Eu disse que hoje não

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⚠️ Nesse cap há uma cena de convulsão que pode despertar desconforto e/ou gatilhos, leia com cuidado!!

***

Um minuto e cinquenta e três segundos: foi este o tempo exato que aquela lata velha se manteve ligada.

— Maldição... — Bakugou estalou a língua.

Não desistiria. Nem ferrando. Se endireitando naquele banco gasto, tirou o cigarro da boca, atirou-o pela janela e girou a chave. O tranco veio, como queria. Contou: dez, vinte, trinta, quarenta... a estrutura inteira do automóvel tremeu.

E então, morto.

Cacete... das dez tentativas, aquela foi a pior de todas.

Mais uma vez. No rádio, uma música que sabia ser a preferida de Sero tocava. O barulho do motor a abafava um pouco, mas aquele bêbado não parecia estar ligando. Ele e Kirishima estavam enfiados no capô de uma sucata disfarçada de carro; mas isso mudaria. Aquela belezinha estava destinada a receber uma penca de ajustes, tudo com o objetivo de a usarem em rachas. Katsuki bem queria estar ajudando, mas já tinha compromisso com aquele maldito Hudson Hornet que mais parecia zombar de sua cara.

Fala sério, onde Deku havia encontrado aquele carro? No lixo? Ele bem tinha comentado sobre ter comprado por recomendação de um tutor... recomendação merda, então. Que piada. Custava a acreditar que há um mês aquela lata velha rodava livremente por aí. Não havia conseguido sequer tirá-la do lugar. Uma das peças que comprou na semana anterior finalmente havia prestado, para seu alívio, mas agora lutava para manter o automóvel ligado. Não chegava nem a um minuto...

Inferno. Às vezes, se arrependia amargamente de ter assumido aquela responsabilidade. Os trabalhos importantes estavam sendo todos jogados nas mãos de Sero e Eijirou. Eles entendiam do assunto, mas não achava que eles tinham capacidade de ir do início ao fim sem se perderem um pouco — ainda mais com o puto do Hanta zonzo daquele jeito.

Não queria admitir, mas a falta de Kaminari estava causando prejuízo. Onde aquele maldito havia se metido? Cada vez mais, considerava a ideia de ele ter sido apagado e jogado em algum córrego por aí. Que queimasse no além, então.

O interior da oficina estava quente. Nenhuma surpresa. O som das engrenagens, música e motores se misturava ao cheiro característico de bebidas, tabaco e desodorante. Detestava aquela mania de Eijirou. A vadia da Mina nem ali estava, do que adiantava mascarar o odor de óleo e suor?

Bem, teve de repensar seu julgamento. A porta dos fundos bateu, e o "cloc cloc" do par de saltos lhe deu a confirmação de que ela tinha chegado.

Maravilha.

— E aí, caras? Escutaram a última?

Todos pararam o que faziam para olhá-la. A moça saltou para cima do escapamento do carro de um dos clientes. Katsuki teria mandado ela sair dali se o dono em questão não fosse meio desgraçado. Suas coxas fartas eram pressionadas pelo short curtíssimo, e ficaram ainda mais pronunciadas quando ela cruzou as pernas.

Revirou os olhos para a cena e acendeu outro cigarro. Iria continuar girando aquela chave até aquele carro dar algum maldito sinal de vida prolongado.

Sero coçou a nuca. Seus olhos pareciam mais sonolentos que despertos. Bêbado miserável.

— Não escutei nada não...

— Porra, é obvio — Kirishima zombou. Ele limpou a testa com um pano e jogou-o sobre o ombro. Uma faixa branca mantinha seus cabelos para trás.

Desnecessário, Katsuki pensou. Duvidava que algum daqueles fios ruivos escaparia daquela caralhada de brilhantina. Impossível.

Greaser | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora