Capítulo 6

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Por volta das oito e meia da manhã seguinte, Lauren estava perdida em pensamentos. Passara a noite sem dormir, tentando, sem sucesso, se acostumar com a idéia da presença perturbadora de Camila em sua vida. A insônia dela fora agravada pela observação ácida da irmã, que ressaltou que ela deixaria Mike fazer aquilo com ela novamente.

— Por que você não o enfrentou? — perguntou Rocky, citando apenas a parte da conversa que ouvira na noite anterior, quando Lauren ameaçou enfiar uma fronha na cabeça dela. Empoleirada confortavelmente no parapeito de uma janela do banheiro que dividiam desde a infância, Rocky foi atrás de sua irmã gêmea com a ira de uma irmã que ama a outra.

— Você devia ter dito a Mike para ir se danar quando ele a pressionou para fazer esta campanha. Você sabe o quanto está esgotada. Vem tentando fazer aulas de teatro entre os ensaios e as fotos para propaganda. Você só tem tempo para namoros ocasionais com idiotas como Simpson. E agora tem esse estranho ligando no meio da noite. Você precisa, querida irmã, é de um caso picante, rápido e ardente.

— Tudo bem.

— Estou falando sério. Você precisa de alguém que a faça jogar tudo para o alto e aproveitar a vida novamente. De preferência,alguém que não cultue o altar de sua beleza.

— Eu preciso que você saia do meu pé — replicou Lauren, jogando uma camiseta em sua maleta.

— Eu ou Mike?

— Os dois.

— Então, diga isso a ele!

— Eu não sou você, Rocky. Não tenho o dom de desafiar as pessoas.

— Não projete em mim este ato inocente. Você nunca hesitou em desafiar ninguém quando era mais nova. Só que fazia isso de forma tão doce que ninguém além de Kate conseguia ver através de sua fachada angelical. Foi desde a morte dela que você deixou Mike, Caroline e toda a família tomarem conta de sua vida.

Lauren agarrou a bolsa de maquiagem com as duas mãos, agora com uma dor familiar. Involuntariamente, ela olhou para o carrossel de metal gasto que estava em cima da cômoda.

Kate vira a fascinação dos olhos arregalados das netas quando ela comprou o carrossel. Rindo, ela deu o brinquedo de fabricação alemã para as meninas brincarem, mesmo sendo uma antigüidade cara. Como Kate gostava tanto de dizer, não havia nada mais precioso no mundo do que a alegria de uma criança. A atrevida Rocky logo se cansara do carrossel, mas Lauren se divertia em sua infância com aquela cobertura filigranada e com os cavalos empinando. Agora, batido e danificado após anos de uso, o carrossel de folha-de-flandres era a lembrança mais querida que ela tinha da avó. Kate deixara para ela em seu testamento como recordação pessoal.

Deixando a bolsa de maquiagem cair, Lauren andou na direção da cômoda. Seus dedos viraram a corda o número certo de vezes. Se virasse muito, a melodia voaria como uma revoada de pardais em busca de outro pássaro longe do ninho. Se virasse pouco, saía como um rastejar indolente.

Ela largou a corda e uma polonaise de Chopin retiniu pelo ar. Um após o outro, os cavalos em miniatura mergulhavam e emergiam, escavando o ar no ritmo da música.

Quando a música diminuiu, Rocky suspirou.

— Deus, sinto falta dela.

Lauren engoliu para amenizar a dor na garganta.

— Eu também.

Tirando a camiseta da mala, usou-a para envolver cuidadosamente o pequeno carrossel e aconchegou a trouxa em meio a suas roupas íntimas.

— Foi por isso que não mandei Mike se danar — Lauren falou à irmã, calmamente. — E é por isso que vou para o Novo México. Kate passou a vida construindo a Cosméticos . Se eu puder salvar a empresa da falência, vou ajudar.

— Está certo — concordou Rocky, se levantando. — Faça como quiser. Mas gostaria que você me deixasse acompanhá-la até Santa Fé. Me sentiria melhor com relação a toda a situação se eu tivesse a chance de sacudir esta Segurança que o Mike contratou e ver do que ela é feita.

Lauren deu de ombros. Depois de fechar a mala, olhou para o relógio da mesa-de-cabeceira.

— Se você quiser conhecer Camila, desça comigo. Ela vem me pegar em dez minutos.

— Camila?

— A brutamontes — disse Lauren secamente.

Os olhos de Rocky brilharam.

— Hum... talvez essa história de guarda-costas não seja tão má idéia, no fim das contas. Duas semanas. Só vocês duas.

— E uma equipe de cerca de

quarenta pessoas.

Rocky eliminou a equipe fazendo um sinal com a mão.

— Não importa. Eu tenho que conhecer.

— Então vamos. Ela deve chegar a qualquer momento e não quero fazê-la esperar.

Sua irmã esboçou um cumprimento.

— Sim, senhora! A caminho, senhora!

Trinta minutos depois, Lauren batia com a sola dos sapatos no chão encerado do saguão. Rocky tinha ido à cozinha buscar uma xícara de café. Ela tinha somente sua irritação como companhia, enquanto esperava a guarda-costas.

Puxando a manga de sua túnica de gabardine rosa, Lauren olhou novamente o relógio. Normalmente ela tinha mais paciência para lidar com atrasos. Eles eram inevitáveis na profissão dela. Os fotógrafos sempre parecem precisar de lentes diferentes. O pessoal de apoio desaparecia misteriosamente quando precisavam dele. Mas o atraso de Camila só aumentava suas dúvidas quanto ao acordo realizado. Para ela, era muito se acomodar à programação dela.

A modelos e a Guarda costas Onde histórias criam vida. Descubra agora