, pouquíssimo pra caralho.

Seus reflexos os salvaram. O peso do corpo de Deku forçou sua perna a acelerar, o volante escapou de suas mãos por um segundo e o carro mudou radicalmente de direção. Uma árvore invadiu seu campo de visão um segundo antes de enterrar o pé no freio com tudo. Derrapagem violenta, um grito reprimido e, por fim, o silêncio.

O coração martelava no peito. Foi difícil fazer as mãos soltarem o volante; pareciam grudadas de tão forte que o apertava. Estava arfante, mas, felizmente, a mente não tardou a funcionar. A árvore estava logo adiante, mais trinta centímetros e teriam batido.

Porra, o que Deku estava pensando?

— Deku... — mexeu nele, de leve no início. Sem resposta. O rosto dele estava enfiado no vão entre a porta e sua perna esquerda. Chacoalhou o ombro dele com mais precisão agora. — Deku, acorda, caralho — ainda sem resposta. A partir daí, começou a se preocupar. — Deku? Deku, acorda aí... acorda, porra!

O corpo dele estava pesado. Desmaiado. Aquilo era sério? Ele realmente estava passando mal como disse antes? Bakugou respirou fundo, mas não se permitiu desesperar: ainda não. Com cuidado, ergueu-o; uma mão sustentando o tórax e a outra empurrando o ombro. Tirou-o de cima de si e moveu-o de volta para o banco ao lado. O rosto dele estava pálido. Os lábios naturalmente rosados, jaziam cinzentos.

Mas que porra tinha acontecido? Na hora da correria na mansão, não prestou atenção em nada senão em achar Deku. Viu poucos flashes: luzes vermelhas, garotas gritando e, ao localizar Deku no chão, reparou no meio-a-meio jogado perto dele. Aquele irmão mais velho estava debruçado sobre ele, mas não gravou mais que isso.

Pelo que tinha entendido, rolava uma briga antes de todos saírem em disparada quando a polícia chegou. Os caras de Shigaraki estavam ali. Alguém bateu em Midoriya? O rosto não apresentava marcas, mas não podia ver por cima da roupa. Seu corpo ferveu em ódio ante a hipótese. Se esse fosse o caso, se alguém tivesse encostado um dedo nele...

Podia considerar-se morto.

De volta ao carro, inclinou-se e segurou o rosto dele, forçando uma das pálpebras a abrir. Olhos vermelhos. Dilatados. Aquilo não era nada desconhecido para Bakugou.

Ele... havia se drogado?

— Porra, que merda aconteceu?... — deslizou os dedos pelas sardas delicadas, alcançando a bochecha até o pescoço. Ele estava suado. Quente. A veia lateral pulsava.

Impossível. Izuku não era desses...

Não sabia o que pensar. Não receberia respostas enquanto ele estivesse desmaiado. Precisava agir. Iria levá-lo até... o dormitório? Sim, o campus era mais próximo.

Voltou a ligar o carro. Graças a Deus, nada havia acontecido com ele, ou estariam ferradamente fodidos. Ainda perduravam no bairro dos mauricinhos, mas não havia uma só alma viva na rua. Devia ser perto da meia-noite. Antes, na mansão da Cara de Lua, viu um relógio no quarto onde estivera com Camie, e ele apontava onze e meia. É, devia ter passado vinte minutos de lá para cá.

Maldita hora em que resolveu ir com aquela vadia. Deku não estaria assim agora.

Havia... falhado? Mais uma vez?

Antes que começasse a sentir o sentimento de culpa lhe esmagar feito um trator, recobrou o foco e pensou nas atitudes que devia tomar. Agora não era hora de se arrepender pelo que fez ou deixou de fazer. Tinha que ajudar Deku.

Antes de dar partida, ajustou o banco dele para que se inclinasse. Mantê-lo deitado seria bom para que ele não caísse de novo com as curvas. O cheiro azedo de álcool e outras substâncias desconhecidas começava a subir pelo carro. O vômito dele.

Greaser | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora