Capítulo 35

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Filipe 🃏

Só neurose na cabeça e droga no corpo, papo reto.

Cinco dias que eu tinha falado que ia dar espaço pra Alana. Cinco dias que eu não tirava o olho da porra do rastreador que eu tinha no meu celular.

Cinco dias que eu não trabalhava. Não treinava. E quando tentei comer uma mulher, falhei. Pô, que bruxaria ela tinha feito? Isso nunca tinha acontecido!

Cinco dias que eu só pensava nela. E cinco dias que eu tava só observando os mané se aproximando.

Até fui pro desenrolo com o Salvador dia desses, mas ele falou várias parada no meu ouvido, que eu nunca ia conseguir ficar com a Alana daquela forma, sendo possessivo e ciumento. Pô, tava nem ligando, tinha achado mesmo que ele tava na maldade, mas depois vi que tava vacilando... e que ele só tava protegendo a minha criancinha, e que a relação deles era só na amizade mesmo.

Em compensação, o Deco não dava ponto sem nó. Parada maluca. Aquele cara só podia ser apaixonado por mim, e tentava a todo custo me pegar por tabela, tinha nem outra opção. Eu tava só observando ele cercando a Alana a dias, mas fiquei de longe, sem me meter. Quando a parada ficava louca, e eu tava a um ponto de surtar e ir pra cima do filho da puta, o Salvador, o Rato ou o D2 se metiam e colocavam o arrombado no lugar dele.

Mas a parada que tava me deixando malucão era o FK. O Deco eu sabia que era por implicância, pra me estressar. Mas o FK tava próximo pra caralho da Alana, usando o papinho de que tinha que treinar ela para as paradas do morro, só pra ter a oportunidade de se aproveitar. E quando eu falava dele, ninguém me dava moral. Nem o D2, nem o Salvador e muito menos o Rato... porque diferente do Deco, eles gostavam do cara. A Alana também gostava, e tava me estressando ver ela mal o tempo inteiro, e ver ela bem só quando ficava com ele.

Eu via ela andando com a Laura, pra cima e pra baixo, comprando as coisas do sobrinho. Vi a felicidade da Alana quando descobriram que o bebê que viria era um molequinho.

Eu via ela saindo com o D2 pra treinar, e pô, tava virando a minha pilota de fuga, irmão. Maior orgulho.

Eu até peguei ela indo na casa da minha mãe umas duas vezes, Rato não me contou o que elas conversavam, mas tava vendo que a relação das duas tava maneira, e ia além de qualquer coisa comigo, a parada era entre elas.

A coroa tava preocupadona comigo, e vinha todo dia me ver depois do trampo. Tipo agora, quando ela abriu a porta e eu tava jogadão no meu sofá, terminando de queimar o meu baseado.

Ela logo fez careta pro cheiro, e foi abrir a janela da sala, que não tinha sido aberta hoje ainda.

Viviane: Você quer morrer asfixiado? - perguntou, sentando do meu lado no sofá - Você tá bem?

Ret: Zero bala - respondi, sem olhar pra ela - Alana foi te ver hoje?

Viviane: Você viu isso no rastreador que tem no celular? Ou ficou atrás da menina o dia inteiro?

Ret: Tá achando que eu sou maluco? - perguntei, soltando uma risada.

Eu era maluco mesmo.

Viviane: Filho - me chamou, fazendo com que eu olhasse pra ela - Por que você não faz o negócio direto? Conquista a Alana fazendo o certo, Filipe.

Ret: Eu tô tentando, mãe. Eu tô tentando - respirei fundo - Uma vida sendo assim, pô, do meu jeito. Não é tão fácil.

Viviane: Mas você quer mudar?

Ret: Eu quero a criança. Só isso.

Viviane: Então muda. Faz por merecer - eu fechei os olhos - Começa apagando essa coisa de rastreador que você tem no celular, que coisinha ridícula!

Ret: É pra proteção.

Viviane: O Raul tem o rastreador da Alana no computador, não vem com essa de que é pra proteção.

Eu resmunguei, mas peguei o meu celular e dei uma última checada, vendo que a Alana estava em casa, e apaguei o aplicativo.

Ret: Apaguei. Ela ainda não tá comigo.

Viviane: É um processo, Filipe. Para de ser rabugento - reclamou - Já perguntou como ela está, desde que vocês terminaram?

Ret: Não. Mas vou perguntar pro FK, ele tá sabendo legal.

Viviane: Isso, fica fazendo esse tipo de piadinha que se a Alana escuta é mais certeza ainda que você nunca mais vai ter ela.

Ret: Eu vou ter sim, qual foi?! - fechei a cara.

Viviane: Vai tomar um banho. Se arrumar. E vai chamar a Alana pra sair... sei lá, fazer alguma coisa que vocês gostem, que vai ser legal.

Transar e fumar. Essa era a nossa parada. Sempre foi.

Ret: Não preciso me arrumar.

Viviane: Fazer diferente... qual parte você não entendeu? Não é pra trazer a Alana pra cá, falar do roubo, do assalto, dar um surto de ciúme e depois vocês brigarem, ou sei lá. Leva ela pra jantar em algum lugar legal, leva ela no cinema, ou pra dar um passeio na praia.

Ret: Alana nem gosta dessas paradas, tu tá viajando.

Viviane: Alguma vez você tentou? - perguntou - Alana é uma menina vivendo o primeiro amor...

Eu interrompi ela.

Ret: O único, pô.

Viviane: Não vai ser se você continuar sentado no sofá fazendo tudo errado. FK tá aí né.

Ret: Ou, mãe. Sou teu filho, tu não pode ficar falando essas paradas não.

Viviane: Vai se arrumar e chamar ela pra sair.

Ret: Chatona.

Viviane: Depois você me agradece.

Mesmo contrariado eu me levantei e fui pro meu banho. Fiz a barba, fiquei trajadão e ainda dei um pulo na barbearia da esquina, pra deixar o cabelinho na régua.

Depois de todo o esforço eu fui até a casa da Alana, minha mãe já tinha piado pra casa dela. Quem abriu a porta foi a Laura, que sorriu quando me viu.

Ret: Minha criança tá aí? - perguntei, coçando a nuca.

Laura: Alana - gritou.

Deu um minuto e a Alana apareceu, enrolada no cobertor, com o celular na mão, e os olhos quase fechados. Eu vi ela trocar o peso do corpo de uma perna pra outra, quando me viu, e engolir seco.

Eu ia falar: "Se arruma"... mas a parada era diferente. Tinha que ser diferente.

Ret: Oi, criança. Tu tá bem? - Laura olhou de mim pra Alana duas vezes, como se estivesse assistindo um filme - Quer sair comigo?

Lado a LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora