Capítulo 60

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Alana 🥀

Quando aconteceu, eu estava no corre, trabalhando com os moleques. O Deco apareceu, dizendo que o Grego tinha me chamado, porque queria falar comigo. Eu não estranhei. Era bem comum o Grego conversar comigo ou com qualquer outra pessoa do movimento.

Só estranhei mesmo quando ele me acompanhou até a tal salinha onde "o grego estaria me esperando". Falei que sabia o caminho, que sabia andar sozinha, e até comecei a pensar que eu tivesse feito alguma besteira, e fosse ser cobrada por isso. Mas quando chegamos na sala, o Deco me empurrou pra dentro e fechou a porta, eu vi que não tinha nenhum sinal do Grego em lugar algum.

No caminho, as pessoas que passavam por nós dois olhavam, e estranhavam. Eu não fazia nenhum corre com o Deco, pra evitar b.o com o Filipe, e mesmo que a gente estivesse brigando muito nas últimas semanas, eu não queria dar motivos pra ele desconfiar de mim e acabar com o nosso namoro de uma forma pior ainda.

A verdade era que o Filipe estava me irritando. Olhar pra ele me irritava, falar com ele me irritava e eu reconheço que por muitas vezes, ele nem fazia nada. Os meus nervos estavam a flor da pele, e era raros os momentos que eu tinha de lucidez.

Eu perguntei ao Deco, onde estava o Grego e quando ele sorriu, trancando a porta eu saquei que era uma cilada. Tentei lutar contra, e até consegui chutar o saco dele, mas no meio da luta, tentando fugir, a minha pressão caiu e o Deco se aproveitou da situação pra me fazer apagar, me obrigando a tomar algum líquido dentro de uma garrafa.

Boa noite Cinderela, provavelmente. Porque eu só acordei um tempo depois, no postinho.

Fiquei apagada durante todo o momento do abuso, então a humilhação, a dor e a vergonha só se tornaram reais quando eu acordei.

A Dani esteve do meu lado durante o tempo inteiro, desde os exames, até me ajudando a tomar banho e trocar de roupa. E até mesmo quando a notícia caiu feito uma bomba, no meu colo.

Uma criança. Como se já não houvessem motivos o suficiente pra eu me preocupar, agora tinha mais um.

Danielle me disse que quem me achou foi o Gabriel, e que ele estava do lado de fora me esperando. Ela foi falar com ele, mas quando a porta foi aberta, quem entrou foi o Filipe.

Ele me encarou, e eu desviei o olhar, mirando a minha visão somente na parede.

Senti ele se aproximando a passos lentos, até que estivesse a um passo de distância da minha cama.

Ret: Alana - me chamou.

Respirei fundo, antes de encarar o seu rosto, e me arrependi no momento em que fiz isso.

Seus olhos estavam vermelhos, e cheios de lágrimas, mas ele segurou, sem derrubar nenhuma delas.

Alana: Oi.

Ret: Me desculpa. Me desculpa, pô. Eu não podia deixar isso ter acontecido. 

Alana: Do que você está falando?

Ret: Tu sabe.

Alana: Se for sobre o... - vi ele apertar os olhos, e nem terminei de falar o nome - Você não tinha como saber. Nem eu tinha. Eu tentei sair também, mas não consegui.

Ret: Me desculpa.

Alana: Só quero que você não desconfie nem por um momento do que aconteceu - olhei seria pra ele - Eu não estava acordada, Filipe. Nem sei o que houve.

Ret: Não vou desconfiar de ti - me garantiu - Não vou sair do teu lado nunca mais. Eu te prometo. Tu pode chutar a minha cara pra longe, mas eu não vou sair do teu lado.

Eu sorri fraquinho pra ele, que nem conseguiu retribuir.

Ainda era meio surreal que houvesse acontecido a violência mesmo. Por eu estar dormindo, e não ter nenhuma lembrança do ato na minha cabeça, eu simplesmente não conseguia acreditar. Mas os exames constataram, e as minhas roupas rasgadas, junto com o sangue que saiu da minha intimidade não me deixou ter dúvidas.

Alana: Vou parar de reclamar da sua superproteção - tentei brincar, pra aliviar o clima - Me desculpa por estar brigando com você o tempo inteiro.

Ret: A gente troca esse papo depois - ele se aproximou, abaixando o corpo, pra beijar a minha cabeça - Eu te amo pra caralho. Não quero te ver assim.

Dava pra ver em seus atos que ele tentava se manter no controle, sem surtar. Suas mãos fechavam e abriam o tempo inteiro, ele passava as mãos na nuca, no pescoço, no rosto e no cabelo, e sua expressão variava entre a dor e o nervosismo.

Alana: Você já sabe sobre o... - eu fiz uma careta, procurando a melhor forma de dizer - Sobre a criança?

O Filipe ajeitou a postura, afastando o corpo do meu, e concordou com a cabeça, desviando o olhar.

Ret: A Danielle falou.

Alana: O que você acha sobre isso?

Era meio maluco imaginar que tinha uma criança dentro da minha barriga. Mó sensação estranha.

Ret: Não quero te magoar.

Alana: Você não vai - respirei fundo - Eu não sei se quero. Sabe? Adoro ser tia, ser madrinha, mas... ser mãe? Eu, mãe? Eu não sei. Não me sinto mãe. Não me vejo mãe. Isso me assusta. Tem uma coisinha crescendo dentro de mim. É muito apavorante.

Ret: Boto fé, amor. Não sei cuidar de criança. Não me dou bem com criança. Acho que eles cagam e choram demais e isso me deixa nervoso - ele voltou a se aproximar de mim, encostando a testa na minha - E ainda tem o Grego, olha o que aconteceu com a Malu... eu ia morrer se acontecesse uma parada dessas contigo. Não ia dar certo. Eu não ia conseguir.

Eu concordei com a cabeça.

Alana: Acho que não quero - fui sincera - Não quero ser mãe. Não quero que ninguém saiba disso. Da criança, e do que aconteceu também.

Ret: Vou ficar do teu lado, independente do que tu quiser. Mas se a tua escolha for ter a criança, eu não vou conseguir ser um pai. Porque só vacilo, não sei cuidar de ti, imagina de duas crianças. Não me amarro nessas paradas, mas não vou te deixar sozinha.

Alana: Você tá me dizendo que se eu quiser a criança, você não vai me deixar sozinha, mas não vai ficar comigo?

Ret: Eu não vou conseguir.

Alana: Eu não quero. Independente de você, e do que você quer. Eu não quero. Não me sinto confortável com isso.

O Filipe concordou com a cabeça.

Ret: Quando tu sair daqui, a gente resolve isso.

Lado a LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora