Acordes cruéis e Cinzas ao vento

Capítulo 12 - A falsa paz

O sinal de encerramento das aulas não tarda a soar. Os alunos da classe B se apressam para irem embora em uma onda de animação. Logo estariam finalmente iniciando o último ano do ensino médio e, posteriormente, seguindo seus respectivos rumos. Megumi deixa escapar um suspiro enquanto guarda suas coisas. Estaria realmente animado se a mente não estivesse dando sinais de cansaço. Diferente de todos ali, que estão animados para irem logo para o terceiro ano e assim ficarem cada vez mais perto da saída, ele não estava mais pensando tão longe. Não teria problemas para passar nas provas de conclusão do ano letivo e assim que tivesse sua confirmação disso viraria as costas. Obviamente, nenhum dos dois melhores amigos sabem completamente sobre esse seu plano e, pelo bem de todos, só contaria quando estivesse abandonando o barco. Contar agora só os faria perder o foco.

— Ei, Fushiguro. — Nobara se aproxima com um sorriso ao vê-lo se levantar. — Yuji e eu vamos estudar juntos hoje e no fim de semana, vai vir com a gente?

— Quem tirar a menor nota vai ter que pagar um almoço! — Yuji aparece atrás dela. Desde que soube que o avô logo teria alta, esteve sempre mais sorridente e despreocupado.

— Eu passo, desculpa. — Megumi suspira. — Tenho algumas coisas pra resolver e vou ficar ocupado.

— Tem certeza? Vai ser bom pra você esfriar a cabeça. — O sorriso genuíno de Kugisaki some aos poucos. E se não estivesse conseguindo ajudar o amigo como queria?

— Está tudo bem. — Megumi abre um mínimo sorriso na direção deles. — Preciso ir agora, ou vou acabar me atrasando pro trabalho. — Sem enrolar muito, o moreno sai na frente deixando a dupla de amigos para trás, confusos.

Yuji observa Nobara por um momento. Desde pequeno consegue ler bem as pessoas e, por esse motivo, tem mais do que certeza de que está acontecendo algo da qual nem um dos dois aparenta querer falar abertamente com ele. Mas não é como se os conhecesse a tanto tempo assim e não queria ser muito intrometido perguntando sobre aquelas reações estranhas. Aos seus olhos, Nobara e Megumi sempre parecem conversar sem precisarem de palavras.

Não é que esteja exatamente triste por não fazer parte daquilo, mas também não poderia negar que se sente de lado às vezes.

Ele sente perfeitamente que esse algo não falado é sobre o Fushiguro. Não mentiria sobre observá-lo com alguma frequência e nem sobre a vontade de confortá-lo apesar de que mal haviam se falado durante os últimos dias. Desde que o pai dele tinha sumido, Megumi estava, visivelmente, para baixo, mas imaginou que quando se reencontrassem tudo se resolveria, afinal, pensava se tratar de preocupação apenas. Entretanto, a verdade é que Megumi parece ainda pior. Está até mais distante que o normal. Por que não o deixavam ajudar também?

— Vamos indo. — O rosado chama atenção da amiga que aparenta estar perdida em algum pensamento. Ela o olha de volta em silêncio. — Vou ver o meu avô mais tarde, então não tenho muito tempo hoje.

A pequena inconsistência no olhar de Nobara não passaria nunca despercebida por Itadori. Ela está, definitivamente, preocupada. Mas preocupada com o que? Ao fim de um tempo, Kugisaki apenas acena com a cabeça antes de saírem andando pelos corredores quase vazios.

O caminho até a cafeteria mais próxima do colégio foi um total e incômodo silêncio que perdurou mesmo depois de começarem a rever suas matérias. Em poucos instantes trocaram algumas palavras sobre dúvidas para logo retornarem à falta total de diálogo. Observando que ela parece muito distante das anotações que está fazendo, Yuji não deixa de se sentir de lado mais uma vez.

— Por que tá me encarando do nada? — Nobara pergunta sem levantar os olhos do caderno.

— Não é nada, só estou pensando. — Ele dá de ombros, e Kugisaki volta a não dizer nada. Yuji suspira deixando a lapiseira de lado. — Não sabia que ele estava trabalhando.