Capítulo 16 - A amizade e o porto seguro

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Toji sopra a fumaça de seu terceiro cigarro, sentado na poltrona da sala com uma carranca séria. O olhar fixo nos vários quadros da parede oposta. A casa está um silêncio incômodo sem Megumi não está andando de um lado para o outro se arrumando para a aula ou reclamando das cinzas pelo tapete. "Dormiu na casa de um amigo". O peito aperta ao perceber a expansão do abismo entre ambos, tornando-o bem maior do que antes, e tudo por causa da mulher se trocando no seu quarto neste exato instante. Maldito trabalho. Malditos Zenins.

Passos ecoam pelos degraus enquanto a mulher desce ajeitando o cabelo e a pequena bolsa nos ombros. Ela sequer faz o seu tipo, mas não é como se tivesse alguma escolha, afinal. A mulher sorri antes de sentar sobre seu colo, tomando o cigarro de suas mãos como se tivessem intimidade. Toji permanece sério.

— Você é infinitamente melhor que meus últimos amantes. — Sorri. — Se não tivesse um filho, aceitaria até um pedido de casamento.

Toji se controla para perder o controle. Detesta o jeito que ela fala sobre seu filho e detesta mais ainda não poder cortar laços antes de conseguir o que quer. Sua maior vontade é jogá-la para fora da casa.

— Não pretendo me casar de novo. — Se limita a resmungar, pegando seu cigarro de volta dela tragar.

A mulher suspira encarando a aliança dourada no dedo dele. Talvez conseguisse ao menos se livrar daquela coisa se o deixasse fora de si o bastante e, com a ideia em mente, um sorriso ladino brota nos lábios rubros.

— O que me diz de sairmos na sexta à noite. — Sugere. — Ouvi dizer que um cara com os melhores produtos da região vai estar no distrito vermelho com alguns figurões. Posso conseguir algo para tentarmos algo diferente.

Toji nunca ousou e nem pretende usar coisas que não fossem os amados cigarros ou álcool, mas ela não precisa saber. Ele apenas sopra a fumaça para o lado sem deixar de encarar a mulher que aguarda por uma resposta.

— Acho uma ótima ideia. — Diz, vendo-a morder a isca.

Só existe uma pessoa sem noção ou esperta o suficiente para vender drogas numa área da Yakuza assim e é justamente aquele quem está procurando. Se livraria dele e da mulher irritante sobre seu colo em uma única cartada, só precisaria suportar um pouco mais e, sinceramente, espera que isso não o afaste ainda mais do filho.

Filho este que aparece no instante em que é beijado mais uma vez, recusando-se a fechar os olhos. Não tem qualquer prazer nisso e só consegue se sentir ainda pior ao ver Megumi revirar os olhos e sumir de vista na direção do quarto.


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Megumi observa o nada do alto do terraço da escola. Está realmente frio, mas isso não o incomoda nem um pouco. Tinha perdido a primeira aula do dia por ter acordado atrasado sabendo que ainda precisava passar em casa antes de ir até o colégio, e teria demorado ainda mais se Sukuna não tivesse ignorado todos os seus protestos e cedido uma carona até o templo Akirain, como da primeira vez.

Apesar da madrugada relativamente intensa, não falaram sobre o que aconteceu, ainda que o contato visual entre ambos pareça ter tido milhares de significados. Ele não faz ideia de quando Sukuna retornou após terem sido interrompidos. Já estava dormindo, e quando acordou o encontrou preparando o café da manhã.

— Sabia que estaria aqui! — A voz animada de Yuji anuncia sua chegada ao passar pela porta sozinho. Um imenso sorriso ilumina seu rosto. — A fila no refeitório tá enorme então a Nobara ficou lá pra pegar alguma besteira.

Acordes cruéis e Cinzas ao ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora