Yo Shindo

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— Midoriya Izuku? Você é o Midoriya Izuku?

Embora tivesse dado a impressão, a pergunta não saiu em tom afirmativo. A moça desconhecida simplesmente queria saber se ele era a pessoa que, por algum motivo, procurava.

Num primeiro momento, não soube o que responder. Quem seria ela?... Estava intrigado. A ligeira palidez da cútis; a constituição curvilínea e até um pouco musculosa; os olhos grandes, azuis e de formato retangular; a franja loura que descia por sua face direita; os brincos turquesa... nada daquilo lhe representou alguma familiaridade.

Mas também devia estar exagerando com tanta admiração; poderia ser somente uma caloura com alguma dúvida sobre a biblioteca, e Midoriya, como uma ótima referência para auxiliar questões vindas de lá, foi apontado para que ela obtivesse algum esclarecimento. Com certeza era isso.

— Hum, sim, sou eu — endireitou os livros embaixo do braço. — Se você precisa de alguma coisa, eu...

— Ah, então você conhece Yo Shindo?

Daquela vez, a confirmação estava presente. Agora sim poderia achar estranho. Pelo visto, a biblioteca não estava envolvida, portanto, estava no direito de fazer perguntas. De passar, em palavras, toda desconexidade ante a aparição daquela moça.

Mas tudo o que sentiu foi um arrepio medonho.

E por causa daquele nome.

Um por um, experimentou todos os músculos tencionarem. Os dentes bateram por um segundo, como se sentisse um calafrio, e um choque saiu deles. Espalhou-se por seu maxilar e pescoço antes de desaparecer. Um passo para trás foi dado, sem que ao menos percebesse. Os livros foram ao chão, e o barulho ajudou-o a despertar daquela paralisia aterradora.

— A-Ah, sim, co-conheço — pigarreou, recolhendo o material. Os dedos formigavam, o coração retumbava forte. Mil pensamentos passavam por sua cabeça ao mesmo tempo: teorias, perguntas, lembranças. — Nós e-estudamos juntos. Na minha antiga cidade.

O rosto dela não se alterou. Não devia ser o único ali a ser atingido por memórias, e a falta de reação da mulher o deixou agitado.

Ela, então, acenou lentamente, mais para si mesma.

— Ah. Entendi...

— Ma-Mas por que quer saber di-disso? — merda, não parava de gaguejar. Sentia-se em completa combustão. Algo úmido deslizou até seu queixo. Estava suando frio? Já?

Não sabia o que pensar diante daquele olhar enigmático com o qual era encarado; aquele semblante admirado, como se ela estivesse obtendo a comprovação de algum fato, como se atestasse algo.

Não achou aquilo nada bom.

— Hum. Não é por nada, não — por fim, ela deu de ombros. Os olhos azuis ainda subiram e desceram por ele uma última vez, antes de ir embora.

Simplesmente, foi embora. Mas deixou para trás um redemoinho de dúvidas, suposições e principalmente medo.

Midoriya sabia que, até o anoitecer, não agiu como ele mesmo. Por fora, até que sim, mas por dentro havia um furacão perverso o incomodando. Não sabia o que foi aquilo, não conseguia ao menos raciocinar.

Ficou meio avoado, também. De manhã, tivera que arrumar a coluna do jornal sobre as "Sensações da Atualidade". Havia sido uma votação geral sobre os maiores sucessos tocados em festas e rádios da esquina, e ainda que Twist And Shout tivesse conquistado um número bastante superior aos demais, sua distração fez com que I can't stop loving you fosse colocado em primeiro. O erro felizmente foi consertado antes que o primeiro semblante confuso aparecesse, mas ainda assim se sentiu meio mal — e também admirado ao ver que o rock continuava invicto.

Greaser | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora