Capítulo 9

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Camila ficou parada por um momento, observando o improvável casal caminhar na direção do pequeno jato, localizado no final do hangar, bem perto da baía. Lauren era quase dez centímetros mais alta do que o fotógrafo atarracado, e sua exuberante cabeleira formava um contraste perfeito com o estilo de cabelo comprido/curto, preto/branco dele. Mas era óbvio que eles eram muito amigos. Muito amigos. Enquanto acalmava o fotógrafo, o rosto dela revelava uma simpatia genuína e uma afeição verdadeira.

Então por que ela não contara a Avendez sobre as ligações? Camila ficou pensando. Por que ela não queria que seu... amigo... soubesse a real razão por trás da aparição repentina de uma guarda-costas em sua vida, assim como não queria que seus pais vissem seu medo na noite anterior?

Não era a primeira vez que Camila pensava que Lauren Jauregui escondia boa parte do que era por trás do rosto que mostrava ao público. Imaginando como seria a mulher por trás da máscara, Camila se curvou para pegar a mala de equipamentos que deixara cair quando se jogou no ar.

Um risinho chamou sua atenção. Uma mulher baixa, troncuda, com os cabelos castanhos presos em um coque, sorriu para ela.

— Na última vez que Dom arrastou o rosto no chão, o ângulo de sua câmera estava posicionado para a saia de Lauren. Aquela foto promoveu mais a indústria de lingerie do que qualquer campanha publicitária da história. Deixe-me me apresentar: sou Toya, produtora de Dom. Trabalho como contra-regra.

Camila pegou a mão que ela estendeu, sem se surpreender com a firmeza dela. Ela devia ser trinta centímetros mais baixa do que ela, mas tinha um ar prático e realista que contrastava com a sensualidade surpreendente de sua voz.

— Bem-vindo à equipe, Camila.

— Obrigada. — Elaq lançou um olhar ao fotógrafo semi-careca que subia no avião. — Eu acho.

A gargalhada de Toya fluiu para ela como chocolate derretido: profunda, quente e saborosa.

— Não se preocupe com Dominic. Lauren acabará com o mau humor dele. Ela sempre consegue. Vamos, é melhor nos apressarmos ou vamos ficar para trás. Se você ainda não notou, Lauren é insistente com relação à pontualidade.

— Já percebi — ela falou. — Diga que

já estou chegando. Só tenho que encontrar o representante da agência de aluguel de carros.

Camila saiu pela porta do hangar, lembrando-se de que teria que fazer uma análise de toda a equipe, incluindo um certo Dominic Avendez.

Quando chegaram ao Rancho Tremayo, a enorme e antiga hacienda alguns quilômetros ao norte de Santa Fé, onde o resto da equipe já estava reunido, Camila descobriu que sua cliente era insistente com outras coisas além de pontualidade.

Sua dieta estava em primeiro lugar na lista. Durante o longo vôo, ela recusou educadamente os salgadinhos que os amigos ofereceram. Como Camila não tivera tempo nem fora previdente a ponto de levar suprimentos para a viagem, aproveitou a oferta de chocolate, castanhas sem sal e suco de grapefruit de Toya. Mais tarde, seu estômago roncava com ressonância e freqüência impressionantes.

Enquanto ela e Lauren seguiam o gerente do resort por um caminho murado até as casas dos hóspedes, o cheiro tentador de carne assada em molho apimentado que preenchia o ar aumentou seu desconforto. Ela descobriu que a hacienda fora convertida em um resort de primeira classe, e seu restaurante principal ganhara o prêmio de excelência da revista Gourmand. Camila estava com tudo pronto para acomodar Lauren no quarto e explorar a validade do prêmio do restaurante, quando foi surpreendida com outro ponto de insistência de sua cliente: a tendência a modificar as regras do jogo para acomodar as próprias preferências.

Sua cabana pequena, luxuosa e revestida até o teto a encantara. Sorrindo, ela elogiou o gerente efusivo com relação ao cobertor navarro que adornava a lareira e a combinação de paredes de barro rosa-claro e do piso cor de malva com detalhes em turquesa.

O gerente balbuciou algo sobre suavizar os tons desérticos e a conduziu por um portal arcado até o quarto. Camila supunha que o rapaz ainda não tinha se recuperado do efeito combinado da beleza estonteante de Lauren, da meia-cabeça cabeluda de Dominic e da risada sussurrada e de arrepiar a espinha de Toya.

Enquanto o gerente muito bronzeado e muito atencioso conversava com Lauren, Camila fez uma rápida avaliação de segurança nos três quartos. As janelas dos banheiros eram bem acomodadas nas paredes, ele notou com satisfação, e fixadas com cadeados firmes. A única entrada extra da cabana era pela porta lateral, que podia ser trancada por dentro. Isso fazia com que a porta principal se abrisse para a sala de estar. Ela tinha olho mágico e fechaduras que qualquer criança de dez anos poderia abrir usando um cartão de plástico e entrar em segundos na cabana.

— Quero um chaveiro aqui em uma hora para instalar um ferrolho — disse ela ao gerente. — Precisaremos de duas chaves. Uma ficará comigo e a outra com a Srta. Jauregui.

O homem passou a mão pelo cabelo bem-cortado.

— Mas... Mas as camareiras precisarão entrar. E a manutenção...

— A Srta. Jauregui ligará quando desejar que o quarto seja arrumado. Você pode entrar em contato comigo, caso a manutenção precise de acesso.

O gerente olhou para Lauren para obter confirmação. Ela hesitou, mas apoiou as ordens de Camila balançando a cabeça.

— Então peça ao chaveiro para fazer três chaves. Dominic precisará de uma.

Camila recusou-se a reconhecer o sentimento que a atiçava. Não era de sua conta saber com quem sua cliente desejava ficar, desde que o fizesse sob certas condições controladas. Ela achava que Avendez não era muito diferente do viking, mas talvez Lauren não gostasse de sua opinião a esse respeito.

— Duas chaves — ela replicou. — Não serei responsável por sua segurança se não puder controlar o acesso.

Ela apertou os lábios.

— Acho que você não entendeu. Dom e eu trabalharemos até tarde na maioria das noites revendo a produção do dia e a programação para o dia seguinte.

— Está certo. Você pode abrir a porta para ele, ou eu mesma abro. Você concordou em seguir minhas regras, lembra?

Por um momento, Camila pensou que ela fosse argumentar. Ela contraiu a pele macia de uma das bochechas e uma faísca de raiva ou ressentimento escureceu seus olhos. Mas desapareceu antes de ela saber o que era. Quando ela se virou para o gerente, já tinha recuperado a fachada serena que mostrava ao público.

— Duas chaves — disse ela, resoluta.

— Minha cabana é logo ao lado da sua — disse Camila a ela. — Número oito.

Vou guardar meu equipamento e vou ao escritório verificar a lista de hóspedes. Depois, preciso verificar a estrutura física do resort. — E traçar alguma comida. — Volto em uma hora. Use seu bipe, caso deseje falar comigo antes disso.

Com um esforço supremo de vontade, Lauren absteu-se de bater a porta logo depois que os dois  saíram.

"Vá pro inferno, Cabello!" Com seus bipes, suas chaves e seu acesso controlado, Camila estava fazendo com que ela se sentisse engaiolada. Ou como um cão em treinamento de obediência. Jogando a bolsa em cima da cama, Lauren abriu o fecho.

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