O pavilhão está quieto como sempre. Alguns homens passam ocupados com suas próprias tarefas e as folhas nas árvores farfalham como sempre. Seria um local muito agradável para se viver, não fosse a atmosfera que sempre o cerca, emergindo dos líderes e assombrando a todos os associados. Toji caminha com a habitual expressão de tédio pelo corredor externo, desde que o coagiram a ir até ali, não teve um mero minuto de paz e não seria exagero dizer que estavam jogando para ele o máximo de trabalhos sujos possíveis, bando de malditos, tratando como um cão alguém que devia ser da família — ainda que preferisse jamais ser considerado um deles na vida.
A porta de correr é aberta de súbito antes que tivesse a chance de fazê-lo. Um par de olhos irritantemente cerrados o encaram com um sorriso presunçoso nascendo logo após. Toji não consegue conter a carranca de desgosto ao encontrá-lo no único lugar onde não ousaria ameaçá-lo diretamente.
— Mas que surpresa. — Até a voz do outro o incomoda. — Decidiu arcar com as consequências?
— Naoya. — Toji franze o cenho com o cumprimento mais frio e evasivo que poderia ter. A expressão desinteressada faz o outro rir.
— Continua um homem de poucas palavras. — Naoya dá de ombros, olhando para os lados do corredor externo assim que sai da sala. — E onde está meu primo? A última vez que o vi era como um filhotinho feio.
Toji respira fundo. Decidido a ignorá-lo apenas dá as costas e passa pela porta, fechando-a logo em seguida ainda podendo ver o homem irritante sorrindo venenoso em sua direção. Ele se vira ao endireitar os ombros e caminha até o centro do cômodo para se sentar sobre o tatame de frente para o homem de cabelos grisalhos perfeitamente penteados para trás, que permanece imóvel e silencioso como uma estátua. A expressão severa é desconcertante em conjunto com o olhar afiado e sinistro. Ele veste um kimono preto e hakama cinza, ao seu lado está uma katana numa bainha escura sendo o único objeto no cômodo médio.
— Mandou me chamar, Naobito. — Toji é o primeiro a dizer algo, não questionando, mas afirmando. A postura firme e o queixo erguido só fazem causar alguma irritação no mais velho. — Mais uma vez no mesmo dia.
— Não é do meu interesse a forma que fala com meu filho. — O outro diz, a voz cortante num tom de ameaça. — Mas se não tomar cuidado com a língua na minha presença, vou arrancá-la e jogá-la para os cães.
O Fushiguro franze o cenho, enfrentando o homem sem dizer qualquer coisa. Se fosse para dizer com todas as letras, está realmente pouco se fodendo para as ameaças vindas daquele lugar, já havia montado uma reserva para os filhos e deixado quem cuidasse de ambos, sendo assim, pouco importa partir dessa para melhor à essa altura.
— Além disso, até onde sabemos, você assumiu o fardo daquele bastardo. Não tem direito de reclamar de suas obrigações agora. — Naobito é ríspido. — Se eu der uma ordem, você não tem escolha que não seja acatar.
— ... É claro. — A verdadeira vontade de Toji não é nada mais do que fazer o homem engolir o que disse.
— Os Zenin não estão envolvidos com qualquer tipo de comércio de drogas e nem estarão. — O velho começa. — Mas parece que temos um idiota agindo no nosso território, isso é uma questão de ordem. Ache-o e dê um fim nele.
— Mais alguma coisa sobre isso, vossa alteza? — Fushiguro indaga, sem controlar o próprio sarcasmo.
Em resposta, leva meio segundo para que Naobito, apesar do que a idade sugere, tenha sacado a espada e num único movimento esteja com a lâmina rente ao pescoço do Fushiguro. Com o menor esforço o mataria, mas apesar do ato, Toji não muda a postura e nem ao menos treme. O olhar entediado vai da katana para o líder Zenin que tem uma expressão séria. Antes de dizer qualquer coisa, a extremidade pontiaguda passa certeira pelos lábios de Toji, abrindo um corte preciso antes de embainhar a lâmina outra vez, com a disciplina de um mestre. O Fushiguro grunhi com o golpe e, apesar da dor dilacerante e o sangue pingando pela camisa, ele se recusa a demonstrar alguma coisa.
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Acordes cruéis e Cinzas ao vento
FanficPerto de completar seus 18 anos e encerrar o colegial, Megumi Fushiguro nunca realmente parou para pensar sobre o tipo de pessoa o qual se interessa, mas muita coisa pode mudar depois de um momento decisivo de descontração com os amigos. Convidado p...