Capítulo 15 "Rumo ao inferno"

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A sensação de estar rodeado por inimigos não deveria parecer tão acolhedora. Talvez porque naquele corpo a alma de Shun já não estivesse mais predominando, mas de alguma maneira ainda estava levemente consciente. O fato é que a alma do deus do mundo dos mortos já habitava ali, mas por algum motivo memórias turvas surgiram na mente daquele que agora estava preenchido por sangue divino. Imagens embaçadas que despertavam em si sensações aparentemente boas surgiam. Saudades, desejos, medos, culpa, prazer, tudo ao mesmo tempo. Hades? Não, aqueles sentimentos não eram fruto do ser divino, mas muito provavelmente estavam sendo despertados por ele. Dessa forma, por estar sentindo tantas coisas ao mesmo tempo, além de ainda ter o próprio corpo se adaptando a divina energia cósmica que o preenchia, Shun se mostrava incomodado e encolhendo-se na cama em que se encontrava deitado.

O cavaleiro de Andrômeda se encontrava dentro da carruagem negra que havia invadido o santuário, trazendo Pandora, Aiacos e Aiolos, momentos atrás. Apesar do veículo se mostrar externamente bem semelhante a qualquer carruagem comum utilizada em tempos passados, a parte interna era desproporcionalmente maior, com tamanho suficiente para conter um pequeno quarto e o local onde se encontram os assentos para aqueles que estivessem ali. Isso se devia a uma magia lançada por Pandora, para que o receptáculo de seu senhor tivesse conforto no caminho até o seu castelo.

- A-Aaron... - Arfou Shun apetando seus dedos contra o lençol que lhe cobria.

Pandora, que estava sentada na beira da cama enquanto tratava dos ferimentos no corpo do cavaleiro por conta dos confrontos travados por ele até o momento, tentou acalmar o jovem pondo uma compressa de água fria em sua testa.

- A alma de vossa divindade ainda não conseguiu dominar o corpo desse jovem completamente pelo que vejo. No entanto, percebo que apesar disso as coisas estão em bom andamento. - Pandora sorriu, acariciando o delicado rosto um pouco sujo de sangue e com alguns pequenos ferimentos. - Entre, eu sei que você está aí tomando coragem para pedir permissão e vir até ele.

No mesmo instante, o espectro chamado Aaron adentrou o quarto e prestou reverência.

- Eu pensei ter ouvido a voz de nosso senhor chamar o meu nome. - Falou o espectro da violência num tom ligeiramente trêmulo. - Apresento-me em prontidão para servi-lo.

- Admiro sua disposição e fidelidade. - Sorriu Pandora. - Porém, acho que não foi exatamente o imperador Hades que o chamou. Venha até aqui.

Aaron levantou-se e foi até a cama onde o cavaleiro estava deitado, ficando preocupado ao notar que ele parecia estar sofrendo.

- O que ele tem? - Questionou o espectro aflito.

- Além de estar se adaptando ao seu "novo eu", acredito que muitos sentimentos devem estar tomando sua mente. - Respondeu Pandora enfaixando a mão de Shun com ataduras pretas. - Penso que esteja assustado com tudo que está acontecendo e por isso chamou seu nome.

- Então ele realmente lembra? - Aaron perguntou com os olhos fixados no inquieto cavaleiro.

- Agora que terminei de cuidar dos ferimentos do corpo de vossa divindade, deixarei você a sós com ele por um tempo. Algo me diz que você pode fazê-lo sofrer menos durante o processo.

Pandora sorri e se retira do quarto, deixando o nervoso espectro na presença do corpo que agora tinha em si a alma do deus do inferno. No entanto, para Aaron aquele não era Hades, talvez não somente o deus, era na verdade o rapaz que amou em sua antiga vida. O espectro de curtos cabelos pretos e olhos âmbar se aproximou vagarosamente até sentar na cama, ao lado do outro rapaz, pegando sua mão delicadamente.

- Aaron? É você? - Questionou o cavaleiro apertando a mão do espectro e tentando abrir seus olhos dificultosamente.

- Sim, sou eu, meu senhor.

Os cavaleiros do zodíaco. Hades, a saga de uma última guerra santa.Onde histórias criam vida. Descubra agora