Capítulo especial "Uma vez mais?"

23 3 0
                                    

Ainda estava doendo, o corpo que acabava de ressurgir ainda doía nos exatos locais onde fora atingido durante tantos confrontos, o último em especial. A mente naturalmente inquieta tentava se adaptar ao que via, sentia e lembrava. Tudo parecia tão recente, as sensações ainda estavam presentes, mas ao mesmo tempo tão distantes, sentia como se tudo desabasse. Ao redor, tudo parecia tão diferente que não conseguia entender, mas confirmou sua sina ao perceber-se. Era o mesmo, infelizmente era o mesmo. A frente de algo que não recordava, desabou ao ter compreensão e fazer uma breve leitura. Não tinha mais nada, só sua maldição, a qual por alguma razão entendia, mas arrependia-se, ao passo que tinha certeza sobre fazer tudo de novo se preciso fosse.

Não havia o que fazer, não se sentia como si mesmo e internamente sabia para onde ir, mas não era para onde queria ir. Só podia fazer como os anjos, os quais nunca poderia replicar por tantas coisas feitas com as próprias mãos, mas iria voar, voar até onde seu ser deveria estar.

Agora caminhava pelas ruas do local antes tão conhecido, mas agora tão brilhantemente diferente, com lágrimas começando a encher seus olhos devido à ausência tão marcante de sensações. Caminhava por vielas agora tão distintas, mas honrosamente preservadas. Como poderia não lembrar? As noites, assim como aquela e as conversas incompreensíveis ouvidas aos arredores lembravam de momentos em que o mesmo as interpretava, incansavelmente falando para pessoas entusiasmadas sobre o quão inestimável era o seu eu naqueles tempos e como outrem jamais iria alcançar tamanho entendimento.

Chorava, agora chorava ao caminhar despercebido e encenar o mesmo caminho de sempre, mas sabendo que ao seu destino nunca chegaria. O percurso ainda era lembrado, as mesmas entradas e a mesma distância, mas agora preenchidos com diferenças desconhecidas e irrelevantemente incompreendidas.

Luzes e mais luzes, pessoas estranhas parando e veículos absurdos seguindo. Para si, era como se ao olhar janelas brancas fosse ainda capaz de ver o encanto e graça perdidos, sabia que havia perdido em todos os sentidos possíveis. Decidiu em último momento não trilhar o mesmo rumo de um sempre perdido a tempos, pois sabia que seria dilacerado com todas as mais perfeitas imagens de certos lugares. Mas percebia que era impossível fugir, até mesmo as mais simples vias outrora e agora atravessadas pareciam trazer com exatidão a melodiosa canção que aquele simples recitar se assemelhava. Deus! Exclamava num silencio tão triste sabendo que havia acabado. Qual deus? Qual deus poderia recorrer como na fatídica vez?

Havia chegado finalmente. Assim como tudo que viu desde então, estava diferente. Talvez fosse a primeira vez que conseguia o feito de adentrar ali sem tantos empecilhos, burocracias ou obrigações. Pretendia apenas martirizar-se merecidamente ao caminhar por locais os quais sabia que doeria por lembranças. Talvez fosse o júbilo que tanto ouvira falar em celebrações e que agora deveria carregar. Jamais poderia imaginar que sua mente pudesse trabalhar de maneira tão concreta, estava realmente vendo tudo o que poderia desejar, mas assim como tudo vislumbrado, estava parcialmente diferente.

Observava com atenção, cada ação tão semelhante, cada agir tão distante. Será que sim? Pensava alheio a tudo o que havia se tornado, ignorando a essência inata que o dizia para onde realmente deveria ir. Agiu, agiu utilizando de malditas possibilidades ao tentar trazer compreensão. Não! Pensou frustradamente ao doer-se mais ainda por sequer cogitar algo tão não merecido. Mas acompanhou, velar um descanso talvez lhe fosse permitido.

Calmo, sereno, terno, como sempre havia sido, parecia em perfeito estado. Não lhe era possível imaginar como poderia permanecer tão imaculado, visto que não se fazia mais estar de maneira presente. Pegou algo e o contemplou, sentindo aquilo que antes fazia sarar, agora rasgar seu ser como podia já imaginar. Ainda mais dor, já não apenas em seu corpo, pois sua alma doía mais. Tocou com cuidado o que para si era a expressão da bondade, temendo piorar qualquer coisa. Talvez não pudesse ser possível o que ali estava descrito, pois naquele pequeno pedaço de papel estava presente o termo "para sempre", mas agora estava vagando sozinho por aqueles caminhos. Se foi, não poderia suportar mais.

Os cavaleiros do zodíaco. Hades, a saga de uma última guerra santa.Onde histórias criam vida. Descubra agora