Querido Diário,
Adoro livros e filmes que refletem sobre a vida e suas inúmeras possibilidades. Não me refiro a livros de autoajuda; e sim ficções, crônicas ou mesmo romances que, através de seu enredo fantástico ou não, me levam a ponderar sobre essa enorme colcha de retalhos que é a existência — com seus imprevistos, sustos, incertezas e sincronicidades.
Conheci uma garota que no auge de seus 16 ou 17 anos, colecionou culpas e arrependimentos. Apesar de ser muito talentosa, teve pouquíssimas conquistas. Arrasada pelo desaparecimento de sua mãe e às vezes pela negligência de seu pai, ela nunca perdeu seu próprio brilho. Então a vida bateu a sua porta e a virou de cabeça para baixo. Assim, descobriu a possibilidade de viver uma forma que valesse a pena.
Porém, mais do que descobrir novas alternativas, algo a levou a mergulhar mais profundamente em si mesma, e levando-a a refletir sobre a solidão que outrora foi deixada, lembranças, expectativas, obediência, desejos, decepções, decisões e, mais além: sobre a impossibilidade de lutar contra aquilo que iria acontecer de qualquer maneira, independente de sua vontade ou suas ações.
Algumas coisas acontecem porque tinham que acontecer, e não importa o quanto você desejou o oposto, ou lutou contra, ou remou para o lado contrario. Há desfechos que não dependem da nossa vontade e, por mais que pensemos controlar, não controlamos. Muitas vezes a vida é mais forte que a gente. E mesmo que você se culpe ou se arrependa por algo que aconteceu ou deixou de acontecer, talvez não dependesse de você aquilo ter ocorrido ou não. O desfecho daquela situação já estava escrito, e suas ações ou a falta delas não alterariam nada.
Uma vez ela me disse: "a questão é que... o caminho que a gente considera seguir, na verdade, não é o determinado. Porque muitas vezes nossa visão vem de alguma noção falsa e externa, seja uma medalha olímpica, o marido ideal, um bom salário. E existem todas essas métricas que a gente tenta alcançar. Quando, na real, não é nada que se possa medir, e a vida não é uma corrida que se possa vencer". No entanto, ela estava certa.
Quando acreditamos que fizemos uma boa escolha, ela é digna de ser considerada a escolha certa por quais motivos? Porque ela agradaria a nossos pais, ou seria perfeita para estampar nossas redes sociais, ou porque ela nos traz paz? Há motivos inconscientes que nos conduzem a uma decisão, mas sempre é tempo de refletir.
Assim, por mais que acreditemos estar fazendo uma boa escolha, é preciso nos perguntar: o que está em jogo nessa decisão? O que almejamos alcançar e por quais motivos isso seria considerado? Será que ser feliz seria a forma mais autêntica de vivermos? Mas o que nos faria felizes: impressionar alguém com nossas conquistas ou realmente conquistar algo que nos desse prazer?
Muitas vezes, apenas seguimos o fluxo: da cultura de nosso tempo, da educação que recebemos, das mídias sociais, dos programas e músicas que consumimos... e pouco ouvimos a nós mesmos. Pouco escutamos a voz interior que pasmem, se fosse ouvida, talvez escolhesse caminhos bem distintos àqueles que decidimos trilhar, e que só percorremos porque não fomos capazes de nos conectar realmente à nossa alma.
A vida de cada pessoa poderia ter infinitos desfechos, mas lamentar a vida escolhida e ficar sonhando ou se iludindo com a vida não vivida não ajuda em nada. Você está onde deveria estar, e a única coisa que é possível fazer nesse momento é tentar transformar o dia que virá.
Todos os dias começam com infinitas possibilidades, mesmo que a gente não enxergue claramente. Todos os dias temos a possibilidade de recomeçar, mesmo que a gente não perceba no momento. Assim, se posso dar-lhe um conselho, aprenda se ouvir mais. E faça suas escolhas alheio ao barulho do mundo, pois só quando silenciamos a cabeça podemos ouvir o coração.
Kate Miller.
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O Diário De Bordo De Kate Miller
Fiksi RemajaDo mesmo universo de Lágrimas de Ferro "Seja forte, a vida exige isso de você!" Kathleen Miller, é uma garota que ainda está passando pelas aprovações da vida. Mas de um modo um tanto diferente. Pois, com apenas 20 anos, sempre aparentou ser uma pes...