Capítulo 2

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Com Joe ao seu lado, seguiu em direção ao lago. A relva longa e inclinada abafava os sons da festa. Gradualmente, o barulho se transformou em um leve murmúrio. Por alguns momentos, ela ouviu somente o marulhar da água azul contra os bancos de grama e o cantar das cigarras. Então, a voz rouca de Joe interrompeu a harmonia da noite.

— Deus, Lauren, você é tão linda! — E deslizando a mão por trás do pescoço dela, ele virou seu rosto.

— Você não é de se jogar fora — respondeu ela —, mas...

Ele passou o polegar pelos lábios dela.

— Sem "mas". Hoje, não. Não na véspera da sua viagem.

Quando ele tentou abraçá-la, Lauren pressionou as mãos contra o peito dele.

— Precisamos conversar, Joe.

— Conversaremos mais tarde.

Para sua surpresa, ele cravou os dedos por trás do pescoço dela e a puxou para frente. Franzindo o cenho, ela retesou os braços.

— Joe, por favor!

— Droga, Lauren, não faça isso! Não me dê um gelo novamente!

— Você bebeu demais — disse ela, tranqüilamente. — Me deixe.

— Agora não — resmungou ele, com o hálito quente e cheirando a uísque. — Venho dançando conforme a sua música há meses. Sempre que tento me aproximar, você se esquiva. O que há com você, Lauren? Que tipo de jogo está jogando?

— Não jogo. Nem com você, nem com ninguém.

— Joga sim! Que outro nome você dá a isso? Quando você me instiga e depois se afasta, sempre que tento tocá-la?

Forçando os braços contra o peito dele, Lauren lutou para manter a voz firme. Apesar de ter herdado parte do fogo da avó, bem como seus cabelos, há muito tempo aprendera a esconder as emoções por trás de um sorriso de fachada que o público gostava de ver.

— Eu já disse a você várias vezes. Gosto de você... como amigo. Gosto da sua companhia... como amigo. Mas não vou para a cama com você.

— Por que não?

Ele parecia tão injustiçado, como um adolescente contrariado pelo pai não ter emprestado o carro, que ela teve que rir.

— Porque eu não quero, Joe.

Enquanto falava, Lauren reconhecia a força das palavras. Seu sorriso foi minguando.

O fato triste era que ela não queria há algum tempo. Muito tempo. Nem com Joe, nem com ninguém. Desde que descobrira que os homens, em geral, e particularmente seu primeiro noivo, estavam mais interessados em seu dinheiro do que nela mesma, Lauren Jauregui perdera o interesse. Aquela experiência humilhante não a desligara totalmente, nem das pessoas nem de sexo. Ela apenas não encontrara ainda alguém que pudesse vê-la de verdade, além de sua imagem pública.

Joe Simpson era um caso em particular. Em vez de aceitar que eles não estavam tendo um caso quando saíram pela primeira vez, ele tomou isso como desafio pessoal. Toda vez que ela ia para casa visitar a família e concordava em jantar ou ir ao cinema com ele, ele tentava provocar e agradá-la para que fizesse sexo com ele. Agora, aparentemente, ele não estava agradando.

Mordendo os lábios, ele usou a mão que segurava o pescoço dela para puxar seu rosto para perto do dele.

— Ah, você não quer? Talvez eu devesse fazer com que quisesse.

— Talvez não. Me deixe, Joe.

— Acho que não. Dessa vez, não.

— Sim — ela gritou. — Dessa vez!

Joe não esperava a cotovelada forte no estômago. Ficou um pouco sem ar e afrouxou o abraço o bastante para que Lauren conseguisse se soltar. Ela andou alguns passos para trás, esforçando-se para se controlar.

— Vá embora — disse ela, friamente. — Não volte para a festa. Você não é mais bem-vindo.

Ela se virou para ir para a casa. Quando a mão dele agarrou seu braço direito novamente, Lauren perdeu o controle. Rodopiando, ela plantou as duas palmas das mãos no peito dele e deu um empurrão.

Pego de surpresa, ele tropeçou para trás, balançando os braços no ar. Tarde demais. Lauren viu que a combinação de uísque com aqueles movimentos iria jogá-lo no lago. Naquela condição de embriaguez, o tolo se afogaria.

— Oh! — Ela se atirou para frente, segurando a lapela do paletó de Joe. — Preste atenção!

Freneticamente, ele tentou agarrá-la. A mão dele pegou uma das tiras de seu vestido. A tira caiu pelo ombro dela, depois arrebentou. Com um olhar cômico de surpresa no rosto e um pedaço de chiffon verde-limão enrolado no pulso, ele caiu no lago.

Sua queda descoordenada jogou uma onda de água fria sobre Lauren. Momentos depois, a saída desajeitada contribuiu para que ela se encharcasse ainda mais. Enquanto ela o ajudava a escalar o banco de grama, sua irritação foi dando lugar ao senso de ridículo que a ajudava nos ensaios longos e cansativos, quando tudo que podia sair errado saía. Mordendo o lábio inferior para conter o riso, ela levantou o vestido ensopado com uma das mãos, enquanto ele tentava limpar a lama espessa que se esvaía de seu rosto e de suas mãos.

Seu acompanhante não parecia estar se divertindo tanto quanto ela. Blasfemando, ele sacudiu as mãos para retirar a lama. Então, com os cabelos louros caindo sobre a testa, avançou na direção dela.

— Sua pequena...

—Sugiro que você dê uma espairecida, se não quiser cair no lago outra vez. Dessa vez, para sempre.

A voz profunda e arrastada fez com que os dois  olhassem ao redor. Olhando pela escuridão, ela viu uma figura sombria apoiada em um alto carvalho.

Tirando os cabelos molhados dos olhos, joe fitou a sombra.

— Quem diabos...?

— Você tem dez segundos para sair daqui,

camarada.

— Olhe, camarada...

— Sim?

A combinação de indagação educada com ameaça mortal naquela única palavra fez com que Lauren piscasse e Joe expirasse com força. Indignado mas agora mais previdente, ele tentou fazer ameaças.

— Esta conversa é particular.

Desencostando-se do tronco, a intrusa caminhou sob a luz do luar. A respiração de Lauren se acelerou quando ela reconheceu o mosaico.

— De acordo com a moça, a conversa acabou — falou a estranha. — Você agora tem cinco segundos.

— Quem é esta, Lauren?

Como ela não tinha idéia, ignorou a pergunta.

— Acho que você deve ir embora, Joe. Agora.

Ele ensaiou dizer alguma coisa. Então, a estranha caminhou para frente com uma economia controlada de movimentos que fez com que ele recuasse um passo.

— Está certo — falou Joe, rispidamente. — Estou indo. Já é hora de eu encontrar uma mulher de verdade, em vez de uma boneca plastificada.

Nem Lauren nem a mulher ao seu lado disseram uma palavra enquanto Simpson se afastava, jorrando água pelos sapatos a cada passo. Quando ele partiu, a noite de verão as envolveu como um manto. Só que, dessa vez, Lauren não notava as marolas batendo no banco de grama nem o cantar das cigarras. Agora, a mulher diante dela absorvia toda a sua atenção.

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