Capítulo 11

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Ela não respondeu nada, e um pequeno silêncio tomou conta do quarto. Lauren procurou dizer algo, mas tudo que vinha à cabeça parecia muito vazio ou muito pessoal. De alguma forma, ela não conseguia perguntar pelos amigos de Camila. Ou como ela começou a trabalhar como guarda-costas. Ou como obteve aquelas cicatrizes. Ainda assim, ela tinha muita curiosidade sobre o passado dela. Com um ligeiro choque, ela notou que não sabia nada sobre a mulher que invadira sua vida tão completamente nas últimas 24 horas. Entretanto, valorizava muito sua privacidade para invadir a dela.

— Acho que posso considerar a noite encerrada.

Camila se levantou e pegou o colete de pele de ovelha da cadeira na qual o colocara. Encolhendo-se dentro dele, ela colocou o livro em um bolso e diminuiu a distância entre elas.

— Cinco horas, certo?

— Cinco horas — ela respondeu firmemente, tentando ignorar a sensação de tremor causada pela aproximação dela. — É o primeiro dia de ensaio. Temos que cumprir os horários, ou Dominic vai arrancar o resto dos seus cabelos.

— Foi isso que aconteceu com ele? Ele arrancou metade dos cabelos?

Devia abrir a porta, disse Lauren a si mesma. Ou dar um ou dois passos para trás e estabelecer uma distância entre elas antes que ela virasse para responder a essa pergunta. Por razões que ela teria que avaliar mais tarde, na privacidade de seu quarto, ela não fez nem uma coisa, nem outra. Em vez disso, inclinou-se contra a porta e a examinou através de suas pestanas.

Daquele ângulo, ela não via as cicatrizes. Somente o queixo de Camila. E a boca dela a poucos centímetros. E olhos castanhos mais brilhante. "O que elas viam?", ela perguntou a si mesma novamente, desejando não saber a resposta. Desejando não ver a intensidade  do olhar dela.

Ela via um rosto. Nada mais. E muito menos.

— Na realidade — ela falou, em resposta à pergunta de Camila — o médico dela raspou. Dom ficou sem paciência em um dos ensaios...

O bufo de Camila demonstrou a ela que já tinha descoberto que isso não era tão pouco freqüente.

— Em vez de esperar por uma escada, ela subiu em uma árvore para obter um ângulo melhor. Infelizmente, a árvore estava carregada de veneno de carvalho. Caiu um pouco no cabelo dele e o resultado... Bem, não ficou bonito por um bom tempo.

— Eu não diria que é bonito agora.

— Você diria, se o tivesse visto há seis meses — replicou.

.

— Não acho. — Levantando a mão, ela bateu carinhosamente na bochecha dela. — Isso, sim, é bonito.

O toque pareceu surpreendê-la tanto quanto a Lauren. Franzindo o cenho, ela abaixou a mão ao mesmo tempo em que ela virou a cabeça.

— Desculpe — disse camila, duramente. — Eu saí da linha.

Tão surpresa com as desculpas dela quanto com o carinho inesperado, Lauren se esforçou para corresponder à rápida recuperação dela.

— Desculpas aceitas.

Ela chegou para o lado e Camila tocou na maçaneta.

— Tranque a porta.

— Pode deixar.

— E deixe o bipe à mão.

— Pode deixar.

— Boa noite.

— Boa noite.

Contorcendo os lábios em desgosto, Camila fechou a porta e ouviu o cadeado ser trancado. Não podia acreditar que tinha cedido ao impulso insano de tocá-la. Ela era sua cliente, por Deus! E o tipo de mulher que ela não tinha o direito de tocar.

Exceto... Camila não tinha tanta certeza agora sobre que tipo de mulher Lauren era. Todas as vezes que  pensou tê-la pego, ela mostrou-se escorregadia.

Arqueando os ombros para escapar do frio, caminhou pelo corredor de terracota que levava à sua cabana. Com os saltos das botas sobre o assoalho espanhol,  mudou um pouco o foco de sua mente, que fazia uma composição de Lauren Jauregui.

Ela quase acreditou na versão dela sobre Avendez. Mesmo depois daquela história das chaves, podia ter aceitado a história de "melhores amigos", se não tivesse pego o olhar masculino, feroz, fechado, que o fotógrafo lançara para ela momentos antes. Qualquer que fosse a relação que Lauren pensava ter com o rapaz,  queria muito mais do que a amizade dela.

Será que ela era realmente tão ingênua que não percebia isso? Primeiro com o  ex, e agora com este personagem? Ela devia saber que não existe amizade entre homem e mulher.

Talvez não soubesse, admitiu Camila. Ou talvez não houvesse lugar em sua vida ocupada para nada mais. O dossiê sobre ela incluía recortes que detalhavam um noivado bem divulgado, assim como um rompimento bastante comentado. Será que seu noivo foi mais um "amigo" ou ele realmente tentara penetrar as barreiras formidáveis de Laureb para conhecer a mulher internamente?

Camila achava que não. Conhecia a moça há apenas um dia, mas sua opinião sobre ela mudara sutilmente nesse curto período de tempo. Ela colecionava homens da mesma forma que algumas pessoas colecionavam álbuns. Não conseguia evitar. Eles praticamente imploravam para serem peças de coleção, agindo como cães adestrados. Depois de observar Eric, o Louro, e Avendez em ação, ela começava a acreditar que eles faziam jogos deles mesmo.

Teria que ser muito cuidadosa para não agir da mesma forma... o que não seria fácil, na prática. Esse pequeno contato com sua pele macia e sedosa causou uma necessidade quase urgente de repetir o toque.

Camila concluíra que precisava caminhar longamente sob o ar frio da noite e tomar um drinque, não necessariamente nessa ordem. Como  não se permitia beber enquanto trabalhava, só restava uma opção.

De qualquer forma, tinha que se familiarizar com as misturas da noite. Ela não previa ter que fugir no meio da noite com Lauren,mas queria ter as rotas em sua cabeça, só por precaução. Não precisava de outra lembrança permanente e visível de como é perigoso confiar em apenas uma rota de fuga.

Além disso, depois do incidente no hangar, naquela manhã, começava a perceber que conseguia prever muito pouco a real preocupação de Lauren Jauregui.

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