Capítulo 5

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Os grandes olhos cor de esmeralda de Clara brilharam quando ela pegou as mãos da filha.

— Mas aquela pessoa nojenta disse que vai achar uma forma de ir com você e provar o quanto a ama.

Ele faria muito mais do que isso, adivinhou Camila instantaneamente, ou Lauren não teria desviado o olhar para ocultar o tremor que sombreou seus olhos. Camila estava no ramo há algum tempo para reconhecer medo, independentemente de ela ser bem ou mal escondido.

Droga, ela pensou, desgostosa, por que ela não é somente um rosto bonito? Por que ela tinha que capturar o olhar de uma mulher assustada, fragilizada, por trás de uma fachada sofisticada? A Lauren Jauregui de quem ela teria fugido sem escrúpulos. A mulher que se recusava a permitir que a família visse seu medo, percebido pelos instintos profissionais de Camila. Ela não podia deixar de imaginar o que mais Lauren escondia por trás daquela capa glamourosa.

Está certo, ela racionalizou, podia fazer isso. Fora treinada para não se envolver emocionalmente com os clientes. Podia passar duas semanas com Lauren, defendê-la desse louco que falava obscenidades pelo telefone e embolsar a quantia absurda que o pai dela oferecia. Supondo, é claro, que a moça concordasse com a proteção... e que jogasse esse jogo específico de acordo com as regras dela.

— Por favor, querida — Clara implorou, quebrando um pouco a voz. — Já foi muito ruim não sabermos sobre este pervertido antes de a polícia ligar para cá atrás de você. Não piore as coisas recusando nossa proteção até que ele seja encontrado.

Com um pequeno suspiro, Lauren bateu na mão da mãe.

— Desculpe. Eu devia ter contado sobre as ligações. Só não queria preocupá-la. Ou ao resto da família — ela acrescentou, depois de uma pequena pausa. — Todos vocês tiveram muitos problemas desde a morte de Kate.

— Então você concorda com a segurança? — perguntou Mike.

Ela lançou um olhar gélido ao pai e virou aqueles inacreditáveis olhos para Camila. Estranho, ela nunca percebera o quanto a cor verde podia se alterar. No intervalo de uma batida do coração, podia variar de um verde profundo, intenso, a uma cor cristalina monótona, sem graça.

— Concordo — disse ela depois de um tempo. — Mas com certas condições.

— Não opero com restrições.

— E não posso operar sem um certo regime — ela retrucou. — Corro todas as manhãs e, durante os ensaios, devo dormir pelo menos oito horas à noite. Tudo o que peço é que você estruture seus procedimentos de segurança em torno dos meus horários, se possível.

Camila não entrava em uma academia há anos e nunca gostou muito de correr, mas calculou que poderia proteger sua cliente durante os exercícios matinais. E quanto às oito horas de sono à noite na cama...

Com algum esforço, ela baniu a imagem de Lauren com seu olhar ingênuo, dormindo docemente. Dizendo a si mesma que ela era dez vezes uma tola, Camila concordou. De forma relutante.

— Acho que posso me ajustar aos seus horários.

Ela hesitou, obviamente tão sem entusiasmo quanto Camila estava com relação às próximas duas semanas.

— Então deixarei você negociar os termos de seu contrato com meu pai. Se decidir aceitar o emprego, eu a encontro no aeroporto. Iremos para Santa Fé às dez horas.

— Bem, fico contente que tudo tenha se resolvido — disse Clara, com um suspiro de alívio enquanto a filha a beijava na bochecha e se encaminhava, em seguida, para a porta.

— Não o suficiente — disse Camila.

Lauren parou com uma das mãos na maçaneta.

— Se serei responsável pela sua segurança, Srta. Jauregui, tenho algumas condições também.

— Como?

— Como o fim de caminhadas até o lago, ou a qualquer lugar, a menos que eu vá junto.

Depois de tantos anos em frente às câmeras, esconder os pensamentos tornara-se quase uma segunda natureza para Lauren. Seu trabalho era projetar as emoções que o fotógrafo e o diretor de arte queriam, e não os próprios sentimentos. Então, ela manteve sua expressão cuidadosamente neutra enquanto deliberava se dizia a Camila Cabello para se jogar no lago ou em qualquer outro lugar.

No entanto, assim como queria colocar aquela mulher em seu devido lugar, Lauren tinha que admitir que a idéia de uma guarda-costas fazia sentido. Apesar de ela treinar com freqüência as precauções de segurança básicas contra pessoas estranhas que se apaixonavam por rostos de capas de revistas, essas ligações na madrugada se tornaram muito pessoais, muito perturbadoras. Ela não queria que este louco continuasse incomodando sua vida. Mais exatamente, ela não queria que ele atrapalhasse esse ensaio. Sua irmã mais velha, seus pais, sua família inteira, apostaram tudo nesta campanha. A programação bem planejada deles quase não admitia erros.

Apesar de sua maneira rude, ou talvez por causa dela, aquele Camila Cabello  despachou Joe Simpson com facilidade. Certamente ela parecia ser capaz de lidar com um fã irritante e obsessivo. Além disso, ela só precisaria da proteção dela por duas semanas. No máximo três. Só enquanto elas estivessem no local das fotos. A polícia assegurara que a segurança do condomínio dela de Nova York era adequada. Ela poderia dispensar os serviços de Camila quando elas voltassem para a cidade, para o trabalho final no estúdio.

Duas semanas. Ela poderia suportar a presença constante de Camila por duas semanas e ainda manter o equilíbrio interno.

Talvez.

— Qual é a segunda condição? — ela perguntou.

— Se eu perceber alguma ameaça à sua segurança, você segue minhas ordens. Todas elas. Sem perguntas.

Lauren não era burra. Nem imprudente. No caso de uma ameaça real, ela ficaria mais do que contente em deixar está mulher tomar a frente.

— Concordo.

O consentimento dela não deu a Camila a idéia de satisfação.

— Eu a pego às nove e a levo para o aeroporto — disse Camila, de forma brusca.

— Não vai mais negociar com meu pai, Srta Cabello?

— Não. E meu nome é Camila.

Ela hesitou e então estendeu a mão.

— Me chame de Lauren.

O toque dela era caloroso e macio, e ao mesmo tempo eletrizante. Camila envolveu os dedos dela pelos poucos segundos necessários. Quando ela deslizou a mão pela palma da mão dela, seu calor provocou em Camila uma maldita necessidade de segurá-la.

Duas semanas, ela disse a si mesma, impiedosamente. Ela passara quase esse mesmo tempo com a barriga na poeira, estourando o possível esconderijo de um terrorista no sul da Espanha. Se conseguiu lidar com aquele bando de aspirantes a terroristas ineptos, conseguiria lidar com a presença de Lauren Jauregui.

Talvez.

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