Capítulo 42. "But Angie, Angie, ain't it good to be alive?" (The Rolling Stones)

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Diferente dos meus últimos sábados, acordei mais cedo naquele. Eu ainda estava bastante sonolento enquanto tomava banho e escolhia uma roupa para ir até Londres com Angie. De um dia pro outro, eu parecia um pouco intimidado a fazer esta viagem. Na verdade, eu estava sem vontade.

Eu queria ficar e dar um jeito de ver Lisa, mesmo que fosse apenas para assisti-la me ignorar completamente. Não adiantava ficar me crucificando por querer ficar com ela, tê-la de volta, e também não adiantava negar ou sublimar meu desejo.

Ele estava ali, talvez com um pouco menos de evidência, importância, mas vivo.

Calcei meu tênis e peguei meu moletom que estava pendurado no encosto da cadeira. Eu estava com tanto sono que ainda não tinha certeza se estava mesmo acordado quando ouvi a buzina do carro de Angie.

Mamãe e Jisoo já tinham saído, apenas deixei um bilhete caso elas não se lembrassem de que eu tinha avisado onde estaria, e depois saí.

- Pronto para passar um dia comigo? – Seu convite fedia à malícia, mas eu ignorei esse fato e sorri.

- Claro, vamos às compras, amiga – Tratei de fazer uma piada enquanto colocava meu óculos de sol, Angie deu risada e me empurrou de leve.

- Bobo.

Angie ergueu um pouco o som, The Rolling Stones. Era o que estava tocando desde que a conheci, todas as vezes. No carro, De vez em quando no pub. No caminho até lá, Angie me contou que seus pais haviam se conhecido em um show da banda, e que seu nome vinha de uma música deles.

Me contou sobre o amor de seus pais, e sobre como a ensinaram a gostar de Rock 'n' Roll, também me falou um pouco de sua infância, vivida na Irlanda.

Mas não me contou nada sobre como mudou-se para Londres, ou onde estavam seus pais agora. Sobre seus amores, desamores e amizades, que pareciam não existir. Sobre suas tatuagens, ou sobre uma, em especial, que eu ainda não conhecia.

Eu não fiquei perguntando, ao contrário dela, que achava que ainda havia algo sobre mim que ela não sabia, estava certa, eu apenas havia contado coisas irrelevantes. Sempre tive esse costume, e por isso consegui facilmente convencê-la de que sabia tudo sobre mim.

- Você já teve algum outro negócio antes do Ducati? – perguntei, enquanto almoçávamos, interessado em saber um pouco mais sobre ela, quebrar um pouco daquela impressão misteriosa que ela causava.

- Sim, eu tive uma sorveteria na Irlanda – Respondeu sem pestanejar, contraí o cenho e não consegui controlar o riso – O que foi?

- É que não tem muito a ver com você, uma sorveteria... – Me expliquei, ainda rindo um pouco – É engraçado te imaginar vendendo casquinha pra crianças.

- Isso é porque eu detesto crianças – Respondeu subitamente, por algum motivo, a maneira como ela disse aquilo, me deixou um pouco hesitante.

- Por quê? – Ousei perguntar.

- Porque elas são chatas e vem pra atrapalhar a vida das pessoas, só.

5 horas depois e eu só queria me sentar e comer uma lasanha inteira, no mínimo.

Como é que mulheres tem tanta disposição pra comprar?

Eu achava que Angie seria diferente, mas começo a achar que nenhuma é. Afinal, aquelas coisas nem eram realmente para ela, era pra decoração, e mesmo assim ela escolhia como se fosse andar com tudo pendurado no corpo.

- Jk, eu vou entrar aqui nessa galeria, me espera ali no café da esquina pra comermos alguma coisa antes de ir – Agradeci a Deus, até consegui sorrir depois de tanto tempo mantendo minha cara de tédio.

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