Capítulo 19 - A angústia de cada um

441 45 57
                                    

Suguru Geto encara o amigo distante do restante da banda.

Sukuna já tinha aprontado seus amplificadores e regulado a pedaleira e, após afinar a fiel SG vermelho-sangue, se isolou para fumar. Suguru está bastante intrigado, mesmo depois de o guitarrista aparentar ter entendido e aceitado seus conselhos, continua parecendo muito nervoso com a questão do tal amigo.

O famoso demônio da banda parece ter ficado ainda mais ranzinza do que de costume, a ponto de Geto se sentir apreensivo com a apresentação que logo começaria. Apesar dos ensaios dos últimos dois dias terem sido impecáveis, e se ele ainda estivesse com a cabeça nas nuvens?

— Cadê ele? — Todo se aproxima do baixista com as mãos nos bolsos.

— Ainda tá lá. — Geto suspira. — Acha que aconteceu algo pior?

— Não faço ideia, ele não conversa muito comigo. — Todo dá de ombros. — Mas não vou mentir, estou ficando preocupado. Talvez seja um assunto de família.

— Por que acha isso? — Indaga, arqueando a sobrancelha em curiosidade, afinal, não disse a ninguém as coisas cedidas por Sukuna duas noites antes.

— Ontem liguei para o Yuji, queria saber se viria assistir. — Começa com um suspiro. — Ele disse que não poderia por causa de umas coisas. Só pela voz parecia bem sério.

Sério? Geto volta seu olhar para o guitarrista isolado, distante deles. Poderia ter algo a ver? Não, é claro, não faz sentido, Sukuna mal anda com seu irmão, como poderiam ter o mesmo círculo de convivência? Muito além disso, sabe bem sobre Ryomen não ter laços familiares com ninguém além de Yuji e se o não houve nada com o mais novo, é improvável demais se tratar de um assunto familiar.


Alheio a tudo, Sukuna traga seu cigarro outra vez, alcançando a metade do terceiro desde que chegaram ao local da batalha. O olhar entediado acompanha as poucas pessoas da equipe técnica correndo de um lado para o outro, fazendo testes de iluminação, efeitos e algumas câmeras. Ele sopra a fumaça, imóvel.

Na tarde passada, o bar enorme, onde aconteceriam as batalhas, teve um incêndio onde estavam armazenadas várias caixas de destilados. Por sorte, o fogo foi controlado a tempo de impedir uma perda total, mas ficou interditado. Surpreendentemente, o dono do bar e organizador do evento não pretendia desistir de jeito nenhum, o que resultou em uma mudança brusca de local para um estacionamento à céu aberto onde são esperadas o dobro de espectadores, uma vez que decidiu reduzir o valor dos ingressos visando aumentar as vendas.

Apesar deste ser um momento importante, contando inclusive com jurados conhecidos underground a dentro, Sukuna sente um absoluto e monstruoso nada. Quando Nobara lhe disse aquelas coisas, ele insistiu bem mais nas ligações para Megumi e não obteve o menor retorno. Sempre chamava até cair.

Ryomen mal dormiu esta noite, não só estava cada vez mais aflito por causa de Megumi como também tinha resolvido recomeçar a busca por Jin, seu progenitor, envolvendo seus subordinados, inclusive. Não se esqueceu de tê-lo visto de relance no distrito vermelho enquanto saía atrás da fera muitos dias antes, somente levou tempo demais para chegar à conclusão de encontrá-lo.

Nervoso, desiste do cigarro com um resmungo. Esteve fazendo muitas escolhas complicadas e, honestamente, queria largar tudo de lado e ir até o inferno atrás do Fushiguro, mas como poderia? A Paradise precisa dele mais do que nunca, quase sente remorso por ter escolhido estar aqui agora. Embora Megumi não tenha saído de sua mente nem por um momento, não poderia se esquecer de tudo o que precisou fazer pela banda até este instante. Como jogar tudo fora de uma hora para outra?

Acordes cruéis e Cinzas ao ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora