Capítulo 21 - Me abrace

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Megumi verifica as horas na tela do celular. Ele puxa o capuz da blusa por cima da cabeça, estremecendo com a brisa congelante que sopra. Está tarde, mas só precisaria esperar um pouco mais.

Uma parte de si está arrependida de não ter pensado direito ao encontrar Mahito por acaso pela segunda vez. Não deveria ter aceitado comprar aquelas coisas. Porém, ao mesmo tempo, outro lado dele grita por uma ajuda que somente essa decisão turva poderia conceder. A mente está terrivelmente exausta, de maneira que nem o trabalho pesado no novo emprego tem sido o bastante para fazê-lo se cansar e dormir o suficiente.

Essa não é a saída mais sábia, e ele reconhece, porém, o que poderia fazer?

Todo dia tem sido a mesma coisa.

A mesma angústia amplificando a insônia que tem o atormentado há dias. E se acabasse enlouquecendo de vez? No fundo, sente medo do que pode encontrar quando encontrar seus limites não muito distantes.

O display do celular apaga após o tempo em desuso, chamando sua atenção para o reflexo o encarando de volta durante um segundo inteiro, mas ele logo desvia o olhar, incomodado. As olheiras estão cada vez piores, expondo aos poucos o estado de espírito desgastado demais. Há quanto tempo está fugindo do espelho com tanto afinco?

Megumi fecha os olhos e suspira, tentando aquietar a mente. Encosta-se na parede fitando um poste solitário. Tinha marcado de encontrar Mahito perto da estação de trem, que neste horário e canto específico é, surpreendentemente mais vazio. Não muito depois, percebe a aproximação de um carro escuro suspeito. Algo está estranho, pois sabe bem que o tal cara cheio de cicatrizes viria a pé.

O mundo ao seu redor parece silenciar quando o homem de cabelos rosáceos salta do veículo e o par de olhos castanho-avermelhados fixam nos seus feito imãs. Imediatamente, o coração dispara no peito e o jovem fica consciente demais do ar sendo aprisionado nos pulmões. Um instinto estranho toma conta de Megumi, obrigando-o a dar um passo para trás, pronto para correr. Não está preparado ainda. O que ele está fazendo ali?

O homem rodea o carro, veloz, após bater a porta. As sobrancelhas franzidas em seriedade o assustam ainda mais. Não era para ser assim. Megumi gira nos calcanhares, começando a andar rápido para qualquer lugar o mais longe possível dele.

Mal saiu do lugar e uma mão grande agarrou seu pulso, impedindo-o se fugir.

O silêncio entre ambos é tão severo que Megumi é capaz de ouvir o próprio coração, quase abrindo um buraco no peito de tão acelerado. Sente um frio na barriga terrível, quase como se tivesse medo de sustentar aquele olhar outra vez.

— Achei. — O tom de voz grave faz o jovem Fushiguro estremecer de nervoso. — Achei você.

— Solta.

— Não. — Sukuna rosna. É óbvio que ele sabe o porquê de estar ali a esta hora. Longos segundos se passam novamente, o mundo todo já desapareceu há muito tempo.

— ...O que tá fazendo aqui?

Sukuna deixa escapar um riso sem traço de humor. Claramente está irritado e não parece disposto a fingir que não.

— Vim entregar seu pedido. O que mais poderia estar fazendo? — Sukuna vocifera.

— Não sei do que você tá falando.

Ryomen o puxa pelo braço bruscamente, encostando-o contra a parede no pequeno espaço longe dos poucos olhares alheios. As írises castanho-avermelhadas faíscam tentando encontrar o mar gélido e azulado no outro, mas Megumi não o encarou de volta. As mãos frias agarrando o pulso enorme do tatuado próximo demais, prendendo sua jaqueta entre os dedos fortes.

Acordes cruéis e Cinzas ao ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora