Um sentimento bastante desconhecido

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Querido Diário, 

Ninguém sabe do fardo que temos que carregar quando se trata de dor. Não aquela dor que sentimos por estarmos doentes ou algo do tipo, mas aquela dor que ninguém sabe explicar, aquele sentimento de que tem horas que some, mas que com o tempo volta a tona.

Um sentimento bastante difícil de se esquecer, e todos ou alguns já passou por isso. É um sentimento que às vezes parece que sufocará, e que tentamos respirar, resgatar um fio de ar, mas não conseguimos. Nosso coração dispara, e às vezes sentimos ele parar simultaneamente. O fato é que todos pensamos que esse tipo de sentimento não deveria existir.

Durante o luto podemos sentir um misto de frustração e ansiedade por não conseguir evitar a perda e uma 'sensação' de que não conseguiremos viver sem a pessoa (quando o vínculo emocional é muito forte). Além disso, somam-se sentimentos de culpa sobre o que poderia ter sido feito para evitar o desfecho doloroso.

Em nós é evocado um turbilhão de emoções das mais variadas possíveis, desamparo, solidão, sentimento de liberdade ou até alívio. E na nossa mente, se alastra a confusão.

Pensamentos começam a ficar difíceis de serem organizados. As preocupações invadem nossa mente o tempo todo e nossa capacidade de se concentrar se torna cada vez mais escassa. Eventualmente, percebemos que nossos hábitos vão mudando. É comum notar mudanças no sono e no apetite — comendo e dormindo menos ou em excesso. O choro também é uma característica muito presente, tal como isolamento e até o conteúdo de nossos sonhos é influenciado.

Como falei, agora podemos nos tornar um turbilhão de sentimentos diferentes, nem sempre a emoção pode ser descrita como tristeza; somos muito mais complexos do que imaginamos.

É comum esses eventos estressores afetarem nosso senso de esperança e nosso humor. Em tempos árduos, recomendo que você tente lembrar das dificuldades que já passou, para perceber como você fez para melhorar.

Deve-se acima de tudo respeitar seus limites, cada um tem um tempo para absorver e reagir a tudo o que acontece a sua volta. E a pluralidade de características individuais das pessoas devem ser respeitadas, pois nem sempre o que funciona para um, funcionará para outro.

Eu simplesmente poderia vir aqui e dizer que as perdas é culpa do destino, mas não é... Se permitimos sentir tal sentimento, talvez possamos aprender com ele, mesmo que seja muito difícil e sufocante às vezes. Mesmo que isso nos corroa gradualmente, devemos ser fortes e seguir com as nossas vidas, mesmo que pareça difícil e impossível em simultâneo.

Durante um momento de minha vida, perdi alguém importante. Quando esse alguém morreu, me senti vulnerável e exposta demais, pois com tantos problemas que enfrentei esse foi o pior momento da minha vida. Nesse dia, logo após os acontecimentos repentinos, quis me mostrar ser forte, e mesmo que por dentro meu coração gritasse por socorro, quis enterrar e sufocar esse sentimento de culpa e impotência, então segui minha vida normalmente.

Pode pensar que minha atitude foi horrível, mas cada um, lida com a perda como pode, e não fui fraca como alguns podem estar pensando, não fugi disso ou de meus problemas, apenas me permiti não sentir por um momento.

Passei aquele dia sufocada, mas me permaneci firme e sorridente o tempo todo, quando cheguei em casa me desabei em lágrimas, senti o chão se afundar lentamente e deixar de existir aos poucos. E mesmo que minha família tenha me amparado o máximo que puderam, eles não poderiam tirar aquela dor que me consumia aos poucos.

É difícil lidar com isso, dizem que melhora com o tempo, mas na real nem sempre é assim que funciona. Lembramos demais do que aconteceu, e a dor volta, ela é insistente e não saberemos do porquê isso acontece, afinal é desconhecido. Então lide com essa dor como você puder, mas não esqueça que a esperança sempre é a última a deixar de existir, não importa o tempo que leve para isso acontecer, ela sempre ficará ali por você.

Kate Miller.

O Diário De Bordo De Kate MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora