Capítulo 67

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Dia seguinte

Filipe 🃏

Ver minha coroa entrando na fila imensa foi a única parada que fez o meu coração se acalmar. Tá ligado naquele papo que dizem que quando tu cai, é só ela que tu tem? Pura verdade.

Eu sabia que Alana queria vir, do mesmo jeito que os meus parceiros, mas a ficha deles era mais suja que a minha, se duvidasse, então no fim das contas, era só eu e minha mãe mesmo.

Ela me abraçou apertado, me entregou várias parada pra comer e outras coisas que ela sabia que eu ia precisar, enquanto pediu pra eu contar tudo o que tinha acontecido com detalhes.

Ret: Ela tá bem? - perguntei, começando a comer o rango maneiro que ela tinha trazido pra mim.

Viviane: Elas estão. Estamos cuidando delas.

Eu concordei com a cabeça, e desviei o olhar. Ela só estava me analisando, e isso me deixava nervoso.

Ret: Ela pediu pra tu me falar alguma parada?

Viviane: Não, filho. Ela só chorou muito, e pediu pra eu te entregar isso.

Eu larguei o pode de comida, e peguei a foto da minha mão. Foto estranha. Mas dava pra ver um pouco da sombra da criança na barriga da minha criança.

Ret: Sonhei com ela, essa noite - senti os olhos da minha mãe me encarando, mas eu não tive coragem de retribuir - A Alana quer ficar com ela, não quer?

Ela suspirou, e puxou a minha mão, entrelaçando os nossos dedos.

Viviane: Eu sei que esse assunto sempre mexeu muito com você, e não de um jeito bom. Mas, filho, você é pai agora. Eu sei que você ama a Alana, e que ela te ama também, mas agora tem uma criança no meio de vocês dois e por mais difícil que seja, vocês precisam aceitar. Poxa, se não queriam correr esse risco, deveriam ter se cuidado mais.

Ret: A Alana vive esquecendo aquele caralho de remédio - bufei.

Viviane: E a camisinha, meu amor? A mamãe nunca falou com você na adolescência? - debochou.

Ret: Eu nem te ouvi. Tu tá ligada que antes de tu falar eu já tinha traçado várias novinha.

Viviane: Eu tô muito feliz que eu vou ser avó de uma princesa, você sabe que esse é o meu sonho. Cuidar de uma menina - ela ignorou completamente o que eu falei.

Ret: Tu vai ser mó chata, né. Vai fazer a garota de boneca - neguei com a cabeça, marolando na ideia.

Viviane: Sim, eu vou ser insuportável mesmo. Vou cuidar da minha princesinha muito melhor do que eu cuidei de vocês. Tenho outra cabeça agora, outra maturidade. E vó é vó, né?!

Ret: Não sei, nunca tive - dei de ombros e ela rolou os olhos, fechando o sorrisinho que tinha na cara.

Viviane: O que você sonhou?

Eu ignorei a pergunta dela, mas seus olhos insuportáveis não saíram de cima de mim, e eu fui obrigado a falar.

Ret: Ela é folgadona, pô - fechei a cara, cruzando os braços.

Viviane: Tua filha. Filha da Alana. Sobrinha do Raul e do Daniel. Tinha como ser diferente?!

Ret: Nem tinha, né - eu dei uma risadinha - Boto fé que a Alana vai conseguir. Aquela garota consegue tudo o que quer. Mas não sei se eu consigo. Sou bandido.

Viviane: Vou te falar a mesma coisa que eu falei pra Alana. Vocês vivem uma vida maluca, Filipe. Olha onde você se meteu pela segunda vez na sua vida. Eu espero que essa menina venha pra trazer um pouco de equilíbrio pra vocês, um pouco de paz.

Ret: Bandido não tem paz, mãe.

Viviane: Não é porque você não teve até agora, que ela não vai chegar. Tem gente que encontra paz no amor, tipo o Raul com a Dani, o Daniel com a Laura, mas você e a Alana são iguais, então a minha esperança é que essa mini encrenqueira dê a vocês o que tanto precisam - ela respirou fundo, e pegou a foto da minha mão, olhando pra ela mais uma vez - Se eu puder te pedir alguma coisa, um pedido de mãe mesmo, eu vou te pedir pra tentar. Usa o seu tempo aqui dentro pra pensar. Não vou te pedir pra sair do crime, eu fiz isso da outra vez e não deu certo, mas por favor, faz diferente com essa criança. Você cresceu sabendo como é a rejeição, sabendo como é a falta de um pai. Desejas isso pra alguém?

Ret: Eu me virei sozinho.

Viviane: Vai se foder. Eu sou o que?

Eu sorri pra ela.

Ret: Tu é foda, mãe. Desculpa não ser o filho que tu queria.

Viviane: Tu é o filho que eu queria. Para com isso - ela desviou o olhar, e eu vi seus olhos enchendo de lágrimas - Olha só, tudo o que você está me falando. Daqui a uns dezesseis anos, pode ser sua filha falando isso pra mãe dela, sem nunca ter tido você por perto. Essa raiva, que você nutre pelo seu pai, pode ser a menina nutrindo por você. É isso mesmo que irás deixar acontecer?

Ret: Tu tá pesando na minha mente, dona Viviane.

Viviane: Aqui dentro você tem tempo pra pensar. Pensa nisso.

Eu concordei com a cabeça. As palavras dela faziam todo sentido, mas me assustavam pra caralho.

A gente mudou de assunto. E eu logo voltei a comer, com a minha mãe contando várias paradas de como estava a Alana, meu irmão, e meus parceiros. Me deixou aliviado saber que eles estavam sendo um fechamento maneiro pra ela. Muito melhor do que eu estava sendo lá fora. Pra ela e pra neném, na verdade.

Eu realmente tinha escolhido a tropa certa pra fechar comigo.

Lado a LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora