Capítulo 29 "Um cálido coração congelado"

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Um breu total, foi isso que Camus encontrou assim que adentrou o que reconheceu como um portal dimensional. Porém, com o passar dos segundos os quais pareciam ser marcados pelo som característico de um relógio de ponteiros, o dourado começou a ter um vislumbre de onde estava. No primeiro momento, percebeu estar pisando em algo como areia, até notar que se encontrava em uma imensidão formada por dunas. Além disso, tal areia jorrava diretamente de alguma parte não específica do céu, como se caísse de lugar nenhum. O próprio céu observado naquele lugar era diferente, mostrando estrelas, constelações e galáxias desconhecidas, além de uma incontável quantidade de relógios dos mais variados tipos, os quais estavam flutuando e funcionando ali.

Ampulhetas, relógios de sol, relógios de corda, ponteiros, números arábicos e romanos, marcadores do tempo desconhecidos pelo homem até aquele século onde tal guerra santa acontecia também estavam presentes. Grandes monumentos que representam a história da humanidade também surgiam e desapareciam. A torre Eiffel, a estátua da liberdade, o cristo redentor, a muralha da china, o arco do triunfo e muitos outros, todos se mostravam no auge de sua imponência, para depois reaparecer quase completamente destruídos.

- Bem vindo, cavaleiro de aquário, aos confins do tempo. - O espectro Mefisto surgia a alguns metros do dourado. - Aqui é o lugar onde o passado, o presente e o futuro se misturam por toda a eternidade. Graças a sapuri que trajo, eu tenho total controle e poder nesta dimensão, podendo fazer dela o cenário de nosso espetáculo.

- Isso é um despropósito. - Camus respondeu calmo, porém firme. - Está tratando tudo isso como uma simples peça de teatro? O que te faz pensar que está em condições de agir dessa maneira tão caricata e desnecessária?

- Você não entenderia, sequer entende a sua própria existência.

Mesmo que apenas de relance, o espectro notou que conseguiu fazer o cosmo de Camus oscilar naquele momento, por isso sorriu.

- Não adiantaria tentar explicar para você, uma existência tão insegura assim, como funcionam as coisas neste mundo ou neste caos. - O espectro some e aparece logo a frente de Camus. - Participe do espetáculo e sucumba a tudo o que eu posso lhe proporcionar, ou seja extinguido do tempo por mim quando eu acabar com você e todo o seu absurdo e contradição.

- Não tenho intenções relacionadas a nenhuma das opções.

Camus levantou seu punho direito rapidamente e uma grande rajada de cristais de gelo foi lançada contra o espectro. Porém, o ser das trevas desapareceu de onde estava e o cavaleiro apenas pôde ouvir sua voz.

- Intrigante guerreiro do gelo, para adiantar o que pode acontecer a seguir, preciso lhe dizer que vencer você para mim não seria nada. Mas você realmente me despertou curiosidades sendo um humano tão distinto de todos aqueles que já conheci. Por isso, apenas vencer não teria graça e quero que se junte ao meu espetáculo. Na história que idealizei, você está lutando, chorando... - Surgiu atrás de Camus como se fosse uma espécie de miragem. - E morrendo.

O cavaleiro de aquário se virou rapidamente e lançou o seu pó de diamante, congelando aquela imagem ilusória de Mefisto, que se estilhaçou em muitos pedaços em seguida. A gargalhada do espectro foi ouvida e logo em seguida os relógios pararam com o movimento de marcação recorrente.

- Vamos ao primeiro ato. "As vidas que desejei salvar".

Num piscar de olhos, Camus já não podia mais enxergar nada. O breu havia se instalado novamente, até o dourado sentir um vento gélido tocar sua pele. Percebeu rapidamente que não estava mais trajando sua armadura de ouro e sentia-se diferente, até compreender tal sensação ao olhar seu reflexo em uma grande torre de gelo. Camus estava mais jovem e já reconhecia o lugar em que estava, era um local com grandes geleiras na Sibéria. Escutou as vozes de duas crianças lhe chamando e percebeu serem dois meninos, Hyoga e Isaak.

Os cavaleiros do zodíaco. Hades, a saga de uma última guerra santa.Onde histórias criam vida. Descubra agora