Capítulo 36. "I don't want you to say a single word" (The Pussycat Dolls)

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Minha inconsciência se tornava cada vez mais longínqua, consequentemente emergindo meu estado consciente. Meus olhos queimavam antes mesmo de entrar em contato com a claridade matinal.

Eu quis me mover, mas meus membros pareciam bem mais pesados do que eu era capaz de suportar. Consegui, com muito esforço, erguer minhas pálpebras.

A luz invadiu meus olhos sem hesitar, contraindo minhas pupilas e criando bolsas d'água em minha pálpebra inferior. Encarei o teto branquíssimo até minha visão entrar em foco, então tentei erguer minha cabeça, sem muito sucesso.

Apoiei os cotovelos na cama e arqueei parte do meu corpo, contrariando minha vontade de apenas me encolher e retomar o sono. Um frio percorreu minha espinha quando olhei para o lado e reconheci Jungkook, deitado de bruços com as costas expostas.

Estremeci imediatamente.

O que ele estava fazendo ali? Ou como eu vim parar em seu quarto?

Meus poros se eriçaram violentamente, outro espasmo estourou em minha espinha e eu apertei os olhos. Minha saliva estava mais amarga do que o comum, notei a caminho do banheiro, quando eu já não conseguia mais tragá-la.

Respirei fundo algumas vezes, tentando engolir o nó que havia se centralizado em minha garganta, mas nada funcionou. Um arroto trouxe tudo de volta, toda a bebida que eu havia ingerido na noite passada. Meu estômago parecia dar voltas inteiras, rápida e frequentemente.

Apoiei uma das minhas mãos na parede e entreabri meus lábios, foi o suficiente. O odor do álcool pairava pelo ar a cada fluxo que retornava pelo meu estômago, arranhando minha garganta. Meus dedos pressionados contra a parede para tentar me manter em pé, o que se tornou inútil com o passar do tempo.

Sentada no chão, com a testa encostada na borda do vaso, eu tentava me recordar de alguma coisa coerente da noite anterior. Quantos copos de destilado eu havia ingerido para estar daquele jeito, seria um bom começo.

A única certeza que eu tinha, por hora, era que eu deveria me levantar e sair dali o mais rápido que eu conseguisse. Eu não fazia idéia do que havia se passado, e ao mesmo tempo eu não estava certa de que realmente queria saber.

Meu cérebro enviava comandos para minhas pernas, pra que elas se firmassem, mas elas pareciam ignorá-los, cansadas e trêmulas demais pra qualquer movimento. Ajoelhei-me e dei descarga mais uma vez, depois me levantei, apoiada na pia.

Peguei o enxaguante bucal e lavei minha boca com ele algumas vezes, a náusea aliviou 10% com isso. Lavei meu rosto, sentindo a tontura diminuir minimamente. Eu parecia derrotada... Eu estava derrotada.

Respirei fundo e examinei meu rosto, sentindo as gotas percorrerem pela minha pele. Olheiras enormes, olhos morteiros e avermelhados, maquiagem borrada... Completamente diferente do que eu costumava acordar. Juntei meu cabelo, embaraçado, e enrolei-o num coque mal feito.

Então veio o grande choque do dia, vários choques, na verdade, posicionados em meu pescoço. Dei um passo pra trás e fechei os olhos, como se isso fosse mudar qualquer coisa. A ânsia, até então estável, retornou com intensidade e não consegui chegar a tempo no vaso, devolvendo mais líquido dentro da pia, agarrada à borda de mármore da bancada.

Não havia mais nada a vomitar, entretanto, a náusea parecia cada vez mais presente. Enxaguei meu rosto mais uma vez e o enxuguei rapidamente. Eu não queria ter que olhar para o espelho novamente, eu não queria ver aquelas marcas outra vez, as marcas da noite anterior.

Mas lá estava eu, encarando meu reflexo, meu pescoço sugado. Estremeci, dedilhando os hematomas arroxeados e, de repente, as lágrimas umedeceram meus olhos.

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